Origem: Revista O Cristão – Amizade

Que Amigo Temos em Jesus

A maioria de vocês provavelmente conhece o hino “Que Amigo Temos em Jesus” (hino 102 do nosso Hinário). O hino é bem conhecido mesmo fora do mundo de língua inglesa e foi traduzido para vários outros idiomas. Ele já foi cantado em italiano no Vaticano, em Roma, e em russo, em Moscou. No entanto, muitos desconhecem como o hino foi escrito e como o autor não apenas apreciava o Senhor Jesus como um querido Amigo, mas também refletia esse mesmo caráter como amigo para os outros.

Joseph Scriven nasceu em 1819 na Irlanda e cresceu em tempos turbulentos, enquanto a Irlanda sofria um declínio econômico. Ele se formou no Trinity College em 1842 e posteriormente resistiu à conhecida Grande Fome Irlandesa, quando a safra de batata foi perdida em 1845. Mas o mais importante em sua juventude foi ele ter aceitado a Cristo como seu Salvador aos oito anos de idade e se interessar por aqueles que se reuniam de forma simples para adorar como irmãos, à parte de qualquer denominação.

A perda de sua noiva 

Um ano após sua formatura na Trinity, ele ficou noivo. Na véspera do casamento, sua noiva morreu afogada diante de seus olhos, mas ele nada pôde fazer para salvá-la. Nem é preciso dizer que isso foi um choque terrível para ele, e pouco tempo depois ele emigrou para o Canadá. Sua mãe comprou para ele um caro sobretudo para que ele pudesse suportar os invernos rigorosos do Canadá, mas, enquanto caminhava pelas ruas de Dublin, ele encontrou um mendigo e mais tarde disse à mãe: “Dei meu casaco para um homem que precisava mais dele do que eu“. Foi uma atitude e uma ação que caracterizariam toda a vida de Joseph Scriven.

Ele voltou para a Irlanda no ano seguinte, após adoecer no Canadá, e foi então convidado a viajar pelo Oriente Médio. Foi lá, em Damasco, enquanto caminhava pela Rua Direita e refletia sobre a conversão de Saulo de Tarso (mais tarde apóstolo Paulo), que lhe veio a inspiração para o seu hino mais famoso. Foi escrito como um poema, e ele enviou uma cópia para sua mãe. Ao retornar à Inglaterra, ele começou a ensinar e pregar. Novamente ele cortejou uma jovem, mas, quando um pretendente rival apareceu, Scriven cedeu sem egoísmo a ele.

A terceira perda 

Joseph Scriven voltou para o Canadá, desta vez em definitivo, e trabalhou por alguns anos na área de Woodstock-Brantford, em Ontário. Alguns anos depois, ele se mudou para o leste de Ontário, para a cidade de Port Hope. Foi ali que ele passou seus anos mais frutíferos, mas também vivenciou outra tragédia. Aos 40 anos, ele ficou noivo novamente de uma jovem chamada Catherine Roche. Ela havia se convertido recentemente e sido batizada em Rice Lake, em abril. As águas geladas do lago resultaram em uma pneumonia, e Catherine faleceu após vários meses de sofrimento. Essa terceira perda teve o maior impacto em Joseph Scriven, e ele permaneceu solteiro pelo resto da vida.

Embora tudo isso certamente o tenha entristecido, parecia apenas aumentar sua devoção a Cristo, seu desejo de compartilhar o evangelho e sua amizade com os necessitados. Ele frequentemente pregava em público, distribuía folhetos evangelísticos e, às vezes, um poema de sua autoria. Em 1857, alguns de seus amigos íntimos conheciam o poema “Que Amigo Temos em Jesus” (hino 102 do nosso Hinário). No entanto, ele escreveu muitos outros hinos (mais de 100), embora a maioria deles seja desconhecida e não seja cantada hoje.

Trabalho pelos pobres 

Há mais um incidente que vale a pena repetir. Em 1864, no centro de Port Hope, duas mulheres caminhavam pela rua. Elas viram um homem de meia-idade vindo na direção delas carregando um cavalete e uma serra. Uma mulher cumprimentou o homem, e a outra perguntou: “Você conhece esse homem? Estou precisando de um homem para cortar lenha, e é difícil encontrar alguém que faça bem o serviço”. A outra mulher respondeu: “Esse é Joseph Scriven, mas ele não vai cortar lenha para você”. A outra perguntou: “Por que não?” E a resposta foi: “Porque você pode pagar. Ele serra lenha para viúvas pobres e pessoas enfermas; ele costuma enviar madeira para elas e contratar um homem para cortá-la. Ele tem renda do país de origem e gasta tudo com os pobres, exceto o que precisa para se sustentar de uma maneira tranquila”.

Outra pergunta surgiu: “Há quanto tempo ele faz isso?” “Não sei dizer com certeza”, foi a resposta, “mas ouvi dizer que, quando ele era um jovem prestes a se casar, sua noiva se afogou acidentalmente no dia anterior ao casamento. Enquanto olhava fixamente para o rosto inerte dela, ele ficou tão profundamente impressionado com a futilidade de todas as alegrias e esperanças terrenais que consagrou seu coração, sua vida e sua fortuna ao serviço de Cristo”.

Ele foi para junto do Senhor em 1886, aos 67 anos. Foi sepultado perto de Rice Lake, Ontário, ao lado da última mulher com quem esteve noivo, Catherine Roche. Podemos certamente dizer de Joseph Scriven, como é dito de Abel dos tempos antigos: “mesmo depois de morto, ainda fala” (Hb 11:4 – ARA).

W. J. Prost

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