Origem: Revista O Cristão – Castigo
Uma Reação Correta
Em outros artigos desta edição de O Cristão, vimos que Deus disciplina e treina cada um de Seus filhos, frequentemente descrito na Escritura sob a ampla categoria do castigo. Também vimos que a palavra “castigo”, da forma como é usada na Palavra de Deus, incorpora todas as maneiras de Deus conosco, e não somente aquelas coisas que são corretivas ou punitivas. No entanto, nossa reação às maneiras de Deus conosco pode ser certa ou errada.
Frequentemente se tem dito, e com razão, que neste mundo existem ações erradas e reações erradas, e que “dois erros não fazem um acerto”. Embora os caminhos de Deus para conosco sejam sempre perfeitos, Ele pode ocasionalmente envolver um instrumento humano, ou mesmo Satanás, para realizar Seus propósitos. Logo, as formas e meios da ação não são perfeitos e podem facilmente provocar uma reação errada em nós. É triste dizer que mesmo os verdadeiros crentes, se não andarem com o Senhor, podem encontrar falhas, não apenas no instrumento, mas também no próprio Deus, e reagir de maneira errada.
Justificar a Deus
Antes de tudo, então, é muito importante justificar a Deus em todas as Suas maneiras conosco. Ele pode, ocasionalmente, permitir circunstâncias muito difíceis em nossa vida, como fez com Jó. Mas Jó teve que aprender da boca de Eliú que o caminho para a bênção era justificar a Deus, e então, se necessário, ir ao Senhor e dizer: “O que não vejo, ensina-mo Tu” (Jó 34:32). Quando Jó finalmente fez isso, ele realmente aprendeu o valor do castigo e obteve a bênção que Deus pretendia para ele.
Segundo, é importante não olhar para o instrumento que o Senhor possa usar. Tudo o que o homem faz está necessariamente manchado de fracasso e pode, em alguns casos, incluir muito daquilo que não é de Deus. No entanto, devemos aceitar como vindo do Senhor e aprender com isto. Um irmão mais velho, sob cujo ministério tive o privilégio de sentar-me quando adolescente, fez este comentário muitas vezes: “Se alguém diz algo desagradável a você ou a seu respeito, não olhe para a pessoa que disse. Pergunte ao Senhor por que Ele permitiu isso”. Foi um excelente conselho. Nós nos apressamos em dizer, entretanto, que, da parte daquele que diz algo desagradável, agir na carne para com um irmão na fé é sempre errado. O Senhor pode muito bem ter que lidar com aqueles que fazem isso. Esse foi o caso com os três amigos de Jó, porém Deus os usou para revelar um lado de Jó que precisava de correção. É significativo que Deus não “virou o cativeiro de Jó” até ele orar por esses mesmos amigos; então, eles, um após o outro, tiveram que ir a Jó e oferecer um sacrifício pelo que falaram de errado com ele (Jó 42:7-10). Entretanto, não somos responsáveis por uma ação errada dirigida a nós; somos responsáveis apenas por nossa reação. Quantos amados santos perderam a bênção que o Senhor tinha para eles em tempos de castigo, porque focaram nas ações erradas, ou no modo e meios errados daqueles que o Senhor escolheu usar no castigo. Vamos olhar além do instrumento e não cair nessa armadilha.
Desprezando o castigo
Há três principais reações ao castigo mencionadas na Palavra de Deus, todas em Hebreus 12. A primeira é, “Filho Meu, não desprezes o castigo do Senhor” (Hb 12:5 – KJV). Infelizmente, essa é uma reação comum e ruim. Alguém disse corretamente que o homem natural reage a qualquer tipo de problema tornando-se endurecido ou esmagado. Desprezar o castigo significa tornar-se endurecido e recusar-se a ouvir a voz do Senhor. Vemos muito disso no mundo ao nosso redor durante a atual pandemia de COVID à medida que as dificuldades se arrastam e o fim dela parece indefinido. Enquanto alguns parecem estar enfrentando razoavelmente bem, muito poucos parecem estar reconhecendo a voz de Deus para eles. A maioria está esperando pelo retorno ao normal o mais rápido possível, para que possam seguir com um estilo de vida mundano. Outros estão ficando furiosos, conforme “velhas mágoas” e frustrações são trazidas à tona, e o resultado é violência sob todas as formas.
Mesmo crentes verdadeiros não estão imunes a essa reação. Entre os que conhecem o Senhor, certamente esperamos ver mais respeito pelas maneiras do Senhor lidar conosco, porém é possível, mesmo para aqueles com nova vida, desprezar o treinamento de Deus e, assim, perder a lição que o Senhor tem para eles.
Desmaiando
A próxima reação está no mesmo versículo (Hb 12:5): “E não desmaies quando, por Ele, fores repreendido”. Aqui está a segunda reação do homem natural – ser esmagado pela mão de Deus e desmaiar. Essa é outra reação comum entre as pessoas mundanas, sendo o resultado de pensamentos errados a respeito de Deus. Quando o homem natural é trazido à presença de Deus e não quer se arrepender, muitas vezes o desespero é o resultado. Esse foi o caso com Caim, que reclamou, “Minha punição é maior do que eu posso suportar” (Gn 4:13 – KJV). Porém, não houve arrependimento ou o reconhecimento das reivindicações de Deus sobre ele.
Da mesma forma, até mesmo um crente hoje pode desmaiar sob os caminhos de Deus, embora sejamos lembrados em 1 Coríntios 10:13 de que “fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis”. A palavra “desmaiar” neste contexto (como é usada em Hebreus 12:5) tem a ideia de desistir e é o oposto de ter “cingidos os vossos lombos”. O Senhor sabe o que somos capazes de suportar e não impõe aquilo que é difícil demais para nós. Já mencionamos Jó, que possivelmente sofreu mais do que qualquer outro homem, exceto nosso bendito Senhor Jesus. Jó realmente desmaiou em alguns momentos, mas Deus não permitiu mais do que o necessário para produzir o resultado correto. No final, valeu a pena!
Exercitados por ele
Isso nos leva à reação final ao castigo, a que é correta: “Nenhum castigo, ao presente, parece ser de gozo, senão de tristeza; mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos que são exercitados por ele” (Hb 12:11 – KJV). Ser “exercitados por ele” honra o Senhor, que enviou o castigo, reconhece Sua mão nele, O justifica e abre a porta para que Ele nos revele o motivo do castigo. Acredito que isso é o que está implícito, pelo menos em parte, na expressão: “Deus […] vos não deixará ser tentados além do que podeis; mas, com a tentação, fará também a saída, para que podeis suportá-la” (1 Co 10:13 – JND). “Fazer a saída” sugeriria Deus mostrando por que permitiu o castigo, e, assim, não só sabemos que terá um fim, mas também que será para nossa bênção final.
É uma experiência abençoada estar na escola de Deus e aprender d’Ele coisas que não somente trazem benefícios presentes, mas que terão um efeito duradouro por toda a eternidade. Temos apenas esta vida para construir para a eternidade; não desperdicemos a oportunidade, desprezando ou desmaiando sob a mão de Deus sobre nós.