Origem: Revista O Cristão – O Filho de Deus

A Pessoa do Filho

A Pessoa bendita, a vida e a obra de nosso Senhor Jesus Cristo na Terra são apresentadas nos quatro Evangelhos. A principal característica de Mateus é Sua apresentação como o Messias; em Marcos, como o Profeta e perfeito Servo de Deus; em Lucas, como o Filho do Homem; e em João, como o Filho de Deus. Em bela consonância com isto, a genealogia de nosso Senhor é traçada em Mateus até Davi e Abraão; é omitida em Marcos; é traçada até Adão em Lucas; e é também omitida em João, pois é óbvio que, como o Filho de Deus, Ele não tinha nenhuma. Ao mesmo tempo, em todos os quatro Evangelhos, outros títulos, nomes e características também são apresentados, mas o que foi dito acima é a característica marcante da Sua apresentação em cada um.

O Verbo encarnado 

No primeiro capítulo do Evangelho de João, as próprias glórias do eternamente bendito Filho de Deus são apresentadas de maneira mais marcante. O texto começa com a sublime afirmação: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.

O Verbo existia eternamente. O Verbo nunca teve um começo. No princípio, o Verbo já era, e o Verbo estava com Deus. A última parte nos apresenta uma personalidade distinta e, além disso, o Verbo era Deus, o que demonstra Sua divindade. Assim, neste versículo maravilhoso, temos diante de nós a eternidade, a personalidade e a divindade do Verbo – Suas glórias antes da criação e que permanecem eternamente. Como outro de maneira bela escreveu sobre Ele, “Ele é, e é a expressão de toda a mente que subsiste em Deus – ‘o Verbo’”.

O Espírito Santo acrescenta enfaticamente: “Ele estava no princípio com Deus”, guardando cuidadosamente Sua personalidade distinta na eternidade, antes da criação e do tempo.

E este maravilhoso Ser divino, o Verbo, que estava com Deus e que era Deus, foi o Criador. “Todas as coisas foram feitas por Ele”. Foi Ele Quem falou e tudo se fez, Quem deu o comando e logo tudo existiu. Foi Ele Quem chamou o céu e a Terra à existência, que adornou o ilimitado céu com incontáveis miríades de poderosos corpos celestes, que disse: “Haja luz”; e houve luz; Quem revestiu a Terra com vegetação e deu vida a todos os seres viventes. Todas as coisas, visíveis e invisíveis, foram feitas por Ele. Toda criatura viva no céu ou na Terra, todo principado, poder e domínio, a inumerável companhia de anjos e toda a raça humana devem sua existência ao poderoso decreto da Palavra eterna. pois “sem Ele nada do que foi feito se fez”.

“N’Ele estava a vida”. Não estava em nenhum outro lugar. O Verbo, Deus, é sua eterna fonte e manancial. A vida sempre esteve n’Ele. “E a vida era a luz dos homens”. A vida foi revelada e manifestada aqui no mundo, “a luz dos homens”, como também vemos em 1 João 1:1-3: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada); O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com Seu Filho Jesus Cristo”.

A luz dos homens 

Os homens estavam aqui em trevas. O mundo estava sob o poder delas por meio da entrada e do domínio do pecado. Os homens, como criaturas caídas, tiveram sua mente e coração entenebrecidos. Mas a Luz apareceu. “E a vida era a luz dos homens”. O eternamente bendito Filho de Deus, andando aqui como Homem na Terra (à parte do pecado), Jesus, era a vida. O Espírito Santo passa da apresentação do Verbo na eternidade para Sua manifestação aqui, no tempo, entre os homens. Aquele em Quem a vida estava veio ao mundo.

A vida era a luz dos homens, e não de anjos. Mas, embora seja verdade que “a luz resplandece nas trevas”, e isso com esplendor moral sem nuvens, ainda assim as trevas eram tão densas que elas não compreenderam a Luz. Em vez de as trevas serem dissipadas pela luz resplandecente, elas permaneceram como estavam. O homem, como tal, estava completamente sob seu poder. As densas trevas cobriam o mundo, e não havia compreensão daquela luz maravilhosa.

João, um homem enviado por Deus, veio e prestou testemunho da luz para que todos os homens, por meio d’Ele, pudessem crer. “Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo”. A luz verdadeira não brilhava apenas para aquelas pessoas que Deus havia abençoado antigamente, que tinham a lei e “a lei é luz” (Pv 6:23), mas para todos, para os homens em geral. O mundo não O conheceu, e os Judeus não O receberam, mas havia um povo que O conheceu, um povo nascido de Deus, a quem Ele deu o direito de serem filhos de Deus, todos crentes neste dia de graça (Jo 1:12-13). Bem-aventurados todos os que são encontrados entre eles.

A encarnação 

Prosseguindo este capítulo maravilhoso, chegamos à encarnação. “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1:14). Que graça maravilhosa! O Verbo eterno estava aqui na Terra como Homem, vestido com a verdadeira Humanidade (sem pecado) – santo. Realmente um Homem, Jesus, habitava entre os homens – o Santo de Deus.

“Grande é o mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne” (1 Tm 3:16). “E temos contemplado Sua glória, uma glória como a de um unigênito com o pai, cheio de graça e verdade” (Jo 1:14 – JND). Quão profundamente bendito! Quem não conhece a alegria de um pai terrenal em um filho unigênito? Quão maior é a alegria e o deleite do Pai em Seu Unigênito! Quão maravilhoso é que os homens contemplem tal Filho Unigênito!

Deus nunca foi visto por ninguém. Ele é invisível, pois “habita na luz inacessível; a Quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1 Tm 6:16). Ele é Espírito – luz, amor – o Deus invisível; mas o Filho unigênito, que está no seio do Pai, O revelou. N’Ele aprendemos o que Deus é, pois Ele era Emanuel, Deus conosco.

O Cordeiro de Deus 

João Batista, vendo Jesus vindo a ele, disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Que mistério maravilhoso! Esse mesmo Bendito é o Redentor, Aquele que estava prestes a oferecer a Si mesmo como um sacrifício pelo pecado – o Cordeiro de Deus.

Abraão disse a seu filho Isaque: “Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho”. Aqui está a grande figura, de quem podemos tomar essas palavras como proféticas – o Cordeiro de Deus, o Santo, sem mancha e sem mácula, o Cordeiro que tira o pecado. Ele era Quem iria morrer e Quem mais tarde morreu. No Calvário, Jesus Se ofereceu, sem mancha, a Deus para afastar o pecado (Hb 9:14, 26). O pecado se foi de diante de Deus para todos que creem e isso para sempre. Mas Ele estava na cruz em relação ao pecado do mundo e, finalmente, como resultado de Sua obra, o pecado será completamente tirado do mundo. E Deus estabelecerá um sistema eterno em que a justiça habitará, baseada na perfeição da obra consumada de Jesus, o santo Cordeiro de Deus.

Desse mesmo Bendito, João deu testemunho quando viu o Espírito descer sobre Ele no Seu batismo, que era Ele Quem batizava com o Espírito Santo, o Filho de Deus (Jo 1:33-34). “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus”. Ele não é apenas o Emissário do pecado, mas o Cordeiro de Deus, em Quem Deus poderia encontrar Sua perfeita satisfação e deleite, e Quem, como holocausto na cruz, era um cheiro suave diante d’Ele. Os discípulos O seguiram quando ouviram as palavras de João, e a alegria se espalhou de um para outro, que o Messias, o Cristo, o Ungido de Deus, foi encontrado.

O próprio Jesus chamou Filipe; este, por sua vez, encontrou Natanael, confessando-O como Jesus de Nazaré, Aquele de Quem Moisés escreveu na lei, e os profetas. Natanael confessou-O como o Filho de Deus e o Rei de Israel e Jesus, entre outras coisas, disse-lhe: “Daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”.

Esta porção preciosa termina assim com um prenúncio daquele bendito dia para esta pobre Terra, quando, ao ser removida a maldição (Ap 22:3), Jesus, Filho de Deus e Filho do Homem, reinará como Rei de Israel, e quando todas as coisas serão congregadas n’Ele, tanto no céu como na Terra (Ef 1:10).

As múltiplas glórias do Filho 

Quão maravilhosamente o Espírito Santo traz diante de nossa alma, neste capítulo, as múltiplas glórias da Pessoa do Filho amado de Deus! Certamente, todo coração que conhece a Ele e Seu amor deve se curvar em adoração e louvor, quando pensamos n’Ele – Aquele que é o Verbo eterno, Deus, o poderoso Criador, e ainda Se tornou um Homem para glorificar a Deus, realizar a redenção e, finalmente, Se entregar nessa cena de gemidos. É Ele Quem está agora assentado à destra da Majestade nos céus, coroado de glória e honra, o Salvador triunfante na glória eterna de Deus.

Tu que és o Verbo eterno,
O Filho unigênito do Pai;
Deus manifestado, Deus visto e ouvido,
O Amado do céu;
Digno és, ó Cordeiro de Deus,
Que todo joelho se dobre perante Ti!

Que Deus envolva cada vez mais as afeições do coração de cada Cristão com Sua bendita Pessoa e nos dê um santo zelo pela glória de Seu nome.

E. H. Chater

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