Origem: Revista O Cristão – Sacerdócio e Advocacia
O Sacerdócio de Cristo
O serviço atual do Senhor Jesus para os Seus redimidos é apresentado a nós de duas formas, primeiro como nosso Sumo Sacerdote para com Deus por tudo o que se conecta com nossa condição de fraqueza aqui, e então como Advogado para com o Pai em caso de pecado. A Epístola aos Hebreus nos dá Seu sacerdócio; a epístola de João, Seu lugar como Advogado. O sacerdócio é fundado na obra que o Senhor Jesus realizou na cruz, em cujo momento Ele era tanto Sacerdote quanto Vítima. Ele estava lá como “ser misericordioso e fiel Sumo Sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar [fazer propiciação – JND] os pecados do povo” (Hb 2:17). Contudo, Ele não entrou apropriadamente no sacerdócio até que Ele ocupou Seu lugar no alto. Isso é importante quanto ao lugar do sacerdócio, porque prova que não tem nada a ver com qualquer questão de pecado. O sacerdócio de Cristo é tomado pelo fundamento de uma redenção eterna que aniquilou o pecado para sempre de diante de Deus, e um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel exercendo-o para nós para que não pequemos.
Para nossa fraqueza
O sacerdócio é para nossas fraquezas, que é nossa condição enquanto estivermos aqui. Supõe, então, um povo justificado e liberto, como Israel estava em figura, quando foi trazido a Deus através do Mar Vermelho, com o deserto estando diante deles e o descanso e a glória de Deus no final. Aquele que é o nosso Moisés, o Líder da nossa salvação, está nos conduzindo para lá como filhos de Deus. O caminho em que Ele nos sustenta pelo sacerdócio é o Seu próprio, no qual Ele trilhou antes. Três grandes características desse caminho nos são abertas na epístola: perfeita dependência – “Porei n’Ele a Minha confiança” (Hb 2:13), obediência aprendida pelas coisas que Ele sofreu (Hb 5:8) e fé, da qual Ele é o grande Autor (Hb 12:2).
Nós lemos que “naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb 2:18). Com que realidade isso O traz diante de nós como tendo estado em nosso caminho, o saber que Ele foi tentado. No próprio início de Seu caminho público nos Evangelhos Ele teve que enfrentar as tentações de Satanás no deserto. Sua perfeição é vista no que Ele sofreu, sendo tentado, pois com Ele o efeito da apresentação de qualquer coisa contrária a Deus era apenas para produzir sofrimento. Se não nos considerarmos, por fé, mortos para o pecado e não andarmos em Espírito como sendo o poder da libertação que Cristo obrou por nós, haverá em nós a horrível resposta da carne interior quanto à tentação exterior apresentada. Não houve nada assim com Ele; Ele sofreu sendo tentado, e esse é o oposto absoluto do pecado. “Aquele que padeceu na carne já cessou do pecado”, como Pedro diz em sua primeira epístola (cap. 4:1), nos exortando a nos armar com a mesma mente de Cristo. Nós seremos tentados, mas quando na fraqueza tomamos o lado de Deus contra nós mesmos, recusando o mal, o poderoso socorro do Senhor vem para ser o nosso apoio, caso contrário, a fraqueza, sem apoio, se transformará em vontade e pecado.
Nos trajes de glória e ornamento de Arão, ele levava, como figura, os nomes dos filhos de Israel gravados nas pedras de ônix sobre os ombros de força e também sobre o peitoral do juízo sobre o seu coração. Temos a realidade de ambos ao considerarmos o Sumo Sacerdote de nossa confissão, pois, além da força para socorrer, como no capítulo 2, o capítulo 4 traz a maravilhosa empatia de Seu coração. “Porque não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4:15). A fraqueza não é pecaminosa, porque Cristo foi crucificado em fraqueza. É na fraqueza que o nosso caminho tem que ser tornado bom para Deus em meio às tentações, sujeito aos assaltos do inimigo, oposto por todos os princípios do homem e do seu mundo, em perigo de ser fatigado e desmaiar em nossas mentes, e por meio de exercícios variados. Quão abençoado é que não haja um detalhe de nossa fraqueza, sob toda forma de prova e teste, que Jesus, nosso grande Sumo Sacerdote, não participe, na perfeita empatia de um coração humano no trono de Deus e com toda a força divina de Sua compaixão. O trono onde Ele Se assenta se torna um trono de graça onde podemos nos aproximar ousadamente de cada fase de necessidade, para obter misericórdia e graça para ajuda (ou força) oportuna.
Ele esteve lá
Mas uma questão pode surgir: Como Alguém tão exaltado como o Filho de Deus pode entrar em todos os detalhes de fraqueza e necessidade do Seu povo aqui em baixo? A resposta é dada no capítulo 5. Ele esteve aqui e em circunstâncias de pressão e tristeza que nunca caíram na porção de qualquer outro homem. Não que Ele esteja passando por elas agora, pois, se estou em circunstâncias difíceis, não sou tão livre para entrar nas de outro. Mas se eu tenho estado nelas e agora estou fora delas, posso empatizar plenamente com as provações dos outros. Quão infinito é o amor e a graça que trouxe o Filho de Deus ao caminho do teste! “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5:8). No Getsêmani, com toda a sua imensurável tristeza, a última e mais crucial de todas as cenas de testes e provações, temos um exemplo do que Ele teve que passar, e isso O fez perfeitamente apto para ser tudo o que precisamos em nosso Sumo Sacerdote. De Sua profunda experiência de tristeza e provação humana, temos a consciência de que não há nada pelo qual tenhamos que passar e que Ele não possa vir, para nos sustentar enquanto procuramos caminhar no mesmo caminho de Sua obediência.
Mas a verdade do sacerdócio vai além. Não me refiro aqui à sua ordem, pois o de Melquisedeque provou ser superior ao de Arão por tantos pontos de contraste no capítulo 7. Embora Seu sacerdócio seja, de fato, da ordem de Melquisedeque, o caráter de Melquisedeque de Seu sacerdócio, não será exercido até que Ele venha em glória milenar. O presente exercício de Seu sacerdócio é análogo ao de Arão. Mas no final do capítulo 6 Ele é apresentado como tendo entrado dentro do véu, como nosso Precursor, para que tenhamos uma garantia pessoal para seu cumprimento no lugar onde “nosso Precursor, entrou por nós, feito eternamente Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque” (v. 20), e isso também nos dá o santuário de Deus como refúgio e lar do nosso coração. Antes de tudo, Ele garantiu tudo o que era necessário para nós, na forma de socorro e empatia pelo caminho através do deserto. Agora Ele procura conduzir nosso coração para onde Ele está, para o Seu lado das coisas na brilhante cena da presença de Deus, de modo que seremos seguidores daqueles que pela fé e paciência herdam as promessas.
“Vivendo sempre”
Ele também não está inativo lá, pois ainda estamos a caminho, e o amor O envolve para estar sempre ocupado conosco: “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (cap. 7:25). Temos a vida dependente de Cristo em nós, sustentada pelos recursos da graça e da força que nos são ministrados por Sua intercessão e serviço sacerdotal. Se o exercício do sacerdócio cessasse por um momento, deveríamos descobrir em breve onde estávamos e o quanto dependemos dele. Mas não é possível, pois a Palavra diz: “vivendo sempre para interceder” por nós, como se não tivesse mais nada a fazer além de pensar e cuidar de nós. Uma vez que nossos recursos estão fluindo momento a momento do que Cristo é, “feito mais sublime do que os céus” (v. 26), estamos preparados para o lado positivo e pleno do sacerdócio, que nos transporta de coração e espírito para as cenas celestes (cap. 8-10). Existe um sacrifício perfeito que nos leva ao perfeito santuário celestial, e nós somos introduzidos lá como adoradores aperfeiçoados, não tendo mais consciência dos pecados (cap. 10:12). O Espírito Santo é a Testemunha da obra do Filho de Deus para cumprir os conselhos da vontade divina que nos dá essa consciência perfeita – nossos pecados e iniquidades não mais são lembrados.
Nosso lar ligado ao céu
E agora, no capítulo 10:19-22, o Espírito de Deus nos chama a assumir nosso lugar diante de Deus. “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela Sua carne, e tendo um Grande Sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração”. Assim, mais uma vez, Cristo é apresentado a nós como Sacerdote, quando Ele aparece representativamente para nós na presença de Deus, nos ligando ao lar para conectar nosso coração da maneira mais íntima com tudo o que está lá.
A casa de Deus sobre a qual Ele é Sacerdote consiste de todos os que são de Cristo, “a qual casa somos nós, se tão-somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” (cap. 3:6). Cada verdadeiro Cristão então tem este lugar maravilhoso de acesso irrestrito a Deus no santuário de Sua própria presença. “Com um verdadeiro coração”, se acrescenta a “inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa” (cap. 10:22). Aplicado figuradamente temos as duas partes da consagração dos sacerdotes. Primeiro, temos perfeito descanso de consciência e coração quanto a todo o passado na presença de Deus por meio do sangue de Cristo e, segundo, a água da Palavra aplicada para nos trazer a uma natureza capaz e livre para desfrutar dessa presença santa. Nós somos, na verdade, um sacerdócio consagrado, mas não foi objeto da Epístola apresentar nosso sacerdócio, mas o de Cristo, e assim o assunto não é ampliado.
Que seja nossa, então, por Sua graça, realizar mais e mais, não apenas a bem-aventurança de ter todas as necessidades de nossa fraqueza atendidas pelo sacerdócio de Cristo, mas de nos tornarmos mais familiares com o santuário do qual Ele é o Ministro. Por sua obra na cruz, Ele nos deu o título e a aptidão para a presença de Deus, e nos mantém no gozo dele pelo Seu sacerdócio.
