Origem: Revista O Cristão – Propiciação e Reconciliação
Procurando por Amor
Estima-se que, a qualquer momento no mundo, haja aproximadamente um bilhão de pessoas conectadas à Internet. Desse número, alguns estão realizando negócios ou simplesmente compartilhando informações com amigos. É chocante perceber, no entanto, que metade está envolvida com vários sites, salas de bate-papo e indivíduos, buscando o amor e a companhia que eles não têm. Tal é o estado deste mundo, que a qualquer momento, quinhentos milhões de pessoas estão buscando alívio da solidão e do sofrimento que os envolve. A tecnologia revolucionou a comunicação nos últimos anos; as viagens de jato tornaram possível que as pessoas se visitassem como nunca; o aumento da riqueza permitiu que algumas partes do mundo tivessem um estilo de vida sem paralelo na história do mundo; no entanto, o problema de afeições insatisfeitas permanece maior do que jamais visto.
A busca pelo amor não é novidade; o músico e compositor americano Stephen Foster expressou isso quase 150 anos atrás em sua música “No one to love” (Ninguém para amar):
“Escura é a alma que não tem nada em que repousar!
Quão triste deve ser a sua hora mais brilhante!
O espírito aborrecido e solitário deve estar
Que não há ninguém para apreciar e amar.”
Embora seja extremamente duvidoso que Stephen Foster tenha se voltado ao Senhor em busca de salvação (ele morreu antes dos quarenta anos), a canção expressa uma necessidade humana fundamental – a necessidade de um relacionamento. A canção tem o título “Ninguém para amar”, mas no mundo de hoje, a procura talvez tenha degenerado ainda mais, pois muitos hoje desejam que alguém lhes mostre amor, ao invés de procurar alguém a quem possam demonstrar amor. Embora a maioria provavelmente diga estar mais do que disposta a mostrar amor, o fato é que o coração humano natural responde com mais frequência ao amor do que o inicia. Mesmo quando o amor é demonstrado, pode não ser o amor verdadeiro, pois os motivos ocultos e intenções secretas frequentemente complicam o que se apresenta como amor.
Quando Deus criou o homem, Ele disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1:26). Por causa de sua semelhança com o Criador, o homem tem tanto a capacidade quanto a necessidade de amor e um relacionamento. Que privilégio é esse e quão agradecidos devemos estar por Deus ter dado essa dimensão ao nosso ser! No jardim do Éden, em inocência, o homem tinha um relacionamento com Deus, mas Deus, em Sua bondade, viu que “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18). Ele então criou a mulher, que deveria complementá-lo, e assim o homem tinha a companhia de seu Criador e da mulher a quem Deus havia lhe dado.
A queda do homem fez com que ele se escondesse entre as árvores do jardim, pois sua feliz comunhão com Deus havia sido corrompida. Mais do que isso, a entrada do pecado neste mundo afetou seriamente os relacionamentos entre a raça humana e, particularmente, o relacionamento do casamento. Como alguém observou apropriadamente, “Nunca devemos ser ingênuos o suficiente para pensar no casamento como um porto seguro da queda… As lutas mais profundas da vida ocorrerão no relacionamento mais primário e que foi afetado pela queda – o casamento”.
Uma das consequências mais graves da queda foi tornar o homem caído egocêntrico e, portanto, principalmente um tomador, em vez de um doador, como seu Criador. Embora haja, sem dúvida, amizades e casamentos felizes, mesmo entre pessoas não regeneradas, permanece o fato de que relacionamentos e amizades neste mundo são frequentemente imprevisíveis e decepcionantes. O resultado de tudo isso é uma busca contínua (mas geralmente infrutífera) por aquela pessoa ilusória que acabará por responder a todas as nossas necessidades e nos fará felizes.
Qual é a resposta?
Lemos em Eclesiastes 3:11: “[Deus] também pôs o mundo no coração do homem”. A palavra aqui traduzida como “mundo” poderia ser traduzida como “o infinito” ou “o eterno”, mostrando-nos que o homem foi criado para a eternidade, e não apenas para o tempo. Por essa razão, somente Deus pode preencher o coração humano. Eclesiastes é a reflexão definitiva de um homem (Salomão) que havia tentado de tudo e teve que concluir que tudo era vaidade e correr atrás do vento. Ele descobriu que nem as coisas materiais nem os relacionamentos humanos ofereciam uma paz duradoura.
No entanto, o Deus que criou o homem pode encher o coração, pois Ele o criou de modo que somente Ele pudesse preenchê-lo. Deus quer um relacionamento com Sua criatura e abriu um caminho para que a comunhão possa ser restaurada, apesar da queda. Por meio de Cristo e Sua obra na cruz, Deus propiciou o pecado, de modo que “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Sl 85:10). O homem agora pode ser reconciliado a Deus e ter, não apenas o relacionamento que estava presente no jardim do Éden, mas um relacionamento muito mais próximo e mais íntimo.
“Embora a queda de nossa natureza em Adão
Parecesse nos afastar de Deus,
Assim foi Seu conselho que nos trouxe
Ainda mais perto, por meio do sangue de Jesus”.
O coração que é continuamente decepcionado e insatisfeito com as coisas materiais e os relacionamentos humanos agora pode ser preenchido com o próprio Deus; o coração feito para a eternidade pode ser satisfeito por Aquele que habita a eternidade.
Novo relacionamento
Esse novo relacionamento com o próprio Deus também tem efeito sobre os relacionamentos humanos, pois lemos: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19 – ARA). O homem em Cristo agora tem a capacidade para o amor divino – você tem um amor que pode continuar amando, mesmo que o objeto desse amor não responda da maneira correta. Por esse motivo, as relações humanas entre os que estão em Cristo agora podem assumir novas dimensões e ter um caráter mais profundo e gratificante, porque agora são vistas à luz do caráter de Deus e do amor de Deus.
Todos nós reconhecemos que mesmo os crentes ainda possuem uma natureza caída e pecaminosa – a que a Escritura se refere como “a carne”. Uma vez que nunca melhora, ela pode fazer com que até um verdadeiro crente faça todas as coisas características de um incrédulo, se lhe for permitida agir. É um comentário triste sobre o testemunho Cristão de que os relacionamentos entre os crentes são muitas vezes caracterizados pela atividade da carne, em vez da nova vida que temos em Cristo. No entanto, o melhor dos relacionamentos humanos, mesmo dentro da estrutura do Cristianismo, nunca será perfeito aqui embaixo e sempre decepcionará de alguma maneira. O crente que reconhece isso se aproximará continuamente do Senhor, para caminhar em comunhão e intimidade com Ele, enquanto procura pela graça trazer o espírito de Cristo a todo relacionamento humano, seja com os crentes ou em seu contato com o mundo. Seu coração, plenamente satisfeito com Cristo, pode alcançar os outros, enquanto espera pelo dia eterno em que todo relacionamento será perfeito.
