Origem: Revista O Cristão – Propiciação e Reconciliação

Ele é a Propiciação Pelos Nossos Pecados

É uma característica marcante da escrita do apóstolo João que tudo o que é mostrado sobre Deus haver providenciado, em Seu amor, para Sua própria glória e para a necessidade do homem, é também mostrado como estando intimamente ligado à Pessoa de Cristo.

Podemos ver que a propiciação é, por João, associada à Pessoa do Senhor. Ele não a apresenta como obra do Senhor, isso temos em outro lugar. Mas na primeira epístola do apóstolo do amor, lemos: “Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 2:1-2), e novamente, “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4:10). Jesus Cristo, então, Ele mesmo é a propiciação pelos nossos pecados. Isso é algo tão infinitamente bendito quanto é simples, pois se eu, sendo um pobre pecador, precisava de uma propiciação para meus pecados e me disseram que Cristo é essa propiciação (mesmo que eu não possa explicar o significado do termo), posso ter certeza de que, sendo Cristo ela própria, ela será mais do que adequada para minha culpa.

Mas podemos extrair mais do que isso pela maneira como usamos essa verdade na epístola de João. O fato é introduzido pela primeira vez em conexão com o rompimento da comunhão de um crente por um pecado. “Se alguém pecar [ou, houver pecado], temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados”. João estava mostrando o lugar íntimo ao qual o filho de Deus é introduzido em comunhão com o Pai e o Filho! Mas quando andamos assim na luz, isso nos permite ver, como em nenhum outro lugar, o pavoroso horror do pecado. Não devemos pecar, mas se alguém pecar e for dominado pela percepção terrível da natureza do pecado na presença do Deus santo, uma provisão foi feita. Jesus Cristo, como Advogado, assume nosso caso para com o Pai, representando devidamente a confissão de nossos pecados em nosso favor; além disso, Ele próprio é a propiciação pelos nossos pecados.

Assim, qualquer satisfação que a natureza justa e santa de Deus exija por causa daqueles pecados, Jesus Cristo é essa satisfação. E o valor e o mérito da propiciação são, portanto, declarados como sendo comparáveis somente com Sua Pessoa. Se, portanto, desejamos estimar corretamente a base de nossa restauração à comunhão, devemos pensar na excelência eterna do Filho. Por mais que possamos magnificar a terribilidade do pecado (e nunca exageraremos o suficiente a verdade a esse respeito), podemos ter certeza de que ele é mais do que coberto pela propiciação do Filho de Deus, pois Ele ofereceu, e somente Ele poderia oferecer aquilo que nossos pecados necessitavam e que a glória de Deus exigia.

Mas também podemos apreender ainda mais dessas palavras em João; vemos que um caráter de santidade está estampado na propiciação. Não nos cabe atribuir a ela qualquer grau de santidade que desejarmos. O Espírito de Deus santificou a verdade da maneira mais alta possível, e de uma forma que o filhinho mais novo em Cristo pode reconhecer. O Filho de Deus é a propiciação pelos nossos pecados. “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados”. A obra de propiciação está associada a toda a glória da Divindade do Filho. Acaso somos capazes de atribuir a excessiva importância a uma doutrina que nos é apresentada em termos como estes? Na mente do Espírito, como expressa por João, a obra é ligada à Pessoa, e o valor da obra deve ser medido de acordo com o valor intrínseco do Filho.

É importante lembrarmos disso, porque a mente humana é muito apta a inferiorizar as coisas de Deus. E quão terrível é depreciar a Pessoa do Filho, a Quem ninguém conhece (Mt 11:27). Israel no deserto pecou ao limitar o Santo no que Ele faria por eles (Sl 78:41). Acaso pode o Cristão impunemente estabelecer os limites de tempo e espaço para o Filho de Deus, que é a propiciação por nossos pecados, e principalmente impondo-Lhe limitações humanas na realização dessa obra em particular? Se alguém falar ou pensar de forma leviana sobre a propiciação, lembre-se de que Ele é “a propiciação pelos nossos pecados”.

W. J. Hocking

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