Origem: Revista O Cristão – Propósito e Direção para a Vida

O Propósito de Deus

“Descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo, de tornar a congregar [de encabeçar – JND] em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na Terra” (Ef 1:9-10).

Tudo o que Deus é – toda a plenitude da divindade – tem o prazer de habitar em Cristo, e é o propósito ou “bom prazer” de Deus que ela seja mostrada n’Ele, um propósito rico em bênçãos. Tentaremos elucidar uma pequena parte desse propósito – a parte visível – e mostrar como Deus logo o exibirá. Deus tem o prazer de fazê-lo visivelmente, nos levando a Sua confiança, a fim de nos preservar de substituir as andanças de nossa mente pela santa manifestação que Ele nos deu de Si mesmo e de Sua glória. Efésios 1 expressa Seu desejo de que sejamos esclarecidos quanto a isso e, em Efésios 3, que sejamos “corroborados com poder”. Apreciamos as grandes verdades reveladas no capítulo 1 na medida em que sentimos pessoalmente seu poder no capítulo 3.

A Igreja e Israel 

A Igreja e Israel são os respectivos centros da glória celestial de Deus e de Sua glória terrenal em Cristo; esses são os dois grandes assuntos de todas as porções da Escritura que se referem ao Milênio – as esferas celestial e terrenal da glória. O Filho, imagem e glória de Deus, é Seu centro comum – o Sol que ilumina ambos. As nações “trarão a glória e honra” para o centro terrenal e para o centro celestial, e andarão em Sua luz – desfrutando de Suas bênçãos. Quando tudo estiver cumprido, Deus será tudo em todos, e Seu tabernáculo estará com os homens – o Deus deles.

A Igreja e Israel, as esferas celestial e terrenal, lançam sobre si um brilho mútuo de bênção e gozo, mas cada um tem sua própria esfera à qual todas as coisas respectivas estão subordinadas: à Igreja, anjos, principados, poderes – tudo o que pertence ao céu; para Israel, as nações e tudo mais abaixo.

“No princípio era o Verbo” (Jo 1:1) proclama o fundamento de uma glória duradoura, superior à da primeira criação, e sobre a qual repousa sua restauração da ruína que o homem lhe trouxe. Deus descansou por um breve momento naquilo que era, “muito bom”, e veio de Sua mão. Seu descanso, e o homem com Ele, passaram como o orvalho da manhã, pela fraqueza de seu cabeça, Adão, mas devem ser restaurados na bênção de Deus em uma base infinitamente mais alta pela exibição da glória do último Adão, pois o propósito de Deus é encabeçar todas as coisas n’Ele (Ef 1:10).

Cristo como Herdeiro 

Pela ressurreição de entre os mortos, Cristo é Herdeiro de todas as coisas; todas as coisas são encabeçadas por Ele, e a Igreja é coerdeira. Esta é a nossa própria esperança e nosso lugar exaltado n’Ele até que Deus seja tudo em todos. “N’Ele também fomos feitos [obtivemos – JND] herança” (Ef 1:11) n’Aquele que é o “Herdeiro de tudo” (Hb 1:2). Nós somos “Herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” para aquele dia abençoado (Rm 8:17).

Adão “é a figura d’Aquele que havia de vir” – o Último Adão – Cristo. Quão abençoadamente é para nós ver isso em Efésios 5:25-32. Adão (cabeça da criação), depois de acordar do “sono profundo” (simbólico da morte), recebeu a noiva e a coerdeira; ela foi tirada do lado dele, o lugar de afeição. Assim, ela foi feita dele, somente depois que ele levantou (não da criação que existia antes dela). Ela é sua companheira na liderança da herança, o paraíso, o “jardim das delícias”. Assim também Cristo recebe a Igreja, Sua Noiva, por meio da morte, mas em ressurreição, para compartilhar Sua glória vindoura.

Deus “chamou o nome deles de Adão” (Gn 5:2 – JND). Eles eram um, como Cristo e a Igreja (Ef 5:30), um corpo místico. A Igreja é Cristo – 1 Co 12:12.

O Salmo 8 é a passagem chave quanto ao Seu domínio. “Tu de glória e de honra o coroaste todas as coisas Lhe sujeitaste debaixo dos pés”. Hebreus 2:7-9 mostra que isso ainda não foi cumprido, mas que Jesus foi coroado de glória e honra, e assegura que Ele, como Homem, terá tudo sob Seus pés. Ele está assentado à direita da majestade nas alturas, na paciência de Deus nesta dispensação, até que Seus propósitos atuais sejam cumpridos e até que Seus inimigos que governam a injustiça se tornem escabelo de Seus pés.

Efésios 1:17 a 2:7 mostra a Igreja unida a Ele agora e para sempre pelo poder que O ressuscitou da morte. O capítulo 2:7 é o motivo abençoado de Deus nisso, e no capítulo 1:22, onde o Salmo 8 é citado, acrescenta-se: “O constituiu como Cabeça da Igreja, que é o Seu corpo, a plenitude d’Aquele que cumpre tudo em todo”.

O fato de Ele possuir a Igreja como ressuscitado da morte é especialmente apresentado em 1 Coríntios 15, que novamente cita o Salmo 8. “Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um Homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo, as Primícias; depois, os que são de Cristo, na Sua vinda. Depois, virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de Seus pés também o mesmo Filho Se sujeitará [como o último Adão, o Homem ressuscitado] Àquele que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”.

Cristo reinará milenarmente sobre um reino que Ele mais tarde entregará, para que “Deus seja tudo em todos” – para que a glória de Deus, simplesmente, seja universal.

A rejeição da semente natural 

A rejeição da semente natural, Israel, deu oportunidade para a introdução da semente espiritual nos lugares celestiais como herdeiros. Israel estava em melhor posição dentre todas as nações para recebê-Lo quando Ele veio, pois “Ele veio para os que eram Seus”. Foi para eles que Ele havia sido prometido. O tempo e o local de Seu nascimento foram previstos na Escritura, mas, quando descobrem que Ele veio, “perturbou-setoda a Jerusalém” e procuram matá-Lo. Esse foi um desejo que eles logo cumpriram. Assim desapareceu a última esperança do descanso de Deus nesta criação. Provou que “todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade” (Sl 39:5).

Mas isso abriu caminho para uma dispensação infinitamente mais gloriosa. Israel e a glória terrenal são adiados enquanto o propósito de Deus, escondido n’Ele desde a eternidade, é revelado – a reunião de indivíduos judeus e gentios em um corpo, o corpo de Cristo, assentado nos lugares celestiais. A Noiva do Rejeitado, mas Ressuscitado, é reunida de todas as nações, enquanto o Noivo está assentado na mais alta glória de Deus. Ela será radiante na mesma glória que Ele quando aparecer ao mundo (Cl 3:4).

Cristo, a Semente de Abraão, é Herdeiro da promessa de Abraão de que nele todas as nações seriam abençoadas. Mas se Ele tivesse Se apossado da herança na Sua primeira vinda, Ele a teria somente para Si, pois “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”. Ele herda as promessas das quais Sua Noiva participa, não apenas como tendo vindo à Terra, mas como Ressuscitado depois de redimir a Igreja e no poder dessa vida ressuscitada. O resultado dessa união é que se diz estarem os Seus ressuscitados com Ele.

A Igreja é redimida para estar unida a Ele que, quando Ele tomar posse de todas as coisas publicamente, Ele pode ter uma companheira “idônea para Ele” (Gn 2:18 – ACF), associada a Ele em todas as coisas e em toda a Sua glória e feita como Ele.

Cristo exaltado prepara um lugar para a Igreja 

Cristo exaltado acima de tudo prepara um lugar para a Igreja. Ele espera cumprir as promessas a Israel e, enquanto isso, a Igreja é chamada para fora do mundo. Em Sua ressurreição, Ele redimiu a Igreja e garantiu “as firmes beneficências de Davi”, a promessa a Israel. Mas era necessário também que Ele tomasse posse dos lugares celestiais para estabelecer o reino dos céus (Seu domínio sobre a Terra desde o céu), enchendo todas as coisas com Sua glória (Ef 4:10) e associasse a Igreja a Ele nisto. Ele agora está preparando a morada celestial de Sua Noiva e a chamando de todas as nações para reinar com Ele – Seus coerdeiros. “Pois vou preparar-vos lugar. Virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também” (Jo 14:2-3). “Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo, para que vejam a Minha glória que Me deste; porque Tu Me hás amado antes da criação do mundo” (Jo 17:24).

Cristo recebe a herança com Sua Igreja 

Na Sua Aparição, Cristo recebe a herança com Sua Igreja. Agora, Ele está escondido em Deus, e nossa vida está escondida com Ele (Cl 3:3). Tendo terminado tudo o que era necessário para resgatá-la, Ele está assentado à direita de Deus, esperando até que o Espírito Santo, que O revela e revela o Pai por meio d’Ele, reúna todos os Seus coerdeiros. Ele está esperando até que Seus inimigos sejam postos como escabelo de Seus pés, esperando tomar posse de todas as coisas publicamente. Esperamos com Ele, e a criação espera “pela manifestação dos filhos de Deus”. “Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, vós também sereis manifestados com Ele, em glória” (Cl 3:4). Sabemos que “quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos” (1 Jo 3:2).

Seus santos julgarão o Mundo 

“Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos, para fazer juízo” (Jd 1:14-15). “Virá o SENHOR, meu Deus, e todos os santos Contigo, ó Senhor” (Zc 14:5). Quão abençoado será quando Cristo apresentar a Igreja a Si mesmo gloriosa, vestida em Sua própria glória e formosura com a qual Ele a vestiu, quando vê em seu Senhor toda a glória de Deus, quando está associada à glória de seu Noivo em poder do Seu amor infinito por ela até a morte, quando ela será perfeitamente pura e gloriosa com Ele onde Ele está e como Ele, manifestada naquela glória com Ele, cercada por Suas honras, compartilhando de toda a Sua glória que o Pai Lhe deu, que o mundo possa saber que o Pai a ama como Ele O ama! Associados assim a Ele, julgaremos os anjos e o mundo e dispensaremos a luz e as bênçãos de Seu reino sobre uma criação libertada de todas as suas tristezas, e onde o pecado e Satanás não podem entrar.

O reino do Pai e o dia de Deus 

O lugar do amor do Pai na manifestação de toda essa glória é profundamente reconfortante. Jesus ensinou os discípulos a orar pela vinda do reino do Pai, onde os justos “resplandecerão como o Sol” como Cristo, “o Sol da justiça”. Ele aparecerá na glória do Pai – para nós, a coisa mais abençoada. Aqui entramos em águas mais profundas, embora mais calmas, na eternidade – oceano sereno e sem limites, de infinito gozo, sobre o qual conheceremos a largura, o comprimento, a profundidade e a altura, que excede todo o entendimento. Sempre estaremos aprendendo Sua infinita bênção e estudando Sua glória. Agora, temos o privilégio de sentir qual é a Sua graça. Então, seremos a plena manifestação dela para mundos maravilhados, pobres pecadores feitos exatamente como Cristo e manifestados na mesma glória que Ele!

Amado, o que foi exposto acima é apenas um esboço simples da posição da Igreja quando Cristo for revelado em Sua glória. No arrebatamento começa o caminho da glória.

J. N. Darby

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