Origem: Revista O Cristão – O Relacionamento Noiva-Noivo
A Noiva do Cordeiro
Efésios 5:22-32
Como a noiva do Cordeiro, a Igreja é vista como inteira para Cristo – o objeto de Seu amor, cuidado e deleite. Este aspecto da Igreja põe em evidência de maneira especial o amor de Cristo e por isso apela diretamente ao nosso coração. Não há relacionamento mais íntimo do que o de um noivo com sua noiva. Estas figuras mostram adequadamente o amor de Cristo por Sua Igreja. Podemos dizer que o Espírito de Deus usou este, o mais íntimo de todos os relacionamentos, para o demonstrar:
Primeiro, a Igreja como objeto do amor, cuidado e deleite de Cristo.
Segundo, que na Igreja haverá um objeto adequado para Cristo amar.
Terceiro, que na Igreja será encontrada uma companheira adequada para compartilhar com Cristo as glórias vindouras de Seu reinado. Tudo o que o Noivo herda a noiva herdará. Como ela é a participante dos Seus sofrimentos no dia da Sua rejeição, ela será a participante do Seu trono no dia da Sua glória. Quando Cristo reinar sobre a vasta Terra, ela reinará com Ele.
Nesta porção muito prática da Epístola aos Efésios, o apóstolo está nos exortando quanto à conduta que convém aos crentes no relacionamento matrimonial. Ao fazer isso, ele mostra o caráter íntimo do relacionamento. Existem outras relações na vida, como pais e filhos, irmãos e irmãs, mas em nenhum relacionamento o elo é tão próximo como o do marido e da esposa. O apóstolo diz: “Serão os dois uma só carne”. Mais uma vez ele diz: “Assim devem os maridos amar a sua própria mulher como a seu próprio corpo”. Eles são vistos como um.
Para reforçar essas exortações e mostrar o verdadeiro caráter desse relacionamento temporal de marido e mulher, o apóstolo se volta para o relacionamento eterno de Cristo e Sua Igreja. Isso leva a uma revelação muito bonita do amor de Cristo por Sua Igreja vista sob a figura de uma noiva, da qual Eva, no Jardim do Éden, é usada como uma figura impressionante. O apóstolo traz diante de nós o amor de Cristo que assegura a noiva para Si mesmo, então, possuindo a noiva, o amor que a conforma em adequação a Si mesmo, e finalmente, tendo preparado a noiva, o amor que a apresentará a Si mesmo.
O amor que assegura a noiva
Primeiro lemos: “Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela” (v. 25). A fonte de todas as bênçãos para a Igreja é o imerecido amor de Cristo. Antes que a Igreja fosse trazida à existência, Ele a amava com um amor perfeito, divino e infinito. Ele não morreu primeiro, e então a purificou e depois a amou, mas primeiro a amou, morreu por ela e depois a purificou. E amando a Igreja, Ele deu a Si mesmo por ela; Ele não somente fez algo por ela; Ele não simplesmente desistiu de algo por ela. Seu amor foi muito mais longe do que fazer algo ou abandonar algo por causa da Igreja. Seu amor foi ao extremo: Ele deu a Si mesmo, tudo o que Ele é em Suas infinitas perfeições, e nada foi retido. Ele deu a Si mesmo! Ele não poderia dar nada a mais. E dando-Se a Si mesmo pela Assembleia, Ele a assegura para Si mesmo e a possui por um título perfeito. A Igreja realmente existe como resultado da obra de Cristo. Cristo comprou a Igreja para Si mesmo. Portanto, embora o casamento ainda não tenha ocorrido, a relacionamento entre Cristo e a Igreja já existe. A Igreja não é uma companhia de pessoas que estão sendo colocadas à prova por comandos que devem obedecer para então ganhar o relacionamento. Cristo nos levou a um relacionamento com Ele mesmo inteiramente por Sua própria obra, o fruto de Seu próprio amor. As responsabilidades e privilégios da Igreja fluem do relacionamento que já foi formado. Nós pertencemos a Cristo, e é nosso privilégio, assim como nossa obrigação, ser inteiramente d’Ele e inteiramente para Ele. Cristo sempre foi Fiel em Seu amor imutável, embora, infelizmente, o quanto que a noiva falhou em devoção ao Noivo!
O amor que santifica a noiva
Em segundo lugar, tendo apresentado de maneira tão comovente o amor de Cristo ao Se entregar pela Igreja no passado, o apóstolo prossegue, falando sobre as atividades do amor de Cristo por Sua noiva no tempo presente. Ele nos diz que Cristo assegurou sua noiva “para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra” (Ef 5:26). O amor que pela morte assegurou a noiva está agora ocupado em prepará-la para a suprema felicidade de estar com Ele mesmo em glória. O Noivo faria dela um objeto adequado para o Seu amor e capaz de responder ao Seu amor. Para este fim, o amor está ocupado em santificar e purificar a noiva. A purificação não é para que possamos pertencer a Ele, mas porque somos d’Ele, e sendo d’Ele, Ele nos terá de maneira apropriada para Si mesmo. Ele quer nos ter em devotada afeição separados inteiramente para Si e limpos de tudo o que é contrário a Ele mesmo.
O meio usado para isso é “a lavagem da água, pela Palavra”. O Senhor expressa isso em Sua oração ao Pai quando ora: “Santifica-os na verdade: a Tua Palavra é a verdade… E por Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” (Jo 17:17, 19). O Senhor Se separa no céu, para que, como Estevão, possamos olhar para os céus abertos e encontrar em Cristo, em glória, um Objeto santificador. Olhando para Ele em glória, vemos o que Ele quer que sejamos, e contemplando a glória do Senhor, somos transformados na mesma imagem de glória em glória, e assim percebemos o poder transformador de um Objeto perfeito. A Palavra, também, enquanto direciona nosso olhar para Cristo, nos dá uma verdadeira revelação das perfeições d’Aquele que contemplamos, de modo que não nos é permitido nenhuma imaginação sentimental de nosso próprio coração. Por outro lado, a Palavra detecta e condena em nós e em nosso redor tudo o que é contrário a Cristo e ao lugar onde Ele está.
Que valor isso dá à Palavra! É a Palavra que Ele usa para a purificação de Sua Igreja. Que confiança isso deve dar ao aplicar a Palavra à nossa própria alma ou ao ministrar a Palavra uns aos outros – a confiança de que estamos usando aquilo que em graça Ele usa.
À luz desta Escritura que revela a nós com o que Cristo está ocupado em Seu lugar no céu, podemos desafiar nosso coração quanto ao que estamos nos ocupando aqui embaixo. Ocorrendo na parte prática da epístola, esta revelação do amor de Cristo por Sua noiva certamente tem a intenção de ter um efeito muito prático em nossa vida. A questão para todos nós é: Será que temos diante de nosso coração o que Cristo tem diante do d’Ele? Desejamos sermos feitos adequados a Ele e capazes de desfrutar e responder ao Seu amor mesmo agora, para que, no tempo de Sua ausência, possamos ser fiéis a Cristo como uma noiva que espera por seu Noivo ausente?
O amor que apresenta a noiva a Si mesmo
Terceiro, as atividades presentes do amor de Cristo por Sua noiva estão em vista do que ainda é futuro – “as bodas do Cordeiro” – quando Ele apresentará a Igreja a Si mesmo como uma Igreja gloriosa, “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5:27). Não é só que a Igreja estará na glória, mas será “gloriosa”. Ela será como Cristo, amoldada para a Sua presença gloriosa. Assim Ele assegurou Sua noiva por Si mesmo, Ele está preparando ela para Si mesmo, e Ele a apresentará a Si mesmo. Seu amor é a fonte de tudo e aquilo que o amor começou na cruz, o amor completará na glória.
Há, no entanto, outra verdade importante a respeito de Cristo e da Igreja nesta passagem instrutiva. O apóstolo passa a nos dizer que Cristo alimenta e cuida da Igreja, tratando-nos como “membros do Seu corpo”. Isso nos traz outra preciosa verdade, distinta daquilo que estivemos considerando. Vimos que Cristo está moldando Sua noiva ao céu, agora aprendemos que Ele também está cuidando de Sua noiva na Terra. Santificação e purificação estão em vista da apresentação na glória, alimentar e cuidar faz referência à nossa jornada de peregrinação na Terra. Seu amor não apenas olha para a glória, mas cuida de nós quando passamos por este mundo de trevas do qual Ele está ausente, em nosso caminho para a glória. Ele conhece as circunstâncias em que nos encontramos, as provações que temos que enfrentar, as nossas fraquezas e enfermidades, e em todas elas Ele cuida de nós e atende às nossas necessidades, e assim é que Ele nos alimenta. Mas Ele também cuida de nós, isto é, Ele não apenas atende às nossas necessidades, mas o faz como aqueles que são cuidados como sendo muito preciosos à Sua vista.
