Origem: Revista O Cristão – Paciência

Poder na Paciência

Gostaria de abordar o tema do poder na paciência, não de forma doutrinária, mas sim de forma prática, já que ele se relaciona com o nosso caminho nos dias de hoje.

Deus nos deu o poder de sermos feitos filhos (Jo 1:12). Foi Seu imenso poder que nos tirou da condição de morte e nos assentou nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 1:3). É esse mesmo poder a capacidade interior que nos permitirá viver uma vida e trilhar um caminho que estejam de acordo com a nossa relação com Deus e a nossa posição em Cristo.

Fortalecidos com todo poder 

Passemos para Colossenses 1:11: “fortalecidos com todo poder, segundo a Sua gloriosa força, em toda a paciência e longanimidade, com alegria” (KJV). Quão distante de nossos pensamentos está a preciosa verdade apresentada aqui! “Todo poder” e “Sua gloriosa força” estão acoplados com a graça simples e discreta da paciência – aquele atributo do amor, que é “longânimo” e “benigno” (1 Co 13:4). Essa é a mais rara das flores agora. Deus não vai conceder poder para nos tornar famosos ou ilustres no mundo ou nos círculos religiosos, pois o homem pode ser tudo isso na energia meramente natural. Percorrer o caminho solitário, sem reputação e insignificante, que não é notado nem valorizado, exigirá mais do que a atividade de piedade na carne. O homem inquieto não pode suportar isso; ele exige o turbilhão inebriante de inimigos vencidos e vitórias conquistadas. Eu não desencorajaria nenhuma das duas coisas, como também não encorajaria um espírito de preguiça. Porém, a palavra para hoje é: “Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3:11). Infelizmente, quão poucos estão nesse nível, e quantos, em busca de mais, deixaram escapar aquilo que Deus já fez nosso.

Através da fraqueza e da derrota 

Muitos hoje perdem a alegria que poderiam possuir simplesmente porque não veem o privilégio que é manter, não conquistar. Onde há conquista, geralmente, a vitória deve sair da derrota. Portanto, os seguidores do Senhor podiam dizer, “Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (Jo 6:60), quando Ele lhes disse que, somente por meio de Sua morte, poderia haver bênção para eles. Sem dúvida, essa é a expressão de muitos corações zelosos. Eu só posso responder, “Olhe para a cruz”:

“Através da fraqueza e da derrota, Ele ganhou o galardão e a coroa”.

Vamos olhar além em nosso caminho, haja vista estarmos no caminho da vitória d’Ele. Eu sei como é instigante pressionar o inimigo, mas poucos têm o poder para “havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6:13) quando os inimigos nos pressionam. É muito fácil gritar – “Vitória!”, com o inimigo incapacitado e nós mesmos possuidores dos despojos; é algo completamente diferente conseguir dizer, “por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro”, e em seguida conseguir acrescentar, “mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores”. E como é isso? “Por Aquele que nos amou” (Veja Romanos 8:36-37). Vencedores, ainda que no presente sejamos como ovelhas para o matadouro. Aleluia! O amor e o louvor pertencem a Cristo.

Paciência e longanimidade 

Estevão foi alguém “cheio de poder” e é o primeiro que surge diante de nós proeminentemente após a ruína se instalar. Sua força foi demonstrada naquilo que ele suportou. Na presença do conselho, ele apresenta o rosto de um anjo, e, quando a multidão brutal faz do seu corpo um alvo para pedras, existe algum ceder [da parte dele]? O pobre “vaso de barro” se quebra, mas o “tesouro” – “paciência e longanimidade” – estava lá, pois o ouço dizer, “Senhor, não lhes imputes este pecado”. Cristo em glória manteve seu coração tranquilo (veja Atos 7:55-59).

Paulo e Silas são uma ilustração feliz dessa verdade. Ouça-os cantando louvores a Deus perto da meia-noite, não em uma grande reunião; não, eles estão na prisão, os pés presos no tronco, e as costas sangrando. Mas há perfeita tranquilidade, nem mesmo um clamor por libertação. O poder que os capacitava a suportar era mais doce para eles do que escapar (compare com 2 Co 12:7-10). A “paciência” os possuiu de uma forma tão abençoada que, quando as portas se abriram, não houve pressa. Assim, a graça da longanimidade já os tinha feito livres; no coração, eles tinham espaço de sobra mesmo quando o corpo estava preso numa cela. Estavam em comunhão com Aquele que é hábil em converter prisões em palácios e em fazer pedras ásperas brilharem como rubis. Talvez paredes tão reais e terríveis também nos cerquem; estamos no segredo da força?

Em alegre expectativa 

Temos procurado por algo grande e estamos prestes a desmoronar porque não o encontramos? Temos aguardado, com expectativa, por dias melhores do que estes para nós e, por não terem chegado, começamos a sentir que estamos fora da corrente de Sua vontade e, portanto, em um lugar onde não podemos requerer o Seu apoio? Não temam, amados; nossa fraqueza é justamente o que nos garante a posse disso. Embora possamos não ter a aparência de um exército com bandeiras, podemos ser vistos saindo do deserto apoiados sobre o nosso Amado. Devemos encarar com suspeita aquilo que agora é de grandes dimensões. Veja, em Filadélfia e Laodiceia, aquilo que, respectivamente, caracteriza o verdadeiro e o falso no final (Ap 3). Deve ser visto por todos que estão familiarizados com o curso do tempo, conforme detalhado na Palavra de Deus, que apenas por um pouco mais de tempo, no máximo, será necessário o exercício da “paciência”. Devemos contemplá-Lo agora como Aquele que Está Próximo. Portanto, em alegre expectativa, cantemos; pode não ser uma canção que cause um terremoto; os ferrolhos e as barras podem não se soltar, nem os prisioneiros nos ouvir, mas podemos salmodiar ao Senhor em nosso coração (Ef 5:19).

Podemos cantar apenas para Ele. Os homens podem não ouvir, mas as canções do céu não impedirão essa sinfonia de chegar aos ouvidos d’Ele. “Sede vós também pacientes; fortalecei o vosso coração, porque já a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5:8).

F. C. Blount (adaptado)

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