Origem: Revista O Cristão – Gideão

Qualificação para o Serviço

O Livro dos Juízes é o registro do fracasso de Israel na terra. Deus os havia tirado do Egito, os fez passar pelo Mar Vermelho, depois os conduziu pelo deserto e os colocou na posse da herança prometida. Enquanto andassem em obediência e dependência, nenhum inimigo poderia permanecer diante deles. Mas o homem invariavelmente falha quando recebe a bênção sob responsabilidade, mesmo sob as circunstâncias mais favoráveis, e Israel não foi exceção.

“E serviu o povo ao SENHOR todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que prolongaram os seus dias depois de Josué” (Jz 2:7), mas então “outra geração após eles se levantou, que não conhecia o SENHOR, nem tampouco a obra que fizera a Israel. Então, fizeram os filhos de Israel o que parecia mal aos olhos do SENHOR; e serviram aos baalins” (Jz 2:10-11). Mas, com o fracasso de Israel, também vemos a fidelidade do Senhor, e da fidelidade de Deus surgiu Sua graça para intervir, dando ao Seu povo um pouco de restauração no meio de seu distanciamento. A semelhança entre esse estado de coisas e o estado atual da Igreja será evidente para todos. Proponho chamar a atenção para um dos sinais mais importantes da intervenção de Deus com Israel – em Deus levantar a Gideão para ser um juiz e libertador para eles. Aqui podemos aprender as qualificações que Deus procura naqueles que Ele pode usar para serviço e testemunho entre o Seu povo.

Os midianitas 

“Os filhos de Israel”, lemos, “fizeram o que parecia mal aos olhos do SENHOR; e o SENHOR os deu na mão dos midianitas por sete anos” (Jz 6:1). Midiã descendia de Abraão por meio de Quetura, sua segunda esposa, e vez após vez eles são colocados em contato com Israel. No deserto, o Senhor disse a Moisés: “Afligireis os midianitas e os ferireis, porque eles vos afligiram a vós outros com os seus enganos” (Nm 25:17-18). Mas agora eles estão na própria terra, “assim, Israel empobreceu muito pela presença dos midianitas”. Mas quando Israel clamou ao Senhor, Ele primeiro enviou um profeta para trazer a tona seu pecado para sua consciência, e então Ele enviou um anjo para levantar um libertador. O Anjo encontra Gideão malhando o trigo no lagar para salvá-lo dos midianitas (v. 11).

Alimentando-se de Cristo 

Podemos nomear essa primeira qualificação, alimentando-se de Cristo em segredo. O trigo é certamente uma figura de Cristo (veja João 12:24; 6:35). Foi um tempo de grande dificuldade, os ídolos usurparam o lugar de Jeová, de modo que aqueles que permaneceram fiéis no meio da ruína geral só podiam adorar ao Senhor sozinhos e em privado. Assim foi com Gideão. Baal tinha um altar na casa de seu pai, mas esse “homem valente” malhava o trigo sozinho para encontrar sustento, apesar do olhar vigilante dos midianitas. Sozinho em sua família e sozinho ao malhar o trigo, reuniu força da comunhão com o Senhor.

Certamente, alimentar-se de Cristo em segredo é a fonte de toda qualificação para o serviço do Senhor. Foi assim que José foi enviado para o exílio e para uma prisão, que Moisés foi enviado por quarenta anos para o deserto e Paulo para a Arábia, pois é quando estamos a sós com Cristo que aprendemos o que nós somos e, bendito seja Seu nome, o que Ele é, na plenitude infinita de Sua graça e suficiência. O Senhor nunca pode nos usar como porta-estandarte até que ambas as lições tenham sido aprendidas.

Um coração exercitado 

A próxima qualificação é evidentemente um coração exercitado. Gideão identificou-se com a condição de seu povo, pois ele diz: “por que tudo isto nos sobreveio?” (v. 13). Entrando em seu estado, ele levou isto em seu coração diante do Senhor. E sem isso ele não teria sido qualificado para ser o ajudador deles. Nosso poder de socorrer os outros será proporcional à medida que formos capazes de tornar seus próprios sofrimentos ou dificuldades como se fossem nossos. O Senhor nos usará se formos qualificados para isso, mas, para sermos qualificados para isso, devemos ter sentido profundamente o caráter do mal em que nós, o povo de Deus, estamos embaraçados, e devemos ter lamentado isso diante do Senhor.

Nossa nulidade 

Agora recebemos outra qualificação muito importante: um sentimento de nossa própria nulidade, e assim Gideão responde: “Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai” (v. 15). Seus exercícios não foram, portanto, sem bênção, pois ele estava agora no lugar onde o poder de Deus poderia vir e usá-lo. Todos os servos do Senhor devem aprender esta lição mais cedo ou mais tarde, que não há nada em si que possa ser usado para Deus; todos os seus recursos e força estão fora deles mesmos. Não é mais uma questão do que os midianitas são, mas do que Deus é. Assim, o Senhor disse agora a Gideão: “Porquanto Eu hei de ser contigo, tu ferirás os midianitas como se fossem um só homem” (v. 16).

Liberdade 

Gideão se torna mais ousado, prepara um cabrito e bolos asmos de farinha, e coloca sua oferta, na direção do Anjo, sobre a rocha. “E o Anjo do SENHOR estendeu a ponta do cajado que estava na sua mão e tocou a carne e os bolos asmos; então, subiu fogo da penha e consumiu a carne e os bolos asmos; e o Anjo do SENHOR desapareceu de seus olhos” (v. 21). Por este fato Gideão fica sabendo que tinha visto o Anjo do Senhor face a face, e ele está cheio de medo. “Porém o SENHOR lhe disse: Paz seja contigo; não temas, não morrerás”. E assim ele obtém do Senhor mais uma qualificação para o serviço: uma alma em liberdade – em paz – diante de Deus. Deus revelou-Se a Seu servo e agora ele se sente em casa, na presença de Deus. Aqui temos uma conexão direta entre paz e serviço.

Um adorador 

A consequência imediata no caso de Gideão foi que ele se tornou um adorador. “Então, Gideão edificou ali um altar ao SENHOR e lhe chamou SENHOR é Paz (Jeová-shalom) (v. 24). Ele adora a Deus como Aquele que comunicou a paz para sua alma. O verdadeiro servo deve primeiro ser um adorador, pois sair em serviço antes de sermos adoradores é mal representar nosso Senhor e nos expor à derrota. Vamos então ter cuidado para manter a ordem divina.

Obediência 

Agora o Senhor chama Gideão para agir, mas ele deve primeiro começar em casa. Ele deveria derrubar “o altar de Baal” e cortar “o bosque que está ao pé dele”. Então ele deveria tomar “o segundo boi e o oferecerás em holocausto com a lenha que cortares do bosque” (vs. 25-27). Aqui temos a obediência. Gideão foi associado com o mal na casa de seu pai e, como alguém disse: “A fidelidade interior precede a força exterior; esta é a ordem de Deus”. Até destronar o ídolo na casa de seu pai, ele não poderia ser enviado para ferir os midianitas.

O Senhor Jesus derrotou Satanás no deserto pela obediência; a resposta: “Está escrito”, frustrou-o em todos os ataques. E aqui também estava a força de Gideão, pois tão logo ele recebeu a ordem, ele “fez como o SENHOR lhe dissera” (v. 27). O diabo resistido por meio da obediência é o diabo derrotado.

Poder 

Gideão é agora um vaso “santificado e idôneo para uso do Senhor”, e temos, consequentemente, a qualificação máxima de poder. O vaso está agora preparado para o serviço, mas imediatamente nos é dito: “E todos os midianitas, e amalequitas, e os filhos do Oriente se ajuntaram num corpo, e passaram, e puseram o seu campo no vale de Jezreel. Então, o Espírito do SENHOR revestiu a Gideão, o qual tocou a buzina, e os abiezritas se ajuntaram após ele. E enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, que também se convocou após ele; também enviou mensageiros a Aser, e a Zebulom, e a Naftali, e saíram-lhe ao encontro” (vs. 33-35). Enquanto Gideão está sendo preparado, os midianitas ainda estão parados, quando Gideão está pronto, Deus os reúne para destruição.

Gideão está agora equipado, pronto para o conflito. Haverá fraquezas e fracassos, sem dúvida, mas ainda assim ele é alguém a quem o Senhor pode utilizar agora. Que Deus conceda que as sete qualificações de Gideão possam ser encontradas em todos os que estão engajados em Seu serviço e testemunho nestes dias finais!

E. Dennett

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