Origem: Revista O Cristão – Sal
O Sal da Terra e a Luz do Mundo
“Vós sois o sal da terra” (Mt 5:13 – ARA). O sal é a única coisa que não pode ser salgada, porque ele é o próprio princípio conservante; se isso desaparecer, não pode ser substituído. “Caso, porém, se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor?” O sal da terra é a relação dos discípulos aqui com aquilo que já tinha o testemunho de Deus; portanto, o Espírito de Deus usa a expressão “terra” (ou território), que era especialmente verdadeira para a terra judaica naquela época. Agora, em nossos dias, se você fala sobre a terra, fala da Cristandade — o lugar que goza, de fato ou professamente, a luz da verdade de Deus. Isso é o que pode ser chamado de terra. E esse é o lugar que será finalmente a cena da maior apostasia, pois a apostasia só é possível onde a luz foi desfrutada e abandonada. Em Apocalipse, onde os resultados finais do século são apresentados, a terra aparece de uma maneira muito solene, e então temos os povos, e multidões, e nações, e línguas — o que devemos chamar de terras pagãs. Mas a terra significa a cena, outrora favorecida, do Cristianismo professo, onde tem havido todas as energias da mente dos homens em ação. Essa é a cena onde o testemunho de Deus uma vez derramou sua luz — então, ai! foi abandonado à apostasia absoluta.
Os fiéis em Israel eram o verdadeiro princípio conservador naquele território; todo o resto, o Senhor dá a entender que não servia para nada. Porém, mais do que isso. Ele dá um aviso solene de que há um perigo de que o sal possa perder o seu sabor. Ele aqui não está falando da questão sobre se um santo pode cair ou não. O Senhor não está aqui levantando a questão da possibilidade de perder a vida, mas Ele está falando de certas pessoas que estão em uma posição favorecida. Entre eles, pode haver pessoas que creram de forma descuidada ou mesmo falsamente, e então haveria o desaparecimento de tudo o que uma vez tiveram. E Ele mostra qual seria o julgamento deles – o mais desprezível possível, a ser proferido sobre aqueles que ocupavam um lugar tão alto sem veracidade.
A luz do mundo
“Vós sois a luz do mundo” (Mt 5:14). Esse é outro assunto. Tendo em vista a distinção traçada na série das bem-aventuranças e das perseguições, temos a chave para esses dois versículos. O sal da terra representa o princípio justo. O sal da terra envolve o apego aos direitos eternos de Deus e a manutenção perante o mundo do que é devido ao Seu caráter. Isso se foi quando o que levava o nome de Deus caiu abaixo do que até mesmo os homens consideravam adequado. Você dificilmente pode ler as notícias de hoje sem que encontre escárnio contra o que é chamado de religião. O respeito se foi, e os homens pensam que a condição dos Cristãos é um assunto oportuno para ser ridicularizado por eles.
Mas agora, no versículo 14, não temos apenas o princípio de justiça, mas de graça — o jorro e a força da graça. E aqui encontramos um novo título dado aos discípulos, como descritivo de seu testemunho público – “a luz do mundo”. A luz é claramente aquilo que se difunde por si só. O sal é o que deve ser interiormente, mas a luz é o que se dispersa por todo lado. A cidade edificada sobre um monte não pode ser escondida. Ela estava propagando o seu testemunho por toda parte. O homem não acende uma vela para colocá-la debaixo de um alqueire[5], mas em um castiçal, “e dá luz a todos os que estão na casa”. E, “assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (v. 16).
[5] N. do T.: O significado antigo de “alqueire” era bolsas ou cestos que se colocavam atadas sobre o dorso de animais usados para transporte de carga e que pendiam para ambos os lados do animal. O conteúdo desses cestos servia como medida de grãos e que acabou designando a área de terra necessária para o plantio de todas as sementes contidas nessa medida ↑
Dois testemunhos marcantes
Vemos aqui, então, dois esboços marcantes do testemunho dos crentes aqui embaixo, como o sal da terra, a energia que preserva no meio professante, e como a luz do mundo, que sai em atividade e amor para com o pobre mundo. Há também o perigo de o sal perder o seu sabor e de a luz ser colocada debaixo de um alqueire. Imediatamente identificamos o formidável objetivo de Deus neste duplo testemunho. Não é apenas uma questão de bênção das almas, pois não há uma palavra sobre evangelização ou salvação dos pecadores, mas sim a caminhada dos santos. Há uma questão séria que Deus levanta sobre Seus santos, e isso é sobre seus próprios caminhos à parte de outras pessoas. Encontramos abundantemente, em outros lugares, chamados para os não convertidos, e isso é de extrema importância para o mundo, mas o sermão no monte é o chamado de Deus para os convertidos. Trata-se do caráter deles, da posição, do particular testemunho, e se há o pensamento a respeito de outros em todas as partes, não é tanto uma questão de ganhar a esses outros, mas dos santos refletindo o que vem de cima. Essa luz é a que vem de Cristo. Não se trata de deixar suas boas obras brilharem diante dos homens. Quando as pessoas falam sobre esse versículo, elas evidentemente estão pensando em suas próprias obras, e quando esse é o caso, geralmente não há boas obras. Mas mesmo que houvesse, as obras não são luz. A luz é aquela que vem de Deus direta e puramente, sem mistura do homem. Boas obras são fruto da ação da luz sobre a alma, mas é a luz que deve brilhar diante dos homens. Isso é a confissão que o discípulo faz do Senhor; esse é o ponto diante de Deus. Confesse Cristo em tudo. Que esse seja o objetivo do seu coração. Não é apenas certas coisas a serem feitas. A luz brilhando é o grande objetivo aqui, embora fazer o bem deva fluir dela.
Boas obras
Se o ‘fazer o bem’ é para mim tudo, isso será um pensamento inferior do que aquele que está diante da mente de Deus. Um infiel pode perceber que um homem que está tremendo de frio precisa de um casaco ou cobertor. Mesmo um homem natural pode estar totalmente atento para as necessidades dos outros; mas se eu simplesmente tomar essas obras e torná-las coisas de destaque, eu realmente não faço nada mais do que um incrédulo faria. No momento em que você faz das boas obras, e do seu brilho, o objeto diante dos homens, você se encontra em terreno comum com judeus e pagãos. O povo de Deus está, assim, destruindo o seu testemunho. O que poderia ser pior do que uma coisa feita professamente para Deus, mas que deixa Cristo de fora, e que mostra um homem que ama a Cristo estar em termos confortáveis com aqueles que O odeiam? É contra isso que o Senhor adverte os santos. Eles não devem ficar pensando em suas obras, mas que a luz de Deus brilhasse. Trabalhos se seguirão, e eles serão muito melhores do que se uma pessoa estiver sempre ocupada com eles. E, “assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (v. 16). Faça sua confissão do que Deus é em Sua natureza e do que Cristo é em Sua própria Pessoa e maneira — faça que o seu reconhecimento d’Ele seja aquilo que seja sentido e trazido diante dos homens – e então, quando outros virem suas boas obras, eles glorificarão a teu Pai que está no céu. Em vez de dizerem: “Que homem bom é esse”, eles glorificarão a Deus por sua causa. Se a sua luz brilha, os homens conectam aquilo que você faz com a sua confissão de Cristo.
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