Origem: Revista O Cristão – Guerra Cristã
A Real Causa da Perseguição
Embora diferentes razões possam ser dadas por diferentes pessoas e governos para perseguir os Cristãos, acreditamos que a real causa é a inimizade do coração contra Cristo e Sua verdade, como visto na vida piedosa dos Seus. Além disso, a luz que irradiam torna manifestas as trevas ao redor e expõe e reprova as inconsistências de falsos professantes e a vida de impiedade dos ímpios. O inimigo, tomando ocasião por essas coisas, incita as cruéis paixões daqueles que estão no poder para apagar a luz, perseguindo o portador da luz. “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz” (Jo 3:20 – ACF). Esta tem sido a experiência de todos os Cristãos, em todas as épocas, tanto em tempos de paz como em tempos de angústia. Nenhum de nós está isento de perseguição, de forma velada ou abertamente, se vivemos de acordo com o Espírito e a verdade de Cristo. Entre as últimas palavras que Paulo escreveu, lemos estas: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3:12).
A seguir está o que pode ser considerado como algumas das causas inevitáveis de perseguição, olhando para os dois lados da questão – os propósitos de Deus e as razões do homem.
A guerra de agressão
O Cristianismo, diferentemente de todas as outras religiões que o precederam, era agressivo (abertamente ativo) em seu caráter. O judaísmo era exclusivo (a religião de uma só nação), enquanto Cristo era proclamado para o mundo todo. Isso era algo totalmente novo na Terra. “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16:15) foi a ordem do Senhor para os discípulos. Eles deviam sair e fazer guerra contra o erro, em todas as suas formas e modos de operação. A conquista a ser feita era o coração ser levado para Cristo. “Porque as armas da nossa milícia”, diz o apóstolo, “não são carnais, mas poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 10:4-5). Nessa guerra de agressão contra as instituições existentes e contra os hábitos corruptos dos pagãos, os discípulos de Jesus não tinham muito o que esperar senão resistência, perseguição e sofrimento.
Religiões pagãs e o Estado
As religiões pagãs que o Cristianismo estava rapidamente minando e destinando à queda eram instituições do Estado. Elas estavam tão intimamente entrelaçadas com os sistemas civil e social que atacar a religião era o mesmo que entrar em conflito tanto com o civil quanto com o social. E isso foi exatamente o que aconteceu. Se a igreja primitiva tivesse sido tão acolhedora com o mundo como a Cristandade faz agora, muita perseguição teria sido evitada. Mas a igreja primitiva não aceitaria tal negligente acomodação. O evangelho que os Cristãos então pregavam, e a pureza da doutrina e da vida que eles mantinham, abalaram o alicerce das antigas, e profundamente enraizadas, religiões do Estado. Os Cristãos naturalmente se afastaram dos pagãos. Tornaram-se um povo separado e distinto. Não poderiam outra coisa senão condenar e abominar o politeísmo, como algo totalmente contrário ao único Deus vivo e verdadeiro e ao evangelho de Seu Filho Jesus Cristo. Isso deu aos romanos a ideia de que os Cristãos eram hostis à raça humana, visto que condenavam todas as religiões exceto a deles próprios. Por isso, eles foram chamados de “ateístas”, por não crerem nas divindades pagãs e recusarem a adoração pagã.
A adoração Cristã
Simplicidade e humildade caracterizavam a adoração dos Cristãos. Eles pacificamente se reuniam antes do nascer do Sol ou depois do pôr do sol, para evitar qualquer ofensa. Eles cantavam hinos a Cristo como a Deus; partiam o pão em memória de Seu amor ao morrer por eles; edificavam uns aos outros e se comprometiam a uma vida de santidade. Mas eles não tinham belos templos, estátuas, ordem de sacerdotes, nem vítimas para oferecer em sacrifício. O contraste entre a sua adoração e a de todos os outros no império ficou muito evidente. Os pagãos, em sua ignorância, concluíram que os Cristãos não tinham religião e que suas secretas reuniões eram com o pior dos propósitos. O mundo agora, assim como naquela época, diria daqueles que adoram a Deus em espírito e em verdade que “essas pessoas não têm religião”. O culto Cristão, em verdadeira simplicidade, sem o auxílio de templos e sacerdotes, ritos e cerimônias, não é melhor entendido hoje, pela Cristandade professa, do que era então, pela Roma pagã. Ainda assim, é verdadeiro que “Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24).
Os interesses temporais
Com o progresso do Cristianismo, os interesses temporais de um grande número de pessoas foram seriamente afetados. Esta foi uma rica e amarga fonte de perseguição. Uma multidão incontável de sacerdotes, fabricantes de imagens, negociantes, cartomantes e artesãos encontravam bons meios de vida ligados à adoração de tantas divindades.
Todos eles, vendo a sua profissão em perigo, unindo forças levantaram-se contra os Cristãos e procuraram por todos os meios deter o progresso do Cristianismo. Eles inventaram e espalharam as piores mentiras contra tudo o que é Cristão. Os astutos sacerdotes e os ardilosos adivinhos facilmente convenceram as pessoas comuns, e a opinião pública em geral, de que todas as calamidades, guerras, tempestades e doenças que afligiam a humanidade foram enviadas sobre eles pelos deuses, que estavam irados porque os Cristãos, que desprezavam a autoridade dos deuses, eram tolerados.
Ovelhas entre lobos
Muitas outras coisas poderiam ser mencionadas, mas estas eram, em todos os lugares, as causas diárias dos sofrimentos dos Cristãos, tanto publicamente quanto na vida privada. Um momento de reflexão convencerá qualquer leitor da verdade acerca disto. Mas a fé conseguia ver a mão do Senhor e ouvir a Sua voz em tudo: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; […] eles vos entregarão aos sinédrios e vos açoitarão nas suas sinagogas; e sereis até conduzidos à presença dos governadores e dos reis, por causa de Mim, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios […] Não cuideis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10:16-18, 34).