Origem: Revista O Cristão – A Criação de Filhos – Parte 2
Quando as Leis São Contrárias à Escritura
Uma das questões que os Cristãos hoje enfrentam, com cada vez mais frequência, é como reagir quando os governos aprovam leis que são contrárias aos princípios da Palavra de Deus. Essas leis podem impactar muitas áreas de nossa vida, e não estou me referindo a países onde a perseguição aberta é comum e onde os Cristãos são rotineiramente maltratados. Em vez disso, estou me referindo aos chamados países “livres”, onde a liberdade de religião supostamente existe e onde os Cristãos não são perseguidos abertamente.
Por exemplo, no Canadá, na província de Ontário, os médicos devem, por lei, encaminhar pacientes para aborto, contracepção, cirurgia transgênero ou suicídio assistido, mesmo que o médico se oponha conscienciosamente a esses procedimentos. A realidade de que o encaminhamento torna o médico um “cúmplice do fato” não é considerada objeção viável.
Leis que conflitam
No contexto da criação dos filhos, outras leis foram promulgadas em algumas jurisdições que tornam difícil para os pais Cristãos obedecerem à Palavra de Deus. No Canadá, foi proposta uma lei (embora ainda não aprovada pelo Parlamento) que tornaria ilegal os pais enviarem uma criança para aconselhamento, se a criança expressasse uma preferência de gênero diferente de seu sexo biológico. (Aconselhamento ilegal seria aquele que visasse orientar as crianças a respeito de seu sexo biológico, em vez de permitir que escolhessem seu sexo).
Mais difundidas são as leis que proíbem os pais de baterem em seus filhos. A Suécia foi o primeiro país a proibir as palmadas em 1979 e, até hoje, mais de 50 países no mundo seguiram o exemplo. A lista inclui vários países da Europa Ocidental, como Holanda, França, Portugal e Alemanha, bem como alguns países da Europa Oriental, África e América do Sul. A palmada é ilegal também na Nova Zelândia.
Currículos questionáveis
Em outras situações ainda, os pais Cristãos às vezes ficam preocupados com o conteúdo dos currículos nas escolas públicas, especialmente nas áreas de homossexualidade e educação sexual. Em algumas nações, o ensino doméstico é permitido, o que contorna a dificuldade, mas em outras nações isso é ilegal. Como os pais Cristãos devem reagir em tais situações? Se desobedecerem à lei, podem ser mandados para a prisão, mas pior ainda, podem ser declarados pais inadequados e ter seus filhos tirados à força.
Não há resposta fácil para esses dilemas e, antes de tudo, devemos estar sempre diante do Senhor a respeito deles. A Escritura é clara que “mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5:29), mas devemos ser cuidadosos ao interpretar o que “obedecer a Deus” significa em cada situação. Somente o Senhor pode nos dar sabedoria sobre como devemos reagir. Vamos considerar a questão das palmadas.
Disciplina precoce
Em primeiro lugar, um irmão mais velho, há muito tempo com o Senhor, costumava dizer: “Se a disciplina começar cedo na vida de uma criança, a maioria das palmadas acontecerá antes que a criança possa sequer se lembrar delas especificamente”. Isso é muito verdadeiro. Se a vontade das crianças for moldada aos dois ou três anos de idade, elas provavelmente não precisarão de palmadas frequentes depois disso.
Em segundo lugar, as palmadas devem ser o último recurso na punição. A Escritura diz: “A vara e a repreensão dão sabedoria” (Pv. 29:15), e uma vez que a vontade da criança seja moldada adequadamente em uma tenra idade, a repreensão pode ser tudo o que seja necessário na maior parte do tempo. Conheci lares onde os pais achavam que, quando alguma coisa errada era cometida, uma surra era sempre necessária, com base no princípio de que “toda transgressão” deve receber “uma justa retribuição” (Hb 2:2), mesmo que a criança tivesse obviamente aprendido a lição por meio da reprovação. Tal atitude ao criar os filhos não tem base na Palavra de Deus.
Situações intoleráveis
Terceiro, se a situação torna-se intolerável, alguns pais até consideraram a mudança para outra jurisdição onde as leis eram diferentes. Claro, este é um grande passo, mas certamente preferível a perder os filhos para que sejam levados pelas autoridades. No passado, muitos Cristãos fugiram de países onde a perseguição religiosa estava presente, e é bem conhecido que os Pais Peregrinos que vieram para a América buscavam principalmente a liberdade de culto. O Senhor pode tornar essa opção possível para nós em alguns casos.
Finalmente, alguns pais podem decidir obedecer à lei e não bater em seus filhos. Não sejamos críticos deles, pois embora a Palavra de Deus ensine o uso do castigo corporal, isso não é tão importante quanto a consistência. Existem outras maneiras de disciplinar as crianças, e a consistência em moldar seu comportamento é mais importante do que o tipo de disciplina.
Outras opções
Com relação aos currículos nas escolas públicas, mais uma vez, muita oração é necessária. É angustiante para os pais Cristãos saber que seus filhos podem ser submetidos desde tenra idade a um ensino na área da educação sexual que é contrário à Palavra de Deus e que podem ser expostos àqueles que mantêm e ensinam o casamento do mesmo sexo ou a prática aberta da homossexualidade. É especialmente difícil quando esses assuntos são ensinados a crianças em tenra idade, quando suas mentes são muito impressionáveis.
Em alguns casos, pode ser possível que as crianças sejam dispensadas de assistir a essas aulas, mas nem sempre é possível. Em outros casos, pode ser possível mandar os filhos para uma escola particular, mas nem todos os pais podem pagar. Às vezes, a única solução é os pais encorajarem os filhos a falar sobre o que ouviram na escola e depois abrir a Palavra de Deus sobre o assunto. Com muita oração e na dependência do Senhor, podemos confiar que Ele usará Sua Palavra no coração deles que se oporá ao que é contrário a ela. Sem dúvida, todos nós já ouvimos falar de crianças de lares Cristãos que tiveram que resistir ao ensino ateísta dos regimes comunistas, e o fizeram fielmente. Nesses casos, os pais não tinham outro recurso senão o Senhor e Sua Palavra.
Novamente, é impossível dar um remédio para cada circunstância, pois cada situação é única. Mas o Senhor, que conhece todas as nossas dificuldades nestes últimos dias, pode dar sabedoria do alto, se Lhe pedirmos. Estamos realmente em “tempos perigosos” (KJV) mencionados em 2 Timóteo 3 e podemos esperar que as coisas piorem com o passar do tempo. No entanto, se houver um desejo sincero de agradar ao Senhor, lembremo-nos de que “Ele será a estabilidade dos teus tempos” (Is 33:6 – JND) e que permitirá “humilhar-nos perante o nosso Deus, para buscar Lhe o caminho certo para nós, para nossos pequeninos” (Ed 8:21 – JND).