Origem: Revista O Cristão – Mudança
“Porque Eu, o SENHOR, Não Mudo”
Vivemos em um mundo que está em constante mudança. Temos que lidar com as mudanças políticas, econômicas, tecnológicas e sociais neste mundo, e o que é mais difícil é que também temos que, às vezes, lidar com mudanças nas pessoas. Aqueles a quem amamos e que cuja companhia apreciamos podem ser tirados de nós, enquanto aqueles em quem confiamos podem se voltar contra nós. Em vista de tudo isso, quão doce e confortante é considerar que fomos aceitos, em graça, por Aquele que não muda!
Em primeiro lugar devemos nos lembrar de que Deus não muda. Somos lembrados desse fato no título deste artigo, tirado de Malaquias 1:6: “Porque Eu, o SENHOR, não mudo”. Apesar de todo Israel ter pecado e se afastado d’Ele, Ele permaneceu imutável, quer seja em Seu amor quer em Seus juízos. Isso também nos dá conforto nas coisas temporais, porque é pelo nosso Senhor Jesus Cristo que “tudo subsiste” (Cl 1:17). Deus prometeu que: “Enquanto durar a Terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” (Gn 8:22). Todos os fatores que influenciam o aquecimento global não podem afetar a Sua promessa!
Os princípios morais e padrões de Deus também não mudam, nem mesmo de uma dispensação para a outra. Seus padrões absolutos do que é certo e errado permanecem os mesmos, e por isso Seu ponto de vista a respeito do pecado não muda com a opinião pública ou a mudança dos tempos.
Promessas
Da mesma forma, as promessas de Deus nunca mudam, “Porque todas quantas promessas há de Deus são n’Ele sim; e por Ele o Amém, para glória de Deus” (2 Co 1:20). Os homens fazem promessas e não as cumprem ou não são capazes de cumpri-las. Porém, Deus nunca será frustrado em nenhuma de Suas promessas, e podemos contar com isso. Alguém disse de forma apropriada: “As promessas de Deus são preceitos para Si mesmo, vinculados a Ele, e como são Suas promessas para nós, elas nos mostram o que Ele é em Si mesmo”.
A graça e o amor de Deus não mudam. Quantas vezes neste mundo vemos o amor natural minguando com o tempo, e um amor que outrora parecia queimar com grande fervor não somente começa a esfriar, mas também a se transformar em ódio. Quão diferente é o amor de Deus! No final da história de Israel, quando estavam prestes a ser levados cativos por causa do seu pecado, podemos ver o Senhor dizendo: “Com amor eterno te amei” (Jr 31:3). Da mesma forma com a Igreja, quando ela falhou seriamente em seu testemunho, podemos ler: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo” (Ap 3:19) Sua Palavra para nós hoje é: “Como o Pai Me amou, também Eu vos amei a vós; permanecei no Meu amor” (Jo 15:9). As maneiras de Deus agir para conosco podem mudar, porque frequentemente precisamos de correção e disciplina, mas Seu amor nunca muda. Mesmo que tenhamos falhado, se nos aproximamos de Deus, sempre iremos nos deparar com o Seu amor.
A Palavra
Finalmente, devemos nos lembrar de que a Palavra de Deus não muda. O Salmista nos recorda de que: “Para sempre, ó SENHOR, a Tua Palavra permanece no céu” (Sl 119:89), enquanto Pedro nos diz que: “A Palavra do Senhor permanece para sempre” (1 Pe 1:25). O homem tem atacado a Palavra de Deus por milhares de anos; ele tem tentado mudá-la e corrompê-la de todas as formas. Ainda assim ela permanece a mesma e infalivelmente verdadeira. Nós, que somos crentes, podemos descansar nisso, como algo estável em um mundo cheio de mudanças. É o único livro no mundo que pode nos dar luz no meio das trevas morais que existem aqui, nos confortar em todos os tipos de tristeza e, sobretudo, revelar a Deus na Pessoa de Cristo.
Mas, enquanto apreciamos essas coisas que são imutáveis, devemos nos lembrar de que a mudança é algo de Deus e que, às vezes, é necessária para nós. Existem provavelmente três áreas onde a Palavra de Deus retrata a mudança como algo positivo.
Caminhos dispensacionais
Em primeiro lugar, o próprio Senhor, ao conduzir Seus propósitos, reserva a Si mesmo o direito de lidar com o homem de diferentes maneiras, em diferentes dispensações. Assim, por exemplo, Ele pôs Israel debaixo da lei como um teste, para ver se havia algo de bom no homem natural. Mas então, quando os homens falharam em todos os testes que Deus os havia submetido, Ele enviou a Seu Filho para morrer por eles, para tirá-los da prisão da lei para a liberdade da graça. Enquanto os homens amaram a liberdade da graça em certo sentido, ainda assim os judeus resistiram a essa mudança e se agarraram àquilo que conheciam por aproximadamente 1.500 anos. Ficaram perturbados em ter que renunciar àquilo que eles tinham praticado por tanto tempo, e especialmente da forma como o Cristianismo tirou aquilo que apelava para os sentidos do homem natural.
Até hoje os homens resistem a essa mudança e têm, por isso, introduzido muitas coisas do judaísmo dentro da Cristandade. Construções impressionantes, músicas belas, uma forma de culto ritualístico e uma classe sacerdotal de pessoas colocadas entre o povo e Deus, são exemplos de coisas que Deus tirou para introduzir uma adoração “em espírito e em verdade”. Mas a mudança do judaísmo para o Cristianismo é algo de Deus, e não somente está de acordo com a Sua Palavra, como também é para a glória de Deus e para nossa benção.
Conformidade com Cristo
Em seguida, o Senhor espera ver mudanças em nós. Lemos em 2 Coríntios 3:18: “Mas nós, olhando para a glória do Senhor, com o rosto sem o véu, somos transformados de acordo com a mesma imagem, de glória em glória, como pelo Senhor o Espírito” (JND). Ser transformado é ser mudado, pois enquanto não formos perfeitos como seremos quando Cristo vier para nós, Deus estará nos transformando aqui. À medida que caminhamos, como Cristãos, Deus espera que “contemplando a glória do Senhor” nos tornaremos mais como Ele. Às vezes essa mudança é difícil para nós, porque gostamos muito de nós mesmos. Podemos querer ser iguais a Cristo, mas o processo é frequentemente doloroso, e nosso coração natural se rebela contra isso. Porém, isso pode ser conquistado pela simples contemplação da glória do Senhor. Sua glória eclipsa todas as coisas, e inconscientemente muitas vezes, nos tornamos mais como Ele, a Quem contemplamos.
Mudança no mundo
Finalmente, é necessário reconhecermos as mudanças que acontecem em nós e no mundo para que possamos nos ajustar a isso. Lemos em Atos 13:36: “tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus”. De uma forma mais ampla, todos nós somos produtos da era na qual fomos criados, e à medida que ficamos mais velhos nossa adaptação a um mundo diferente se torna mais difícil. Somadas às mudanças deste mundo estão as fraquezas e as enfermidades da velhice, quando não somente nosso corpo, como também nossa mente, não serão tão maleáveis como costumavam ser. Como ilustração disso podemos citar que quando Davi era jovem ele matou a Golias, deixando um exemplo de fé no Senhor. Ele continuou sua caminhada com muitas outras vitórias, e sua coragem era uma inspiração para os outros que o seguiam. Ainda assim, anos depois em sua vida podemos ler em certa batalha que “Davi se cansou. Isbi-Benobe descendia dos gigantes […] e que cingia uma espada nova, este intentou ferir Davi. Porém Abisai, filho de Zeruia, o socorreu, e feriu o filisteu, e o matou” (2 Sm 21:15-17). O homem que tinha matado Golias estava velho agora, e o esforço excessivo da batalha o fez ficar exausto, ele não conseguia lidar com uma nova geração de gigantes, e então um homem jovem, Abisai, teve que vir resgatá-lo.
Assim também acontece conosco hoje em dia. À medida que vamos envelhecendo, percebemos que Satanás tem um novo armamento, que talvez seja uma figura dos novos dispositivos e tecnologias – coisas com as quais talvez não sejamos capazes de lidar. Será que isso significa que nosso serviço para o Senhor teve um fim? De maneira nenhuma. Mas pode significar que devemos deixar algumas dessas batalhas para os mais jovens que são mais equipados para lidar com os novos ataques de Satanás.
A mudança de gerações
Esse incidente também deveria servir de encorajamento e como um exercício para os mais jovens aprenderem a estar prontos para tomar o lugar dos mais velhos que têm dificuldade para acompanhar todas as mudanças que acontecem neste mundo. Ao mesmo tempo que foi algo humilhante para Davi, sem dúvida ele estava agradecido por Abisai estar ali para ajudá-lo. Também é importante notar que Davi não estava “afastado” da parte ativa do serviço do Senhor, nem Abisai o rebaixou ou menosprezou de forma alguma. Aqueles que sugeriram que ele não saísse mais à batalha ainda assim o chamaram de: “A luz de Israel” e deram a ele o respeito devido como o legítimo rei de Deus. Mas eles reconheceram, e Davi também reconheceu, as mudanças que tinham ocorrido.
Nestes dias de mudanças rápidas, nós que somos mais velhos precisamos da sabedoria do Senhor para entender quando renunciar a algumas responsabilidades e passar para os mais jovens, e especialmente quando sentimos que nossas condições mentais e físicas não são as mesmas que eram antes. Da mesma forma, os jovens devem ser exercitados para tomar o lugar e a ter a energia espiritual e força (como teve Abisai) para vir e ajudar aqueles que são mais velhos.
