Origem: Revista O Cristão – Santidade

Cristo, o Modelo da Santidade

A santidade de Cristo não é imputada. A única passagem que parece assemelhar-se a essa doutrina é 1 Coríntios 1:30, mas a imputação não é mencionada ali. Não é possível imputar a redenção. É em Cristo e por meio de Cristo que isso está de acordo com a vontade de Deus; como é isso não nos é dito. “Vós sois d’Ele”; este é o novo homem, de onde ele vem. Cristo é feito para nós “sabedoria” de Deus. Nós não encontramos essas coisas em outro lugar. Não encontramos o verdadeiro caráter de nossa sabedoria, de nossa justiça, de nossa santidade Cristã ou de redenção em outro lugar além de Cristo e somente em Cristo. Quando possuo Cristo, possuo n’Ele a sabedoria de Deus. Ele mesmo é a sabedoria de Deus; Eu não busco sabedoria em outro lugar, e a sabedoria de Deus não é encontrada em outro lugar. Ele é a minha justiça diante de Deus. Eu sou considerado justo segundo a justiça de Deus pela fé em Cristo. Se busco a verdade, a totalidade, o caráter divino da santidade, só a encontro em Cristo: Esta santidade é apresentada a mim por Deus em Cristo. Só em Cristo está a redenção, a redenção final para entrar na glória.

É necessário distinguir entre as palavras usadas para santidade e santificação no Novo Testamento. “Agiosune” é a coisa em si, o hábito (incluindo “agiotes” – Hb 12:10 – , a santidade do próprio Deus), e “agiosmos”, a palavra usada em 1 Coríntios 1:30. A palavra nesta forma significa o resultado atingido, a soma do que é produzido em nós pelo Espírito Santo.

Cristo, o modelo 

Agora, Cristo é o modelo, a medida, a perfeição da santidade. Na medida em que possuímos Cristo como vida, possuímos essa santidade. A vida que possuímos é uma vida perfeitamente santa e, como estamos em Cristo, Deus não vê pecado em nós. Mas o próprio Cristo, como já foi dito, é a expressão perfeita do caráter, da perfeição, da santidade no homem, e embora a vida que está em nós seja uma vida santa, o resultado em nossos pensamentos, em nossos atos, em nossas palavras, em nossa relação com tudo não é produzido em sua perfeição, mas nosso desejo não é abaixar o padrão dela, mas alcançá-la. É nossa em Cristo, porém ainda não na prática, ainda não subjetivamente. O novo homem deseja que, em tudo, todo o seu ser corresponda ao modelo que ele conhece em Cristo. Nesta vida o resultado não é alcançado, mas o Cristão não tem outro modelo, nenhuma outra substância de santificação para a alma, além do próprio Cristo. Cristo é para ele, de Deus, a substância daquilo que ele almeja, porque Cristo, que é seu modelo, já é sua vida.

Nossa vida perfeita e santa 

É verdade que Deus nos vê em Cristo, e Ele vê apenas o novo homem, quando a aceitação está em questão: “Não viu iniquidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó”. Mas a Escritura não fala de nossa santidade em Cristo. A vida que recebemos é perfeitamente santa, e eu não vivo, mas Cristo vive em mim. Se Cristo é a nossa vida, somos consagrados a Deus, separados para Ele, de acordo com o direito que Ele possui por meio da obra da redenção, e a graça que nos conquistou para Ele – totalmente nos consagrou a Ele pessoalmente. Assim, somos pessoalmente santificados, separados para Deus, mas, na verdade, todos os nossos pensamentos, nossos motivos, não têm Cristo como objeto, de modo que, na verdade, não somos aperfeiçoados na santificação. Na santificação pessoal não há progresso; nós pertencemos totalmente a Cristo de acordo com o valor de Sua obra e a reivindicação que Ele tem sobre nós, e de acordo com a vida santa que é o verdadeiro “eu” do coração. Mas, Cristo sendo a expressão perfeita desta vida no homem, muito está faltando em nós em relação a esta perfeição, e pela operação do Espírito Santo nos tornamos – devemos nos tornar, pelo menos – enquanto olhamos para Cristo glorificado, cada vez mais como Cristo, mais santo, quanto à santidade prática. Nós possuímos, então, a “agiosune” (a coisa em si) na vida de Cristo em nós. Nós não possuímos o “agiosmos” (o resultado prático como foi manifestado em Cristo); isso é desenvolvido diariamente em comunhão com Cristo.

Primeiro vem a morte, depois a vida 

Estamos mortos para o pecado, para a lei, para o mundo, crucificados com Cristo, considerados mortos de acordo com a Palavra de Deus e nos consideramos nós mesmos mortos. Nosso dever é cumprir esta verdade, para que nada, exceto a vida de Cristo, se manifeste em nossos corpos, em nossa carne mortal, para que toda a nossa vida seja a manifestação da vida de Cristo em nós e de nada mais. A conexão entre essa verdade e santidade em nosso relacionamento com Deus e santidade prática é facilmente entendida.

Santidade pela santificação 

O Cristão é chamado santo porque ele é separado para Deus de forma absoluta, de acordo com os direitos conquistados por Cristo em Sua morte, e levados a efeito quando ele nasce de novo, e assim separado de uma maneira real, mais perfeita e com mais inteligência, quando ele é selado pelo Espírito Santo, estando purificado pelo sangue de Cristo. Então ele é santificado em seu relacionamento com Deus e, de fato, quanto ao novo homem. Também como vimos, o velho homem é considerado morto. Assim, quando os Cristãos são chamados santos, é de fato a expressão de um relacionamento com Deus, mas essa relação é formada pelo dom da vida e fundada no fato de que Cristo os comprou por Sua morte. Mas não há outro relacionamento, e quando um homem se chama de Cristão, ele se chama santo, consagrado a Deus, separado do mundo para Deus.

Santos 

A palavra “santo” é o nome de um relacionamento, isto é, que um homem é separado para Deus, mas este relacionamento, se for verdadeiro, é formado pelo poder do Espírito Santo, e pela Palavra de acordo à ordem designada por Deus para a manifestação no mundo deste relacionamento. Os santos então no Novo Testamento são considerados como tendo entrado em um novo relacionamento com Deus pelo sangue de Cristo, separados para Deus. Esta é a ordem de acordo com Deus, mas é sempre suposto que esta relação é fundada na realidade, exceto para demonstrar sua falsidade; só que o santificar pelo sangue de Cristo é usado de um modo mais geral, exterior, mas é considerado real se o contrário não for demonstrado. Os Cristãos são chamados “santos” em Romanos 1:7 e 1 Coríntios 1:2, mas no capítulo 10 da última epístola é possível que a admissão a esse relacionamento possa ter ocorrido sem a possessão da vida.

Santificação progressiva 

Como existe alguma confusão em relação ao progresso na santificação, acrescento que, ao nos separarmos para Deus pelo sangue e o novo nascimento – na entrada no relacionamento (isto é, santificação da pessoa) – não há progresso. Mas no desenvolvimento da vida pelo conhecimento de Cristo e em conformidade com o modelo revelado em Cristo, a Palavra fala distintamente do progresso. “Segui a santificação”, está escrito em Hebreus 12:14. Nós “somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3:18). Agora “o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo” (1 Ts 5:23).

Cartas, vol. 2: 159-164, adaptado

J. N. Darby

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