Origem: Revista O Cristão – Restituição
Restituição em Relação a Deus
Em outro artigo desta edição de “O Cristão”, vimos a importância que a Palavra de Deus atribui à restituição em relação ao homem, em nossas responsabilidades uns para com os outros. Também sabemos que o homem, como cabeça da criação de Deus, tem um espírito que o capacita a reconhecer Quem é Deus e também o capacita a se comunicar com Deus. O homem é, portanto, responsável perante Deus por sua conduta, bem como perante seu próximo. Quando um pecado é cometido contra o próximo, é também um pecado contra Deus, que criou o homem à Sua imagem e semelhança. No entanto, existem pecados contra Deus que nada têm a ver com nossos semelhantes.
Pecado contra Deus
Um pecado contra Deus era mais sério do que um pecado contra o homem e, no Velho Testamento, a restituição tinha que ser feita por sacrifício, que prefigurava a obra de Cristo. Na expiação do pecado, detalhada para nós em Levítico 4, os pecados da ignorância são considerados. Mencionam-se quatro diferentes ofertas pelo pecado, e notamos que se exigia um sacrifício maior para um sacerdote ou para toda a congregação do que para uma pessoa. Também, um governante tinha de oferecer um sacrifício maior do que alguém comum do povo, mostrando que Deus reconhecia maior responsabilidade em alguns do que em outros. Deus leva em conta nosso grau de conhecimento e entendimento.
Deve tocar nosso coração perceber que, aos olhos de Deus, somente um sacrifício poderia fazer a restituição do pecado. Antes de nosso Senhor Jesus Cristo ir para a cruz do Calvário e consumar a obra da redenção, Deus aceitava um sacrifício animal que indicava a morte de Cristo. No entanto, até mesmo a morte de um animal era uma indicação solene da seriedade do pecado aos olhos de Deus.
Na expiação do pecado, é mais a iniquidade real diante de Deus que está em questão, enquanto na expiação da culpa, a ênfase está mais no dano real causado. Mais uma vez, mesmo que o indivíduo fosse ignorante de seu pecado, ele ainda era considerado culpado. Ele havia desobedecido a um mandamento definido do Senhor. É muito significativo que se um homem pecasse nas coisas sagradas do Senhor (Lv 5:14-16) ou pecasse contra seu próximo (o que também era uma transgressão contra o Senhor, Lv 6:1-7), ele deve não apenas trazer como sacrifício um carneiro sem defeito, mas também adicionar a “quinta parte” a tudo o que ele era obrigado a restituir. O carneiro falava de consagração – aquela consagração de nosso bendito Salvador para consumar a obra que o Pai Lhe dera para fazer, custasse o que custasse. Ele estava totalmente separado para Deus e podia dizer: “Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade” (Hb 10:7).
A quinta parte adicionada
Adicionar “o seu quinto [a quinta parte – TB]” ao que o indivíduo era obrigado a restaurar também é uma figura muito preciosa do que a obra de Cristo fez por nós e para a glória de Deus. Se o pecado nunca tivesse entrado neste mundo, ainda seríamos capazes de desfrutar do Jardim do Éden. Mas a obra de Cristo tem feito muito mais do que restituir o que foi tirado pelo pecado. Nosso Senhor Jesus Cristo pôde dizer profeticamente: “Então restituí o que não furtei” (Sl 69:4). Deus tem sido muito mais glorificado e nós temos sido muito mais abençoados do que se o pecado nunca tivesse entrado neste mundo. A obra de Cristo nos levou a um relacionamento mais próximo a Deus do que jamais poderia ter sido conhecido antes que o pecado entrasse neste mundo. Um hino expressa bem isso:
Embora a queda de nossa natureza em Adão
Parecesse nos afastar de Deus,
Foi assim que Seu conselho nos trouxe
Mais perto ainda, por meio do sangue de Jesus.
Vemos, então, que a restituição em relação a Deus não poderia ser feita pelos próprios esforços do homem. Ele pode satisfazer seus semelhantes por meios naturais, mas o próprio Deus não precisa de nada que o homem possa oferecer a Ele. Caim pensou que poderia trazer a Deus o fruto de uma terra amaldiçoada, mas Deus teve que rejeitar aquele sacrifício. Ao longo dos tempos, muitos pensaram que poderiam levar suas próprias boas obras a Deus, mas nenhuma delas pode tirar o pecado. O apóstolo Paulo lembrou aos atenienses que Deus não é “servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é Quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas” (At 17:25). Mesmo em questão de sacrifício, Davi reconheceu que as exigências de Deus para a restituição iam muito além da oferta de um animal. Ele disse: “Porque Te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; Tu não Te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51:16-17). Davi reconheceu que, embora os sacrifícios fossem bons aos olhos de Deus, porque falavam do sacrifício de Cristo, o arrependimento e a confissão deveriam acompanhá-los. A mera oferta de um sacrifício não era suficiente; tinha que haver o pleno reconhecimento da gravidade do pecado diante de Deus e que os próprios esforços do homem não poderiam remover a culpa.
Restituição plena
Quão gratos devemos ser que a plena restituição pelo pecado foi feita a Deus e que a poderosa obra feita por nosso Senhor Jesus Cristo na cruz não apenas eliminou nossos pecados, mas forneceu a base pela qual Deus pode nos levar a uma bênção ainda maior do que era possível antes do pecado entrar neste mundo. Deus espera arrependimento e humildade de nossa parte, e quando isso acontece, reconhecemos que somente a obra de Cristo pode satisfazer os requisitos de um Deus santo e fornecer restituição pelo dano e insulto a Deus que foi feito pelo pecado.
No entanto, há sacrifícios que podemos fazer hoje, não na forma de restituição a Deus, mas sim como uma indicação do nosso apreço pelo que Cristo fez por nós. Em primeiro lugar, temos o privilégio de oferecer “sempre… a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15). Além disso, nossa gratidão deve transbordar para os outros, pois também nos é dito “não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque, com tais sacrifícios, Deus Se agrada” (Hb 13:16). Finalmente, toda a nossa vida deve ser de sacrifício, não um sacrifício morto, como Israel ofereceu, mas sim um sacrifício vivo. Depois de ter dado uma descrição completa e brilhante da obra de Cristo e tudo o que isso significa para os crentes, Paulo apela para aqueles em Roma: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional [serviço inteligente – JND]” (Rm 12:1). Nunca podemos fazer restituição a Deus pelo que Cristo fez por nós, mas Ele valoriza aqueles sacrifícios que fluem de um coração cheio de gratidão por tudo o que Seu amor e graça fizeram por nós.