Origem: Revista O Cristão – O Sangue de Cristo
Nascido da Água
É muito útil para a alma ver o lugar que a ”água” normalmente tem na Escritura, assim como o sangue. Ambos são muito importantes, pois ambos fluíram do lado do Senhor Jesus na morte, como João dá testemunho (Jo 19:31-35).
O sangue é mencionado primeiro, como base de tudo para a glória de Deus. Nesse precioso derramamento de sangue, tudo o que Ele é em santidade e justiça contra o pecado e em amor ao pecador foi consumado, envolvendo perdão e paz para nós. Mas quando chegamos à aplicação dessas benditas realidades para nós, a ordem é invertida. “Este é Aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue” (1 Jo 5:6). Há algo necessário antes do sangue, a saber, a Palavra, da qual a água é o símbolo. Isso precisa ser aplicado à alma no poder do Espírito para que possa haver o despertar da consciência e a convicção do pecado, à qual o sangue se aplica. O Espírito, a água e o sangue são a ordem de aplicação.
A água
Encontramos a água mencionada no Velho Testamento como uma figura. No dia da consagração de Arão e de seus filhos, eles foram lavados com água (Lv 8:6), bem como aspergidos com sangue posteriormente (v. 23). Essa lavagem nunca foi repetida, embora na pia, que estava entre o tabernáculo e o altar, eles lavassem as mãos e os pés quando entravam na tenda da congregação e se aproximavam do altar (Êx 40:31).
O Senhor Jesus fala dessa dupla ação da água em João 13. Sob o símbolo da lavagem dos pés de Seus discípulos, Ele traz Seu serviço atual para os Seus. Sua ação é de profundo significado para nós – “Se Eu te não lavar, não tens parte Comigo”. Essa lavagem é essencial para termos parte com Ele na percepção e no desfrute de Sua presença aonde Ele foi. Pedro se opõe dizendo: “Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” (Jo 13:9). Jesus disse a ele: “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo”. Ele declara que houve uma primeira aplicação da água que nunca precisa ser repetida, estando conectada à comunicação de uma nova vida e natureza pelo Espírito, na qual somente há uma verdadeira limpeza. Segundo, há a necessidade constante da aplicação da água em nossos caminhos, em um mundo onde somos tão facilmente contaminados e tornados impróprios para o gozo da presença do Filho com o Pai. Resumidamente, é a Palavra aplicada à alma primeiro no novo nascimento e depois pelo Senhor em Seu serviço constante por nós em graça, da qual o Senhor fala sob o símbolo da água.
Novo nascimento
Isso nos leva ao começo de todos os caminhos de Deus conosco na graça: o novo nascimento. Sem ele, nossos olhos nunca verão o reino de Deus, pois “aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. O que nasce da carne pode ser religioso, como foi Nicodemos, e até mesmo irrepreensível na vida exterior, como foi Saulo de Tarso, mas é carne e nunca pode ser outra coisa senão carne, e serve apenas para julgamento de Deus. Mas o que nasceu do Espírito é espírito; isto é, tem a natureza e o caráter essenciais de sua fonte, como a carne tem de sua fonte. Não pode haver purificação da carne. Ela deve ser tratada na cruz ou no lago de fogo.
Isso nos mostra, então, por que a água para purificação e o sangue para propiciação vieram do lado de Jesus na morte. É a Palavra aplicada pelo Espírito que é o poderoso instrumento dessa mudança. Essa participação na vida e na natureza de Deus leva consigo a sentença do julgamento de Deus sobre tudo o que é da carne. E a purificação é pela comunicação de uma nova vida e natureza, na qual estamos limpos por completo. Assim, em João 13, enquanto Judas ainda estava presente, o Senhor teve que dizer (v. 11): “Porque bem sabia Ele quem O havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos”. Tendo Judas saído (v. 30), Ele pôde dizer em João 15:3: “Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado”.
Limpeza da contaminação
Tiago e Pedro confirmam a força do símbolo da água. “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1:18). “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1 Pe 1:23). Pelo uso do símbolo, somos levados além do novo nascimento, para captar também seus efeitos na purificação da contaminação do pecado, pois o sangue era necessário para a purificação de sua culpa.
Paulo vem para completar o testemunho, pois ao falar do amor de Cristo para a Igreja, que Se entregou por ela, aprendemos que o Seu amor não era apenas um amor do passado, mas do presente. Se Ele a limpou com a lavagem da água pela Palavra, é para que Ele a torne cada vez mais semelhante a Si Mesmo pelos mesmos meios, pois a Palavra é a revelação de tudo o que Ele é, que Se separou em glória, como o Objeto de nossa alma, portanto, para ser a fonte, medida, caráter e poder de nossa santificação e de sermos conformados a Ele. Nem isso é tudo, pois Seu amor nunca será satisfeito até que Ele possa apresentar a Si mesmo uma Igreja gloriosa, não tendo mancha de contaminação ou rugas da velhice ou coisa parecida, mas tudo o que Seu coração pode deleitar para sempre (Ef 5:25-27).
