Origem: Revista O Cristão – O Chamado de Deus

A Rendição do Amor

A rendição presente aqui, em vista do gozo futuro, e a entrada agora naquilo que é invisível e permanente, é uma característica principal do verdadeiro Cristianismo. O amor é a fonte de tudo. O Senhor Jesus Cristo é o Exemplo mais marcante disso. “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de Homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2:6-8). Ele sacrificou tudo para glorificar a Deus. Ele desceu da glória celestial, recusou a glória terrenal, suportou a cruz e desprezou a vergonha, até que o deleite de Seu coração foi cumprido – a vontade de Deus.

Ao longo de Seu maravilhoso caminho, a alma d’Esse Homem bendito estava em comunhão com o Seu Pai. E Ele tinha uma comida para comer que nem mesmo Seus discípulos conheciam (Jo 4:32). Ele estava sempre andando na luz de Deus, sempre governado por aquela cena invisível e permanente que O cercava, cheia da glória de Deus. Ele andou aqui como o Homem dependente, completamente sob o controle da Palavra, recusando toda a glória dos homens, com a qual Satanás procurou desviá-Lo de Seu bendito caminho. Ele foi a testemunha perfeita da entrega de Si mesmo, o fruto do amor perfeito, e nos deu o exemplo de que devemos seguir Seus passos.

Agora, antes e depois do advento de Cristo neste mundo, temos exemplos fornecidos na Escritura, pelo Espírito, de homens que foram sujeitos ao chamado de Deus e que, total ou parcialmente, de acordo com a medida da fé que tinham, desistiram de coisas aqui em resposta ao chamado.

O Cristão também é chamado para fora deste mundo para entrar agora, no poder do Espírito Santo que habita em nós, naquilo que é invisível, permanente e eterno, a cena que está cheia da glória do Filho de Deus. Logo habitaremos lá e desfrutaremos sem impedimentos de Sua bendita presença para sempre, mas a fé, pelo poder do Espírito, a torna uma realidade presente para a alma. É a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem (Hb 11:1 – ARA). E embora não ter afeição natural seja um sinal dos últimos dias (2 Tm 3:3), e não honrar os pais seja contrário tanto à lei quanto ao evangelho, o Senhor disse: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim não é digno de Mim” (Mt 10:37). Portanto, não se deve permitir que os laços terrenais, por mais próximos e queridos que sejam, impeçam nossa resposta de todo o coração ao chamado de Deus.

Moisés 

Outro exemplo brilhante de rendição é encontrado em Moisés. Com o passar dos anos, no palácio dos faraós, suas perspectivas eram as mais brilhantes, e em uma certa combinação de eventos, ele poderia, talvez, até ter herdado o trono egípcio, porém, pela fé ele abandonou a posição em que, na providência de Deus, ele se encontrava. Ele “recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível” (Hb 11:24-27). Se ele tivesse raciocinado de acordo com os pensamentos naturais do homem, ou permitido a si mesmo ser governado pelas circunstâncias que o cercavam, ele teria se agarrado à sua posição, raciocinando sobre a ajuda que poderia ser para seu povo. Mas não, ele entrou no verdadeiro chamado de Deus e sem hesitação sacrificou tudo para responder ao chamado. O opróbrio de Cristo era mais precioso a esse coração fiel do que todo o mundo à volta. Com a luz vinda de Deus, ele sabia o que recusar, o que escolher e o que estimar. Ele abandonou tudo e suportou, como vendo Aquele que é invisível. Sua recompensa era tanto presente como eterna. Que o Senhor dê a cada crente que lê estas linhas que as leve a sério, para que possamos nos identificar, a todo o custo, total e intransigentemente, com os interesses de Cristo e de Seu povo neste dia de Sua rejeição.

O jovem príncipe 

Um exemplo solene da falta de rendição é encontrado no jovem príncipe de Marcos 10:17. Correndo e ajoelhando-se na presença do Senhor, ele disse: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. O Senhor, sabendo que seu coração estava voltado para a riqueza e que desejava uma vida longa para desfrutá-la, o testou com os mandamentos que se referiam ao seu próximo. Ele professou tê-los guardado; mas o décimo mandamento, “Não cobiçarás”, o expôs. Sua retirada, triste e pesarosa, mostrou que ele amava mais os tesouros daqui do que Cristo. O Senhor o amou (v. 21), mas ele não tinha aquela reciprocidade de amor que leva à rendição neste mundo em vista daquele que está por vir. Ele poderia ter tido grandes possessões em e com Cristo para sempre, mas suas “muitas propriedades” dessa cena transitória encheram seu coração. Ele perdeu a oportunidade, e é a última vez que ouvimos falar dele.

O apóstolo Paulo 

Por outro lado, é uma bênção nos voltarmos para o caso de Paulo. Em seus primeiros dias de farisaísmo orgulhoso, Saulo de Tarso, cheio de inimizade religiosa contra Cristo, procurou apagar o nome de Jesus de Nazaré da Terra. Mas sendo encontrado em graça desde a glória por Aquele a Quem ele perseguia, quando no auge de sua furiosa carreira, a luz irrompeu em sua alma em trevas, e ele foi abençoadamente convertido a um Salvador glorificado. Imediatamente, em Damasco, em vez de perseguir Seus seguidores, ele O anunciava como o Filho de Deus. Seu coração tinha sido capturado na estrada. E agora, extasiado com Aquele bendito Homem à direita de Deus em glória, toda a sua vida dali em diante, sem reservas, como Paulo, o apóstolo dos gentios, tornou-se dedicado aos Seus interesses na Terra. Ele ficou tão completamente cativado por Cristo, que tudo aqui ficou completamente eclipsado aos seus olhos, e ele pôde escrever aos filipenses cerca de trinta anos após sua conversão: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3:7-8). A rendição de Paulo foi maravilhosa. Constrangido pelo amor de Cristo, seu coração respondeu; atraído e controlado pelo amor, no poder do Espírito, ele prosseguiu um caminho reto do início ao fim. Com ele não era vanglória, mas a simples expressão do que era verdade quando ele disse: “para mim o viver é Cristo” (Fp 1:21). Paulo seguiu a Cristo tão de perto que pôde escrever aos santos amados em Filipos: “Sede também meus imitadores, irmãos” (Fp 3:17).

Que Deus, em Sua grande graça, assim opere com tanto poder em nossa alma que, constrangidos pelo amor de Cristo, possamos, cada um sem reservas, render nossa vontade, nosso tudo, e a nós mesmos a Cristo, e assim responder no coração e na vida ao chamado de Deus. Somente assim traremos glória ao Seu nome digno de ser glorificado, que rendeu tudo o que Ele poderia sofrer por nós para que pudéssemos ser redimidos a Deus, para sempre, por Seu precioso sangue. Que a rendição do amor nos caracterize, como Seus discípulos, até que Ele venha.

E. H. Chater (adaptado)

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