Origem: Revista O Cristão – Babilônia
Protestantismo – Quinhentos Anos
Em 31 de outubro de 2017, completaram-se 500 anos desde que Martinho Lutero fixou suas famosas 95 teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg. Nessas teses, Lutero, um monge relativamente insignificante, propôs uma série de questões e proposições para discussão – questões que desafiaram seriamente as doutrinas da, então dominante, igreja católica romana. As teses foram escritas em forma de questionamento, ao invés de um tom acusador, porque a intenção de Lutero era a reforma da igreja, não a separação dela. Mas suas questões e subsequentes ensinamentos, formaram a espinha dorsal da Reforma.
O nome “protestante” só surgiu alguns anos depois, e deriva dos protestos feitos pelos príncipes alemães na Segunda Dieta de Espira [um órgão deliberativo] em 1529. A Dieta votou pelo fim da tolerância daqueles que seguiam os ensinamentos de Martinho Lutero na Alemanha, mas nessa época havia um movimento conjunto que apoiava Lutero. Incapaz de revogar o decreto, vários príncipes redigiram um protesto e o apresentaram ao imperador. Entre outros termos, continha as palavras: “Somos determinados pela graça e ajuda de Deus a cumprir somente a Palavra de Deus”. O termo “protestante” chegou ao idioma inglês em 1553. Em apenas mais alguns anos, esse “protesto” alemão se espalhou pela Inglaterra, Escócia, Holanda, França, partes da Europa Oriental e até mesmo em postos avançados na Espanha, Itália e outros centros de força católica contínua. Em menos de um século, os protestantes estabeleceram bases de operações no Novo Mundo.
A reforma
A Reforma foi verdadeiramente uma obra de Deus, quando Ele graciosamente levantou homens fiéis para trazer de volta a verdade do evangelho e derrubar a doutrina católica romana da salvação pelas obras. Tudo isso realmente começou cerca de 100 anos antes de Lutero, com aqueles como Jan Hus da Boêmia e John Wycliffe da Inglaterra. Mas o verdadeiro ímpeto em favor da Reforma surgiu no início do século XVI, com homens como Lutero, Calvino, Farel, Zwingli, Bucer e outros.
Ao dizer isso, é muito importante distinguir entre a reforma e o protestantismo, pois enquanto a reforma era uma obra de Deus, o movimento chamado protestantismo não era. Mas o protestantismo moldou o mundo desde que começou, tendo se espalhado amplamente entre a maioria das nações ocidentais e, finalmente, para outras áreas do mundo também. (Há provavelmente mais “protestantes” nos chamados países do “terceiro mundo” hoje, do que na Europa e na América do Norte). Compreende uma ampla variedade de grupos, desde Luteranos, Batistas, Anglicanos e Metodistas até a grupos um tanto periféricos, como os Adventistas do Sétimo Dia e as Testemunhas de Jeová. Suas doutrinas variam muito, mas elas caem sob a égide do protestantismo, ao rejeitarem unânimes a autoridade do papa. Por que então dizemos que a reforma foi uma obra de Deus, mas o protestantismo não foi?
O testemunho protestante
Primeiro de tudo, pelo seu próprio nome, o título “protestante” implica um testemunho que é contra algo, neste caso, a autoridade do papa. Embora seja verdade que temos a responsabilidade de testemunhar contra o mal, o que testemunhamos contra nunca deve superar o que testemunhamos a favor. A Escritura não apenas nos diz “cessai de fazer o mal”, mas também nos diz “Aprendei a fazer o bem” (Is 1:16-17). Foi aqui que o protestantismo falhou, pois embora tenha rejeitado muitas das más doutrinas do catolicismo romano, não procurou, na maioria das vezes, as Escrituras para aprender toda a verdade de Deus. Eles criam na Palavra de Deus para a salvação pela fé, mas não avançaram o suficiente para apreender a verdade da Igreja.
A ruptura
O resultado disso foi que o protestantismo passou a reproduzir muitos dos erros de Roma, enquanto continuava sendo uma frente unida contra a autoridade do papa. O movimento se dividiu em igrejas nacionais, ou igrejas formadas com base nos ensinamentos de um líder de destaque. Igrejas também foram formadas para enfatizar certas doutrinas – doutrinas que foram destacadas à custa de outras verdades igualmente importantes. Os presbiterianos enfatizavam o governo dos anciãos; Os congregacionalistas enfatizaram o governo por maioria de votos. A igreja da Christian Missionary Alliance (Aliança Missionária Cristã) foi formada expressamente para realizar trabalhos missionários estrangeiros, enquanto o Exército da Salvação procurou resgatar alcoólatras e desabrigados. A Igreja Anglicana continuou com a maioria dos ensinamentos errôneos de Roma, mas substituiu o papa pelo soberano reinante da Grã-Bretanha.
Mais tarde, erros mais sérios surgiram, à medida que sistemas como o Adventismo do Sétimo Dia e a Ciência Cristã alegavam que os escritos de seus líderes eram inspirados e, portanto, eram tão confiáveis quanto a Bíblia. É desnecessário dizer que a má doutrina era abundante, pois tanto a Pessoa quanto a obra de Cristo foram atacadas. Tudo isso foi determinante para formar o que Paulo chama de “a grande casa” que continha “não somente vasos de ouro e de prata [crentes verdadeiros], mas também de pau e de barro [incrédulos]” (2 Tm 2:20).
A mistura
É fácil ver que essa mistura de crentes e incrédulos teve um efeito muito nocivo. A forma exterior tomou o lugar da realidade, e os homens podiam exercer uma grande influência, mesmo sem serem salvos. Como poderíamos esperar, houve também uma falha em separar-se do mundo. As igrejas nacionais estavam naturalmente envolvidas no orgulho nacional, enquanto a mistura de crentes e incrédulos na maioria das igrejas fomentava uma atitude mundana, arrastando qualquer crente verdadeiro ao nível do mundo. As igrejas se envolveram na política e, pior ainda, na guerra, pois cada uma delas alegava que Deus estava com elas.
Juntamente com tudo isso, muitas igrejas receberam apoio de governos seculares e, portanto, ficaram em dívida com eles. Esperava-se que os líderes da Igreja fizessem pronunciamentos políticos e participassem dos assuntos da nação da qual faziam parte. Claro, tudo isso também teve seus problemas. Ao comentar um livro recente, Protestantes: A Fé que Construiu o Mundo Moderno, de Alec Ryrie, a RevistaTime observa que “uma moral do livro ‘Protestantes’ é que o apego às questões políticas tendeu a deixar os movimentos protestantes ‘perderem sua força religiosa”. Tudo isso apenas ecoa o comentário de um irmão bem conhecido, no sentido de que “quando a Igreja perde o sentido de seu chamado celestial, humanamente falando, ela perde tudo”.
Vistos por Deus
Os comentários de Deus sobre o protestantismo são encontrados em Apocalipse 3:1, onde Ele diz: “Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto”. O nome estava lá, mas não a realidade, porque muitos eram meros professos mortos. Mas nem tudo foi perdido. O Senhor aponta que “também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes” (Ap 3:4), e agradecemos ao Senhor por aqueles que são verdadeiros, mesmo em sistemas que podem ser em grande parte compostos por incrédulos. Também, prestamos homenagem aos muitos que, não conhecendo toda a verdade de Deus, viveram de acordo com a luz que tinham no protestantismo. Muitos foram usados poderosamente pelo Senhor, especialmente na composição de hinos. Indivíduos como Isaac Watts, Horatius Bonar, Thomas Kelly e Mary Bowley, para citar alguns, todos viveram e morreram em igrejas protestantes, mas escreveram alguns dos hinos mais bíblicos e edificantes.
O chamado celestial
Além disso, Deus não deixou o protestantismo sem um forte testemunho da verdade da Igreja. Quase 200 anos atrás, Ele levantou homens que foram usados para trazer de volta a verdade da Igreja e agir nisso. O resultado foi um movimento que afetou toda a Cristandade, pois verdades como a chamada celestial da Igreja, a liderança do Espírito Santo na assembleia, o iminente retorno do Senhor Jesus para Sua Igreja, e muitas outras, foram claramente trazidas novamente. Muitos deixaram suas associações eclesiásticas simplesmente para se reunirem ao nome do Senhor Jesus. É triste dizer, o movimento hoje denominado “evangelicalismo”, aprecia muitas destas preciosas verdades, mas falha em assumir a posição desprezada de estar fora dessas religiões organizadas. Neste sentido, nos E.U.A, constatamos evangélicos tomando uma parte importante na vida politica do país e constantemente abraçando a teologia do pacto, que sustenta que os Cristãos devem “mudar o mundo” e se prepararem para o reino vindouro.
O fim do protestantismo
Mas qual será o fim do Protestantismo? Sabemos que todo verdadeiro crente será arrebatado na vinda do Senhor. Porém, aqueles que forem deixados para traz farão parte de Laodiceia, aqueles que dizem: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta” (Ap 3:17). Mais do que isso, eles acabarão voltando para o lugar aonde começaram – para o sistema católico romano. No final o movimento ecumênico de hoje verá tudo o que resta das igrejas protestantes reunidas com Roma e sob o seu controle. A falsa igreja será a Babilônia religiosa que o Senhor destruirá, tipificada por uma mulher que, por um tempo, controlará o sistema político da besta romana (Apocalipse 17). Por fim, ela será derrubada, pois lemos: “Com igual ímpeto será lançada Babilônia, aquela grande cidade, e não será jamais achada” (Ap 18:21).
A palavra para o crente hoje é a mesma que será naquele tempo terrível: “Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados” (Ap 18:4). A separação do que não está de acordo com a Palavra de Deus é o caminho de bênção para nós, em tempo.
