Origem: Revista O Cristão – O Digno Juiz

A Revelação

Não podemos deixar de sentir como é apropriado que o Apocalipse (ou a Revelação) seja o último livro da Bíblia, pois nele podemos ver o resultado plenamente desenvolvido da iniquidade de todas as eras. Vemos todo o mal da Igreja professa, Israel e das nações que trabalham para o terrível clímax da rebelião e da apostasia e que recebem sua sentença final no esmagador julgamento. Vemos o poder do diabo para sempre quebrado e a morte e o hades lançados no lago de fogo. Além disso, nos é permitido olhar para além do julgamento final de todo o mal e ver todos os propósitos do coração de Deus cumpridos, a glória de Cristo trazida à manifestação e a bênção eterna de Seu povo assegurada. A vinda de Cristo como o Juiz, para lidar com todo o mal e introduzir Seu reino, estabelecerá a grande verdade de que Deus é o Primeiro e o Último, o Eterno, o Todo-Poderoso.

Aprendemos, então, a partir desses versículos introdutórios que, apesar de todo o colapso do homem em sua responsabilidade – seja judeu, gentio ou Igreja – com a resultante rebelião contra Deus, violência e corrupção que enche o mundo, Deus está no trono, o Espírito está diante do trono, e Cristo está vindo para lidar com o mal e estabelecer Sua glória e domínio para todo o sempre. Além disso, os crentes são apresentados como separados de um mundo sob julgamento pelo sangue que os lavou de seus pecados e os preparou para compartilhar a glória e as bênçãos do reino vindouro de Cristo. Vendo que procuramos por tais coisas, certamente podemos dizer com o apóstolo Pedro: “Que pessoas vos convém ser em santo trato e piedade” (2 Pe 3:11).

O Filho do Homem 

Voltando-se para ver Aquele que fala, João tem uma visão do Filho do Homem, que é apresentado no caráter do Ancião de Dias descrito por Daniel (Dn 7:9-13). Não é mais o Filho do Homem em humilhação, desprezado e rejeitado pelos homens, mas o Filho do Homem em glória, prestes a agir como o Juiz. Não é mais com vestes colocadas de lado e cingidas para o serviço aos santos (Jo 13), mas com vestes judiciais. As afeições são contidas pela justiça, mostradas no cinto de ouro. A intensa santidade de Seus juízos pode ser expressa por “Sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve”. O caráter perscrutador de Seus juízos é seguramente trazido diante de nós por Seus “olhos, como chama de fogo” dos quais nada está oculto. Seus pés “semelhantes a latão reluzente, como se tivesse sido refinado numa fornalha”, nos fala de um caminho infinitamente santo que sustenta a aprovação de Deus “como um fogo consumidor”. Sua voz como o som de muitas águas domina toda voz que se opõe. Em Sua mão Ele segura sete estrelas, que aprendemos, um pouco mais adiante, que são os sete representantes das Igrejas, mostrando que tudo está sob seu poder. Da Sua boca saiu uma aguda espada de dois gumes, falando da Palavra que “penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12). Seu rosto era como o Sol brilhando em sua força, falando da luz que expõe as trevas deste mundo.

O caráter de Juiz 

Cada símbolo exibe o Senhor no caráter de Juiz. Isso foi impressionante para João, que conheceu o Senhor em Sua infinita graça e amor. O resultado é que o discípulo que uma vez sentou-se na presença do Senhor com a cabeça reclinada em Seu seio, diz agora: “caí a Seus pés como morto”. No entanto, para alguém que é um “irmão e companheiro na aflição, e no Reino, e na paciência de Jesus Cristo” (Ap 1:9), não há nada a temer. Aquele que está prestes a julgar, coloca a mão sobre o crente e diz: “Não temas”. A glória de Sua Pessoa e a grandeza de Sua obra removem nosso medo. Ele é O que existe eternamente, mas Ele Se tornou carne e morreu, e está ressuscitado para viver para sempre. Para o incrédulo, Ele é o Filho do Homem, a Quem todo o julgamento é confiado. Para o crente Ele também é o Filho do Homem que destruiu o poder da morte e do hades.

As sete Igrejas 

O primeiro capítulo nos apresentou a visão de Cristo, o Filho do Homem, em Seu caráter de Juiz, formando a primeira divisão do Apocalipse, mencionada no versículo 19 como “as coisas que tens visto”. Nos segundo e terceiro capítulos, nos são apresentadas “as que são”. É claro, por Apocalipse 1:4, 11 e 20 que a Revelação foi dirigida as sete Igrejas existentes nos dias dos apóstolos em uma província da Ásia Menor. Mas dificilmente se pode questionar que essas Igrejas em particular foram selecionadas para apresentar a imagem das condições morais que se desenvolveriam sucessivamente na profissão Cristã desde os dias dos apóstolos até o final do período da Igreja. Assim, as coisas “que são” apresentam profeticamente todo o período da história da Igreja na Terra. Além disso, essas sete Igrejas são vistas sob o símbolo de sete castiçais. Isto certamente indica que essas cartas vêem a Igreja em sua responsabilidade de ser uma luz para Cristo no tempo de Sua ausência.

O Juiz andando entre as Igrejas 

Além disso, vemos que o Senhor é apresentado como andando no meio das Igrejas como o Juiz para descobrir até onde a Igreja respondeu à sua responsabilidade de brilhar para Cristo. A partir dessas cartas, aprendemos que a Igreja, assim como todas as outras, falhariam miseravelmente em sua responsabilidade. Vemos a raiz de todo o fracasso exposto, seu progresso traçado através dos tempos, e seu fim predito quando a Igreja professa será totalmente rejeitada quando o Senhor sentir náuseas por causa dela. No entanto, no meio de todos os fracassos que vemos ali, há também os que o Senhor aprova e que é possível para o indivíduo se opor ao que o Senhor condena, e para isso existem promessas especiais de bênção.

Quão encorajador é que, nos dias finais da Cristandade, não nos resta formar nosso próprio julgamento sobre os males da Cristandade, nem sobre o que tem a aprovação do Senhor em meio ao fracasso. Nestas cartas, temos a mente do Senhor. Em cada discurso, temos a exortação: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas”. Quão importante é então que ouçamos as palavras do Senhor, registradas pelo Espírito, e assim aprender a mente do Senhor para o indivíduo em um dia de ruína. Se, no entanto, falamos da ruína da Igreja, lembremo-nos sempre, como já foi dito, que “no que diz respeito ao propósito de Deus, a Igreja não pode ser arruinada, mas no que diz respeito à sua atual condição de testemunho, para com Deus na Terra, ela está em ruína”.

Indiferença 

Além disso, se reconhecemos a ruína da Igreja em sua responsabilidade, devemos tomar cuidado de não nos contentarmos com o conhecimento de que, como crentes, nossa salvação está garantida, e permanecermos indiferentes à mente do Senhor para nós em meio à ruína. Tomemos cuidado com o pensamento, como alguém disse, “que o poder do Senhor é enfraquecido quando há uma verdadeira ruína presente”. Em vez disso, o que queremos é fé prática e real na aplicação dos recursos de Deus para enfrentar às circunstâncias presentes. A fé viva vê não apenas a necessidade, mas também os pensamentos e a mente do Senhor sobre essa necessidade, e conta com o amor presente do Senhor. Com o desejo de conhecer a Sua mente, que possamos considerar as cartas para as sete Igrejas e assim recusar tudo o que o Senhor condena enquanto procuramos responder a tudo aquilo que tem a Sua aprovação.

H. Smith (adaptado)

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