Origem: Revista O Cristão – Alimento Espiritual e Exercício

Preguiça Espiritual

Talvez uma das primeiras marcas externas do declínio interior de um Cristão seja a prontidão de arranjar desculpas para não ter devoção e diligência no serviço do Senhor. A mente humana pode facilmente imaginar ou inventar obstáculos para o serviço devotado e que honra a Deus, e quando isso é feito, em vez de permanecer na verdade a todo custo, um lugar de facilidades é prontamente encontrado. Quando perdemos a autoridade da Palavra em nossa consciência, que “a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer n’Ele, como também padecer por Ele” (Fp 1:29), podemos facilmente pensar em nossas facilidades pessoais e nos tornarmos fracos e impotentes quanto às coisas divinas. Em tal condição, não só deixamos nosso primeiro amor, mas também nos afastamos daqueles que defendem a verdade de Deus a todo custo. No entanto, estranho dizer, com todo esse declínio e indiferença à honra do Senhor, “Mais sábio é o preguiçoso a seus olhos do que sete homens que bem respondem” (Pv 26:16).

Marcas da preguiça 

Outra marca de um homem preguiçoso é que ele não assa aquilo que ele pegou na caça (Pv 12:27). Ele pode associar-se com os santos de Deus, ouvir a Palavra ministrada com frescor e poder e até mesmo ficar impressionado com sua bem-aventurança e adequações a si mesmo, mas quando vai para o seu aposento, fica tão absorvido pelas coisas terrenais que não se interessa mais por elas. Como o prêmio do caçador, não lhe traz nenhum verdadeiro benefício, porque ele é indolente demais para se ocupar com isso meditando sobre a verdade para seu proveito presente. Ler ou ouvir a Palavra é uma coisa, mas “meditar nela dia e noite”, para o proveito de nossa alma é outra coisa.

Também nos é dito que “O caminho do preguiçoso é como que cercado de espinhos” (Pv 15: 19 – ARA). Enquanto um Cristão espiritual e fervoroso pode se empenhar em aproximar-se de um crente nesta condição, ele pode concluir que somente Deus pode romper o “cercado de espinhos”. Quão verdadeiro também é dizer: “Também o negligente na sua obra é irmão do desperdiçador” (Pv 18:9). Oportunidades de honrar ao Senhor são perdidas, e os meios confiados à nossa mordomia são usados erroneamente; o tempo é mal gasto, e a saúde e a força desperdiçadas na rotina ou nos divertimentos dessa presente século mau. Qual é o dano disto ou daquilo? diz o homem preguiçoso, pouco pensando que alguém que está praticamente vivo para Deus e buscando a Sua glória nunca faria tal pergunta.

Desfrutar do amor 

Quando deixamos de desfrutar do amor de Deus e quando o próprio Cristo não é mais o Objeto e a Esperança de nossos corações, começamos a ser Cristãos preguiçosos. Se sim, quão solene e esquadrinhadora é a advertência à vigiar e orar para que não entremos em tentação. O pensamento de alguns é: “Eu sei que estou salvo”, mas consideramos que, se o Espírito de Deus é entristecido ou extinto (Ef. 4:30; 1 Ts 5:19) pela nossa vida e caminhada, podemos perder o conforto e gozo de tais preciosas verdades, e até mesmo esquecer que nós somos salvos?

As Escrituras que temos examinado em geral têm uma aplicação individual, mas a assembleia de Deus é composta de indivíduos; é impossível estarmos corretos com Deus em um sentido corporativo, a menos que estejamos também individualmente. Uma assembleia reunida ao nome do Senhor sempre manifestará as qualidades morais daqueles que a compõem individualmente. As Escrituras nos lembram novamente que: “Pela muita preguiça desaba o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a casa” (Ec 10:18 – ARA). Onde existe sinceridade no serviço do nosso Senhor e caminhar fiel daqueles que estão esperando por Sua vinda, geralmente há conforto e bênçãos coletivamente. Mas onde, antes de tudo, há um conhecimento superficial da Escritura, combinado com uma falta de oração sincera e unida, aí haverá pouco cuidado espiritual manifestado pelos membros de Cristo, e a vida e poder da assembleia terá desaparecido.

Preguiça espiritual 

Novamente, somos admoestados quanto a isso pelo homem sábio. Ele diz: “Passei pelo campo do preguiçosoeis que tudo estava cheio de espinhos, a sua superfície, coberta de urtigas, e o seu muro de pedra, em ruínas” (Pv 24:30-31). Aqui vemos “espinhos”, o emblema do desprazer de Deus, em vez das árvores de Sua própria plantação; “urtigas” em vez de ramos frutíferos; e a “parede de pedra” de separação, outrora sólida, mas agora “em ruínas”, de modo que as más associações são facilmente encontradas e os maus que entram não são excluídos. Tudo isso está relacionado à indolência espiritual.

Mas podemos bem olhar para cima e encorajar nosso coração em Deus, enquanto nos encomendamos uns aos outros “ao Senhor e à Palavra da Sua graça” (At 20:32), Seu amor paternal não diminuiu. O Senhor ainda está conosco e todos os Seus recursos estão abertos à fé. Portanto, podemos exortar uns aos outros a sermos “firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (1 Co 15:58).

H. H. Snell (adaptado)

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