Origem: Revista O Cristão – Santidade

A Necessidade da Santidade

Em Gênesis 3 vemos que foi pela queda que o homem adquiriu uma consciência, e o primeiro efeito da ação dessa consciência foi fazê-lo procurar cobrir a nudez que sua desobediência lhe dera conhecimento; e então, assim que ouviu a voz de Deus, procurou esconder-se de Sua presença. Essa foi a consequência necessária do conhecimento do mal, misturado com a sensação de que ele tinha cometido este mal, e que, consequentemente, ele estava inadequado para comparecer diante de um Deus que poderia, nesta circunstância, ser unicamente um Juiz que condenaria o pecador.

Consciência e inteligência 

A consciência nos diz isso e nos faz sentir isso, mas a inteligência humana, cegada por Satanás, procura desculpar o mal e explicar tudo colocando Deus totalmente de lado. Em princípio, esta é a repetição do que nossos primeiros pais fizeram – procurar cobrir-se e se esconder de Deus. Todos esses esforços resultam em enfraquecer o pensamento de santidade na alma. O homem, quando é guiado apenas por sua razão, é irracional e se distancia cada vez mais da verdade. Ele está em trevas, mas sendo também cego, ele não pode discernir entre luz e trevas. Portanto, está escrito: “Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus” (Sl 10:4). E, a esse respeito, um filósofo não é melhor que os outros (Rm 2:1-11). Se a base do seu raciocínio for falsa, como pode permanecer firme o edifício que ele sustenta sobre ele? Daí a verdade desta afirmação frequentemente repetida: Não há moralidade à parte da revelação. Que aqueles que negam a Deus nos digam, se puderem, quais são os princípios morais que eles pretendem possuir, à parte daquilo que Deus nos revelou nas Escrituras.

Moralidade 

Mas a Palavra de Deus não nos oferece simplesmente um código moral, isto é, um sistema de princípios de ação arranjados de tal maneira para que os homens possam viver juntos em paz e que a sociedade seja defendida e mantida unida. Também mostra que a única fonte de verdadeira felicidade para o homem é aquela própria presença da qual ele foge e que ele sempre tenta evitar. Deus não desejou ser apenas o Juiz do pecador. Em Sua graça, Ele vem buscar o homem, embora o faça de acordo com o princípio da justiça. Ele Se revela como um Deus Justo e Salvador. Ao atrair para Si mesmo, em graça e em paz, Sua criatura caída, a quem o pecado pôs distante, Deus manifesta Sua glória mesmo onde o inimigo triunfou. Mas Deus não pode trazer uma criatura pecaminosa para Sua bendita presença sem lhe dar a percepção e a consciência da santidade divina. Deus não pode mudar Seu caráter nem abaixar o padrão de Sua santidade, a fim de trazer o homem para ter um relacionamento Consigo mesmo. A moralidade pode ser suficiente entre o homem e o homem, mas deve haver santidade para se ter relacionamento com Deus. A Escritura insiste nisso.

Graça e fidelidade 

Mas esta grande lição de santidade pressupõe outra lição, sem a qual ela não poderia ser aprendida por um pecador que está distante de Deus. Nós nos referimos à revelação da graça e da fidelidade de Deus. Eu devo conhecer Deus como um Deus-Salvador antes que minha alma possa estar em condições de entender o que Sua santidade exige. Portanto, as primeiras linhas da Escritura declaram Sua infinita bondade, preparando assim o caminho para a igualmente importante revelação de Sua santidade. Deus é amor e Deus é luz. A cruz de Cristo é a explanação destas duas grandes verdades e é também a sua expressão mais elevada, enquanto ao mesmo tempo elas alcançam em uníssono a ressurreição de Cristo (particularmente em relação à santidade), pois Ele “com poder foi declarado Filho de Deus segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos – Jesus Cristo nosso Senhor” (Rm 1:4 – AIBB).

A bondade fiel de Deus 

Em conexão com o que dissemos, vemos que o primeiro livro da Bíblia, Gênesis, apresenta diferentes fases da bondade fiel de Deus, Seus propósitos de graça para com o homem, mas sempre, é claro, com base na santidade, ainda assim apresentado para atrair o coração daquele que não conhece a Deus e para produzir confiança em alguém a quem o pecado tornou desconfiado de Deus. Os dois livros seguintes, pelo contrário, estão especialmente ocupados com a santidade. Êxodo estabelece as bases, e Levíticos, bem como alguns capítulos em Números, desenvolve os detalhes em conexão com a ordem nacional e sacerdotal dos filhos de Israel.

Com uma exceção, e isto é em referência à instituição do sábado (cap. 2:3), a palavra “santidade” ou “santificar” não ocorre em Gênesis. Na verdade, este livro não trata da redenção ou da habitação de Deus entre os homens. Deus sai em busca do homem; Ele o chama e o mantém em graça fiel; Ele o justifica e realiza todos os Seus propósitos para com ele; Ele produz fé em sua alma e a nutre e a prova, e assim faz com que Seus servos andem em comunhão com Ele. Tais são algumas das preciosas verdades quanto aos caminhos de Deus que podem ser encontrados neste primeiro livro e que são característicos dele, mas em nenhum lugar é sugerido neste livro que o pensamento de Deus é descer e habitar entre os homens.

Os primeiros vinte e dois versículos de Hebreus 11 dão uma recordação dos ensinamentos deste livro em relação à fé. Em Gênesis existem duas grandes divisões. A primeira termina com o capítulo 11 e desenvolve os grandes princípios do governo de Deus; a segunda, que começa com a história de Abraão, fala do chamado de Deus e da Sua soberana graça para com os Seus eleitos. Homens santos de Deus foram mantidos em comunhão com Ele, sua fé foi alimentada pelas comunicações que Ele fez para eles, e eles, confessando que eram “estrangeiros e peregrinos” na Terra, procuraram uma “pátria melhor” (TB), a “cidade celestial”, então Deus não Se envergonharia de ser chamado “seu Deus” (Hb 11:16). Mesmo na primeira parte do livro, encontramos um deles, Enoque, que recebeu testemunho durante a sua vida de que andava com Deus e não foi encontrado, pois Deus o havia transladado.

Redenção e um santuário 

Êxodo entra no grande assunto da redenção. Deus terá um povo para Si mesmo, a fim de habitar entre eles; consequentemente, esta nação deve ser santa, porque Deus é santo. (Veja Êxodo 19:46; 29:43-46). Portanto, o estado no qual a graça de Deus formou esse povo é dado em detalhes, bem como sua condição moral e a atitude de seu coração para com Deus. Sua libertação do Egito e o poder do faraó ocupam grande parte do livro, e isso prepara moralmente o caminho para o estabelecimento do santuário, no qual Deus Se dignou a habitar em seu meio (Veja o capítulo 15:17 e 25:8)

A santidade absoluta de Deus 

Moisés foi o vaso escolhido, levantado e preparado por Deus para a libertação do Seu povo Israel. Para ele, Deus revelou o único fundamento sobre o qual Ele poderia trazer o homem ao relacionamento com Ele mesmo – o da santidade absoluta. Ele mostrou isso a ele antes de enviá-lo aos israelitas. A chama de fogo no meio da sarça no deserto era a figura adequada para permitir que Moisés apreendesse a grande lição que Deus tinha para ensiná-lo e para fazer com que as palavras que lhe foram ditas entrassem profundamente em sua alma: “Não te chegues para cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa” (Êx 3:5). O Deus que estava aqui Se revelando a Moisés era o mesmo que tinha conduzido os pais em Sua perfeita graça e podia, portanto, dizer-lhe: “Eu Sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”, para que suas afeições pudessem ser atraídas a Deus pela lembrança de Sua bondade demonstrada aos patriarcas. Assim foi Moisés preparado para a recepção de todos os ensinamentos expressos na sarça ardente. Também vemos por meio de toda a sua história subsequente quão profundamente esta lição foi gravada em seu coração e como ela formou a base de todas as suas relações com Deus (Veja Êxodo 33; Deuteronômio 4:24; 9:3). Deus disse a ele: “Tenho visto atentamente a aflição do Meu povo Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios”. Isso envolvia o relacionamento próximo do povo com Deus, uma relação que só poderia existir com base na santidade . Deus é amor e Deus é luz.

W. J. Lowe

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