Origem: Revista O Cristão – Sabedoria
A Sabedoria Oculta
Em 1 Coríntios, capítulo 1, o apóstolo mostrou que Cristo crucificado deixa inteiramente de lado a carne, não deixando espaço para o homem se gloriar em si mesmo. No capítulo 2, o apóstolo aplica o ensinamento do capítulo 1 a si mesmo e sua maneira de apresentar o testemunho de Deus. Ele recusou a carne em si mesmo para ser fiel à cruz, para que não houvesse nenhum obstáculo à obra do Espírito. Nos primeiros cinco versos o apóstolo nos diz como pregou o evangelho aos pecadores. Na última parte do capítulo ele nos fala de como ministrou as coisas profundas de Deus aos santos.
A sabedoria humana
Quando Paulo foi a Corinto, ele não apelou ao homem natural tentando mostrar alguma sabedoria humana. Ele foi para anunciar o testemunho de Deus a respeito de Jesus Cristo e Este crucificado, a mais baixa e reduzida posição na qual um homem poderia ser encontrado. Paulo diz aos coríntios intelectuais que para que fossem salvos, Cristo deveria ir até a Cruz. Para dar aos crentes Seu lugar diante de Deus, Ele teve que tomar o lugar deles diante de Deus. Não há nada digno, heroico ou nobre numa cruz. É um lugar de vergonha, repreensão, julgamento e morte. Dizer a um homem que este é o seu verdadeiro lugar diante de Deus em nada o exalta em toda a sua “sabedoria, grandeza e pompa”. A pregação da cruz não satisfaz o orgulho do homem. Além disso, o próprio Paulo estava entre eles em uma condição que era humilhante para o orgulho do homem. Consciente de sua própria fraqueza e da gravidade de sua mensagem, ele estava entre eles com temor e muito tremor. Além disso, na maneira de sua pregação, ele recusou todos os métodos carnais a fim de deixar espaço para que Deus operasse. Ele não usou linguagem eloquente, que poderia tê-los atraído para si mesmo.
Tudo isso deixou espaço para o Espírito trabalhar com poder, pois se alguém acredita naquilo que é tão humilhante para o homem, então, obviamente, não é a sabedoria do homem que o leva a crer, mas o poder do Espírito de Deus trabalhando nele. Não é apenas uma questão da verdade em que ele crê, mas a maneira como ele a recebeu. Não foi recebido de um homem, mesmo que esse homem fosse um apóstolo, mas de Deus. Entre os crentes “perfeitos”, aqueles que eram adultos, em contraste com os “bebês” (1 Co 2:1), Paulo pôde falar da sabedoria de Deus. O apóstolo então prossegue nos dando algumas instruções bem definidas quanto a essa sabedoria, a fim de não a confundirmos com a sabedoria do homem.
Sete recursos da sabedoria
Primeiro, ele nos diz que não é a sabedoria desta era, pois os gigantes intelectuais deste mundo “chegam a nada”, em contraste com o crente que chega à “glória” (v. 7). Aqueles que brilham na glória deste mundo chegam a nada, enquanto aqueles que não são nada neste mundo chegam à glória.
Em segundo lugar, essa sabedoria é “a sabedoria de Deus”. Se fosse a sabedoria do homem, poderia ser adquirida nas escolas dos homens. Sendo a sabedoria de Deus, está fora do currículo das escolas e além da obtenção da mente humana.
Terceiro, é a sabedoria de Deus “em mistério, que esteve oculta” (ARA), não pode ser descoberto pela inteligência do homem. Além disso, ao longo dos séculos tem sido “escondida” e, portanto, não é encontrado nas Escrituras do Velho Testamento.
Em quarto lugar, essa sabedoria, que ao longo dos séculos tem sido ocultada, foi predeterminada antes dos séculos para a nossa glória nas eras ainda por vir. Se o nosso chamado torna manifesto que os crentes são os fracos e desprezados do mundo, não obstante eles são predestinados para a glória. Podemos não ser sábios, poderosos ou nobres neste mundo, mas somos chamados para a glória.
Quinto, sobre esta sabedoria, os príncipes deste mundo não sabiam nada. Eles provaram sua ignorância crucificando o Senhor da glória. Eles rejeitaram totalmente Aquele que é a Sabedoria de Deus e por quem todos os conselhos de Deus são executados. “O Senhor da glória” fala de uma cena mais ampla do que esta terra. Fala de um domínio universal que abrange todas as coisas e seres criados, sobre os quais o Crucificado é feito Senhor.
Sexto, esta cena de glória, para a qual a sabedoria de Deus destinou Seu povo, está fora do alcance do homem natural. O apóstolo cita, assim, o profeta Isaías para mostrar que Deus tem segredos, nos quais o homem, como tal, não pode entender. Seus olhos, ouvidos e mente podem descobrir coisas maravilhosas, mas há coisas que Deus preparou para aqueles que O amam, que o homem natural não viu nem ouviu, e que estão além do alcance dos mais altos voos de sua imaginação.
E em sétimo lugar, o fato de a sabedoria de Deus estar fora do entendimento do homem natural não implica que ela não possa ser conhecida, pois o apóstolo diz: “Deus a revelou”. Se, no entanto, Deus revelou essas coisas, é “pelo Seu Espírito”. Somente o Espírito é competente para revelar essas coisas, pois Ele sonda todas as coisas profundas de Deus. Podemos procurar desculpas para nossa falta de energia espiritual dizendo que essas coisas são profundas demais para nós, mas devemos nos lembrar que elas não são profundas demais para o Espírito, pois Ele “penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus”.
Inspiração
Além disso, as coisas que foram dadas a conhecer aos apóstolos pela revelação do Espírito, nos foram transmitidas pela inspiração do Espírito. Na comunicação dessas coisas, o apóstolo toma o cuidado de afastar qualquer erro possível do homem, dizendo que essas coisas não são comunicadas “com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina”. Esta é a reivindicação apostólica de inspiração verbal. As próprias palavras usadas são inspiradas pelo Espírito Santo. As coisas espirituais são transmitidas por meios espirituais. Os instrumentos não eram infalíveis, mas eram perfeitamente guiados em suas comunicações. Isto é inspiração.
Revelação
Assim, aprendemos que a sabedoria de Deus é feita conhecida pela revelação e comunicada aos outros por inspiração. Agora aprendemos que a recepção da verdade é também pelo Espírito de Deus. O homem natural não pode receber as coisas de Deus. Elas são loucura para ele e só podem ser discernidas espiritualmente. Mas aquele que é espiritual (não simplesmente aquele que tem o Espírito) discerne todas as coisas. É preciso ter o Espírito para ser espiritual, mas ser espiritual implica uma condição na qual o homem está sob o controle do Espírito. O homem espiritual pode discernir os motivos que governam o mundo, embora o mundo não possa discernir os motivos e os princípios que governam o homem espiritual.
Natural – Espiritual – Carnal
No verso 14 o apóstolo fala do homem natural, no verso 15 do homem espiritual e no capítulo 3 do homem carnal. O homem natural é o homem não convertido, sem o Espírito. Já o homem carnal é o crente, tendo o Espírito, mas andando como o homem natural e o homem espiritual é o crente que anda no Espírito.
Se o primeiro capítulo exclui a carne em seu orgulho de nascimento, poder e posição, este capítulo exclui a mente do homem, para que os crentes possam ser colocados no privilégio de ter “a mente de Cristo” por meio do Espírito.
O Espírito é o grande tema do capítulo. Se Paulo traz o testemunho de Deus aos pecadores, é “em demonstração do Espírito e de poder” (v. 4). Se Deus preparou grandes bênçãos para aqueles que O amam, elas foram reveladas aos apóstolos pelo Espírito (v. 10). As coisas que são reveladas pelo Espírito são plenamente conhecidas pelo Espírito (v. 10-11). As coisas reveladas e conhecidas pelos apóstolos são, por meio delas, comunicadas aos outros pelo Espírito (v. 13). As coisas comunicadas pelos apóstolos são recebidas pelo Espírito (v. 14-15). O resultado é que os crentes são, por meio do Espírito, instruídos na mente de Cristo (v. 16).
