Origem: Revista O Cristão – Pestilências e Pragas
Pestilência e Praga – Encorajamento
No artigo anterior desta edição, discutimos as sérias advertências que Deus está trazendo diante de nós na atual pandemia de coronavírus. No entanto, também há encorajamento, assim como no Livro de Judas – um livro cheio de avisos solenes. Alguém comentou o Livro de Judas da seguinte forma: “Não há uma porção da Palavra de Deus mais calculada para nos fazer cantar do que esta epístola. Quanto maior a provação, mais Deus diz: ‘Estou com você’. … Quanto maior o privilégio, pior a corrupção. Desde o início das relações de Deus com o homem até o fim, não há um período em que o depósito seja tão grande quanto o que nos foi dado, ou a corrupção seja tão profunda. Mas Judas passa por isso, e ele soa uma segunda nota de misericórdia em conexão com a comum salvação – Deus entrando e a segurança das pessoas que tinham fé” (G. V. Wigram).
“Doce como mel”
Quando vemos a propagação da COVID-19, as mortes que ela causou, a enorme interrupção na economia mundial e o medo e pânico resultantes que são produzidos, nós que conhecemos o Senhor podemos olhar para cima e dizer: “A vinda do Senhor está próxima” (Tg 5:8). Não sabemos quando o Senhor virá e levará Sua Igreja para casa, para estar com Ele mesmo, mas Sua promessa é: “virei outra vez” (Jo 14:3). Isso deve ser uma esperança presente e viva para o crente, não importa em que época da dispensação ele possa viver. Mas nos é dito que devemos ver “aproximando aquele Dia” (Hb 10:25) – o dia do julgamento. Desde que o Arrebatamento dos santos precede o dia do julgamento, sabemos que estamos chegando ao dia em que o Senhor nos chamará para o lar. Nos últimos dias, falamos em 2 Timóteo 3 e, como vemos eventos cataclísmicos ao nosso redor, é evidente que o dia do julgamento está realmente se aproximando. Para os crentes, essa percepção tem um duplo significado. Nas palavras de Apocalipse 10:9, o livrinho de juízo deixou o ventre do apóstolo amargo, por causa dos terríveis julgamentos que viriam sobre o mundo. Mas estava em sua boca “doce como o mel”, ao ver eventos se desenrolando que dariam ao Senhor Jesus Seu lugar de direito. Da mesma forma ocorre conosco. Lamentamos por um mundo que continua a rejeitar a Cristo, mas nos alegramos por nossa “redenção estar próxima” (Lc 21:28).
A proteção do Senhor
Mas alguns podem dizer: “Estamos no meio de uma crise! Não podemos esperar alguma ajuda para o presente?” Sim, pois o Senhor prometeu cuidar de nós, e podemos contar com Ele quanto à Sua proteção. “Ele te livrará… da pestilência destrutiva” (Sl 91:3 – JND). Isso não significa que não seremos afetados por ela, mas que podemos olhar para o Senhor para colocar Sua mão sobre nós. Diante da pandemia, existe uma maneira razoável e ordenada para o Cristão prosseguir.
Quando a peste bubônica se repetiu em partes da Alemanha em 1527 (a principal pandemia havia ocorrido no século XIV), Martin Lutero dizia o seguinte: “Portanto, peço a Deus misericordiosamente que nos proteja. Então fumigarei, ajudarei a purificar o ar, administrar remédios e a tomá-lo. Evitarei lugares e pessoas em que minha presença não seja necessária para não ser contaminado e, assim, porventura infectar e poluir a outros, e assim causar sua morte como resultado da minha negligência. Se Deus quiser me levar, ele certamente me encontrará e eu fiz o que Ele esperava de mim e, portanto, não sou responsável pela minha própria morte ou pela morte de outros. No entanto, se meu vizinho precisar de mim, não evitarei lugar ou pessoa, mas irei livremente.
Essa é uma fé que teme a Deus, porque não é ousada nem imprudente e não tenta a Deus. Embora alguém deva ajudar [seu vizinho] em seu tempo de necessidade, por sua vez, após sua recuperação, deve agir em relação aos outros, para que ninguém se torne desnecessariamente ameaçado por sua causa. Se as pessoas em uma cidade se mostrassem ousadas em sua fé quando as necessidades de um vizinho o exigirem, e cautelosas quando não houver emergência … então o número de mortos seria de fato moderado. Mas se alguns estão em pânico demais e abandonam seus vizinhos, e se alguns são tolos a ponto de não tomarem precauções… então o diabo tem um apogeu e muitos vão morrer. Em ambos os casos, isso é uma ofensa grave a Deus e ao homem; aqui está tentando a Deus; lá está levando o homem ao desespero. Então, quem foge, o diabo perseguirá; quem ficar para trás, o diabo o manterá em cativeiro, para que ninguém escape dele”. Embora tenha quase 500 anos, esse conselho ainda é bom hoje.
Oração – O trono da graça
Em sua oração na dedicação do templo, há mais de 3.000 anos, o rei Salomão previu um dia em que Deus poderia permitir pestilências e outras pragas em Israel. Se a oração era oferecida por causa da praga, ele pedia ao Senhor que “ouve e perdoa… a fim de que te temam, para andarem nos Teus caminhos” (2 Cr 6:30-31). Ele orou para que esta fosse a resposta de Deus a “toda oração, e toda súplica que qualquer homem fizer ou todo o Teu povo de Israel, conhecendo cada um a sua praga e a sua dor e estendendo as suas mãos para esta casa” (2 Cr 6:29). Hoje, não olhamos para uma casa física, mas podemos chegar “com confiança ao trono da graça” (Hb 4:16). Qualquer que seja o nosso fracasso, o trono de Deus é sempre um trono de graça. Podemos vir diante do Seu trono por nós mesmos, mas também podemos interceder por outros, e especialmente pelos que neste mundo não conhecem o Senhor.
Também é uma boa oportunidade de falar pelo Senhor, pois em um momento como esse, o coração costuma ser terno e pronto para ouvir. Muitos hoje têm medo, pois o futuro é incerto. Podemos lembrá-los do julgamento vindouro, mas também devemos falar sobre o amor de Deus e como Ele providenciou uma maneira de escapar. A permissão de Deus para esta pandemia é realmente Seu amor por este mundo, pois Ele não está disposto a que alguém pereça. Quando o perigo está próximo, devemos emitir um aviso, mesmo que alguns se ressintam. Um homem que tenha sido violentamente acordado à noite porque sua casa estava pegando fogo não iria reclamar que seu sono havia sido perturbado.
As promessas de proteção
Finalmente, alguns podem sofrer dificuldades econômicas, e isso é algo muito real. Enquanto escrevo, muitos perderam o emprego, pois várias empresas tiveram que demitir grande parte de sua força de trabalho. Com bocas para alimentar, hipotecas ou aluguel para pagar e dinheiro necessário para outras despesas, a situação para alguns parece muito sombria. Nos países mais pobres do mundo, onde muitos vivem “da mão para a boca” ou que nada têm além de sua subsistência, o fechamento de empresas e a colocação de pessoas sob “lockdown” causaram angústia generalizada. Nós que conhecemos o Senhor podemos contar com Suas promessas, tais como: “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5). Em Seu ministério comumente chamado de “o sermão da montanha”, nosso Senhor poderia lembrar Seus seguidores a não pensarem, dizendo: “Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos?” (Mt 6:31) Ele lembrou a eles de que “vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas” (Mt 6:32). Nossa parte é buscar primeiro “o Reino de Deus, e a Sua justiça”, pois, se fizermos isso, a promessa de Deus é de que “todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33). Ele prometeu cuidar dos Seus e, embora possa testar nossa fé, nunca a desapontará.
Ajudar-se mutuamente
Para equilibrar essas exortações, devemos lembrar de que, embora aqueles gravemente afetados por uma desaceleração econômica devam olhar para o Senhor em primeiro lugar, também cabe a nós ajudar uns aos outros. Não é algo Cristão dizer: “Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos” se não estivermos prontos “e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo” (Tg 2:16). Mais do que nunca, é o momento de trabalharmos juntos e procurarmos encorajar um ao outro nas coisas naturais e também espiritualmente.
Em resumo, então, devemos nos lembrar das exortações do final do Livro de Judas. Devemos continuar a edificar nossa santíssima fé (v. 20). Vamos abrir a Palavra de Deus diante de nós da maneira que pudermos. Sejamos encontrados “orando no Espírito Santo” (v. 20), pois isso expressa nossa dependência. Mas não façamos exigências a Deus, mas contemos com o Seu amor e, assim, sejamos encontrado mantendo-nos “no amor de Deus” (v. 21). Se nosso coração tiver uma percepção constante de Seu amor, as nossas petições serão “em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças” (Fp 4:6). Então, em vez de todos os nossos problemas serem eliminados, teremos algo melhor – “a paz de Deus, que excede todo o entendimento”. “esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna” (v. 21). Por um lado, esperamos a Sua vinda, porque desejamos ver o Seu rosto; por outro lado, a condição deste mundo tornará Sua vinda por nós uma grande misericórdia. “Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20).