Origem: Revista O Cristão – Mudança
O Poder para Mudar
Em outra parte desta publicação nos referimos ao fato de que Deus espera mudanças no Cristão, à medida que ele caminha em sua vida Cristã. Porém, às vezes, pensamos que estas mudanças não aparecem, ao menos na medida em que deveriam. Talvez em nossa própria vida e talvez na vida de outros, continuamos a ver os mesmos padrões antigos de pensamento e comportamento que nos caracterizavam antes de sermos salvos. Isso pode, e deveria, nos trazer ao ponto de perguntarmos o motivo pelo qual não estamos mudando e nos tornando mais como Cristo.
Em primeiro lugar, devemos lembrar a nós mesmos que o homem na carne não muda para o bem. Mudanças que ocorrem no mundo ao seu redor podem modificar seu comportamento exterior, porém a raiz maligna permanece. Por milhares de anos, o homem tem tentado de maneira vã negar suas quedas e persuadir a si mesmo que ele tem a bondade inata em si. Se o ambiente certo e as boas influências pudessem ser arranjados, então tudo estaria bem! Porém, a história do homem confirma a palavra da Escritura: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr 17:9). Até mesmo o Cristão muitas vezes tem que passar por experiências difíceis antes que possa dizer juntamente com o apóstolo Paulo: “porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18).
O coração natural
Eu sugeriria que existem no mínimo duas razões principais para a falta de mudança em nós Cristãos. A primeira razão nos leva de volta para o tempo antes de sermos salvos. Naquela época não pensávamos em Deus, exceto que nosso coração era pura “inimizade contra Deus” (Rm 8:7). Mas então, o Espírito de Deus começou a trabalhar em nosso coração para nos convencer de nosso estado pecaminoso e nossa necessidade de um Salvador. Talvez naquela época nós até mesmo tentássemos melhorar a nossa condição com nossas próprias forças, mas eventualmente nós percebemos que não podíamos fazer nada para ajudar a nós mesmos. Éramos completamente dependentes da graça de Deus, e porque entendemos nossa necessidade, de bom grado aceitamos a provisão de Deus para nós em Cristo.
Mas como é sutil o coração humano! Paulo pôde então perguntar àqueles nas assembleias da Galácia: “tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 3:3). Quão facilmente nosso coração cai da graça, pensando que, de alguma forma, nossa carne pode ajudar a nós mesmos a crescer em Cristo e nos tornarmos mais como Ele. Essa maneira errônea de pensar e também nada Cristã, tem permeado a Cristandade hoje em dia, e todos nós, se formos honestos conosco, admitiremos que às vezes nossos pensamentos ultrapassam essa linha. Fomos salvos pela graça – não existe dúvida sobre essa verdade – mas então sentimos que precisamos acrescentar alguma coisa de nós mesmos à graça e ao poder de Deus.
A graça e o poder do Senhor
Mais uma vez, devemos ser trazidos de volta ao lugar no qual fomos salvos, e percebemos que foi por meio da graça e poder de Deus que nos foi dada a vida eterna, então, será o poder e a graça de Deus que irá nos transformar “de glória em glória” (2 Co 3:18). A mudança surge por “contemplarmos a glória do Senhor” e não por qualquer um de nossos esforços. Então, percebemos que o poder do Espírito de Deus – um poder fora de nós mesmos – realiza a mudança para nós, talvez até despercebida por nós. Quando Moisés estava no monte com Deus, sua face brilhou porque ele esteve na presença de Deus. Outros viram, porém, o próprio Moisés não sabia disso: “Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia” (Êx 34:29). Assim também acontece hoje, o Cristão que tem contemplado a glória do Senhor irá irradiar a glória de Cristo, e outros verão, apesar dele mesmo não perceber isso. Talvez até mesmo inconscientemente, velhos hábitos, padrões de pensamentos e comportamentos mudam, e nós pareceremos cada vez mais com Cristo. Portanto, assim deveria ser, porque o Espírito de Deus nunca nos ocupa com nossas próprias coisas, exceto para julgar nossa natureza pecaminosa. Ao nos ocuparmos com Cristo, Sua glória será vista.
Orgulho
Contudo, existe outra razão pela qual não ocorrem mudanças mais frequentes em nós. Nós podemos até mesmo admirar o que vemos de Cristo em outras pessoas, e sinceramente desejar que nos tornemos mais como Ele. Porém, com o tempo ficamos frustrados ao ver os mesmos comportamentos em nós – comportamentos do nosso ser e não de Cristo. Alguém escreveu a razão para isso em uma sentença: “Nós podemos até querer nos tornar mais como Cristo, mas frequentemente nós gostamos muito mais de nós mesmos do que de nos tornar como outro Homem”. O orgulho no nosso coração clama para fazermos aquilo que é nato em nós – uma natureza que resiste a Deus. Características nacionais e raciais, traços familiares, hábitos pessoais, comportamentos culturais – tudo isso pode ser produto da carne, e podemos relutar em mudá-los. Podemos justificá-los, sentindo que existe algum bem neles. Ou podemos suavizá-los e tentar controlar esses impulsos com a energia humana. Mas eles se põem no caminho do nosso crescimento como Cristãos. Existe somente um remédio para essa velha natureza pecaminosa: a morte. A raiz do problema deve ser reconhecida; devemos perceber que muitas das coisas que apreciamos devem ser consideradas como pecaminosas e julgadas, implacavelmente, na presença de Deus. Isso pode ser uma tarefa difícil, à medida que procuramos mudar aquilo que nos caracterizava por tantos anos. Ainda assim o poder de Deus é suficiente, e quando olhamos para Cristo e ganhamos a vitória, entenderemos o que o hino diz: “cada vitória ajudará a outra conquista”.
Um dia, quando o Senhor vier, cada um dos que creem será perfeito como Cristo. Porém, quão abençoado é o caminho daqueles que procuram ser como Ele agora, não importando o custo!
