Origem: Revista O Cristão – Propósito e Direção para a Vida

O Propósito do Coração de Daniel

À medida que a vinda do Senhor se aproxima, encontramos o mundo marcado por mudanças cada vez maiores que afetam a todos nós como crentes. A questão é: como devemos enfrentá-las? O Senhor usa essas ocasiões para nos ensinar lições, e levaremos os resultados por toda a eternidade. Vemos isso ilustrado particularmente na vida de Daniel.

Ele começou sua vida em uma posição privilegiada. Ele era “da linhagem real, e dos nobres, jovens em quem não houvesse defeito algum, formosos de aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e sábios em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade” (Dn 1:3-4). Vemos que ele não era apenas de sangue real, mas possuía as capacidades físicas e mentais necessárias para desempenhar suas funções.

Um cativo 

Mas tudo isso estava prestes a mudar. Zedequias, o último rei de Judá, foi destronado pela invasão dos caldeus, e Daniel, embora poupado de uma morte prematura, encontrou-se cativo na Babilônia. Como Daniel reagiu a essas circunstâncias? Ele desistiu e aproveitou a vida da melhor maneira possível? Não – a Bíblia nos diz que “Daniel assentou [propôs – ACF] no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia” (Dn 1:8). Ele decidiu permanecer separado da idolatria que o cercava. Como resultado, ele fez progresso moral e espiritual, o que lhe deu um poder extraordinário na oração que logo seria provada.

Exaltado 

Nabucodonosor teve um sonho e insistiu que os sábios da Babilônia não apenas o interpretassem, mas também recordassem o sonho em sua memória. Daniel e seus três amigos oraram com toda a seriedade sobre o assunto. Eles obtiveram uma resposta notável que não apenas satisfez o rei enfurecido, mas o levou a prestar homenagem a Daniel, confessando a suprema glória do Deus de Daniel e fazendo dele “governador de toda a província de Babilônia, como também por principal governador de todos os sábios de Babilônia” (Dn 2:48).

Daniel estava mais uma vez em uma posição exaltada, mas essa reviravolta não o corrompeu, como vemos no quarto capítulo. Com grande coragem, obtida por uma caminhada próxima a Deus, ele repreende Nabucodonosor e lhe diz o que aconteceria com ele, independentemente do fato de que “a quem queria matava e a quem queria dava a vida; e a quem queria engrandecia e a quem queria abatia” (Dn 5:19). Daniel não temia a possibilidade de ser removido pelo rei, mas o aconselhou a abandonar seus pecados pela “justiça usando de misericórdia para com os pobres” (Dn 4:27). Somente um homem que praticou essas virtudes em sua própria vida poderia dar esse conselho ao rei.

Em obscuridade 

Após a restauração de Nabucodonosor a seu trono, parece que Daniel caiu na obscuridade por vários anos. Talvez Nabucodonosor tivesse morrido e Daniel tenha sido esquecido, mas por qualquer motivo, não voltamos a ouvir dele até o capítulo 5. Belsazar com milhares de seus senhores está festejando e zombando do Deus do céu quando veem a letra manuscrita na parede. A rainha se lembra de Daniel e fala dele quase na mesma linguagem na qual ele é descrito no capítulo 1, dizendo que nele havia “luz, e inteligência, e sabedoria, como a sabedoria dos deuses” (Dn 5:11). Quão maravilhoso foi seu piedoso testemunho para o mundo! Daniel não participou da vida tumultuada de Belsazar e permaneceu completamente separado do mau comportamento da corte real. Além disso, foi nesses últimos anos que Daniel recebeu aquelas visões surpreendentes registradas no sétimo e oitavo capítulos de seu livro, que mostram que durante esse período de relativa obscuridade, Daniel continuou a desfrutar de estreita comunhão com Deus. Apesar do pronunciamento solene de Daniel a Belsazar, sobre a destruição de seu reino e sua recusa em aceitar as recompensas do rei, Daniel se viu promovido a terceiro governante no reino. Mais uma vez ele estava em uma posição de destaque, embora soubesse bem que seria por um momento na melhor das hipóteses! Naquela mesma noite, Belsazar foi morto, Dario, o medo, tomou a cidade e Daniel voltou a cair na obscuridade.

Identificado com seu povo 

Essa foi a terceira vez que Daniel foi abatido em sua carreira, mas foi um período de grande proveito. Ele tinha um amor intenso por Jerusalém, onde habitava a honra de Deus, e também tinha um profundo afeto pelo povo de Deus. Isso o levou a estudar as profecias de Jeremias e a descobrir que as desolações de Jerusalém seriam limitadas a setenta anos. O efeito dessa descoberta o levou a se ajoelhar, se identificando com o estado de seu povo, confessando seus pecados e intercedendo por eles quanto ao perdão e restauração. Sua oração é cheia de esperança e arrependimento, e quem lê essas palavras não pode deixar de ser tocado pelo espírito de Daniel. Como Elias, outro homem justo em um dia anterior, sua oração fervorosa foi rapidamente respondida. Os ouvidos de Deus estão sempre abertos às orações do Seu povo e Ele Se deleita com a súplica de Seu servo. Como resultado, Daniel recebeu a profecia das “setenta semanas” que predisseram claramente o tempo exato da morte do Messias de Israel e nosso Senhor e Salvador.

Coragem e força na velhice 

Não sabemos as circunstâncias, mas Dario, o novo governante da Babilônia, ouviu falar das excelentes qualidades de Daniel e o promoveu a se tornar o chefe dos três presidentes sobre os príncipes e o próximo ao rei em autoridade. Nesse momento, Daniel deveria já ser um homem muito velho, com mais de oitenta anos de idade. Nesta nova posição, Daniel continuou a andar pela fé e em obediência à Palavra de Deus com graça e mansidão. Ele mostrou sua coragem e força espiritual em um momento de grande crise, continuando exatamente no mesmo caminho “como também antes costumava fazer” (Dn 6:10). Não houve nenhuma tentativa de fazer concessões ou alterar seu curso. Todos sabemos aonde esse propósito do coração o levou; ele foi jogado na cova dos leões. Com que rapidez ele foi derrubado de sua posição elevada para um lugar de degradação e perigo! Mas Deus estava com ele e, na manhã seguinte, Dario mais uma vez o elevou a alturas ainda maiores do que antes, para a grande glória de seu Deus! Ele deveria continuar neste lugar exaltado até o reinado de Ciro e provavelmente até o fim de sua vida.

Durante esse último período da vida, Deus permitiu que Daniel visse o cumprimento da profecia de Jeremias e o decreto emitido que permitia a reconstrução da casa de Deus em Jerusalém. No capítulo 10, ele também recebeu uma visão final do grande rio Hidéquel (provavelmente o Tigre), onde foi proclamado duas vezes como “um homem muito amado”.

Sua morte e profecias finais 

Em Daniel 12, a visão chega ao fim e Daniel é informado de mais um ponto baixo em sua vida que foi maior do que qualquer outro que ele teve que enfrentar. Foi-lhe dito que a morte o alcançaria antes do cumprimento da glória futura. Mas mesmo o anúncio solene de sua morte tinha uma perspectiva brilhante. Depois de um longo período de descanso na sepultura, ele não estaria ausente quando surgisse o alvorecer da glória, pois foi declarado que ele “repousarás e estarás na tua sorte [te levantarás na tua herança – ACF], no fim dos dias” (Dn 12:13) Ali Daniel viu a esperança certa da ressurreição antes que seus olhos se fechassem na terra. Naquele dia vindouro, Daniel olhará para trás em sua vida e perceberá que todos os seus reveses eram para bênção eterna, pois assim ele conheceu a Deus de uma maneira muito mais rica e completa do que se nunca tivesse tido essas experiências.

Ao enfrentarmos novas mudanças até o Senhor nos chamar para o lar, que possamos mostrar mais do espírito de Daniel. É possível, com a ajuda do Senhor, ter um verdadeiro propósito de coração hoje, mesmo em nosso mundo em rápida mudança.

E. S. Allan

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