Origem: Revista O Cristão – Betel

Saul e Betel

Quando os filhos Israel desejaram um rei, a Escritura deixa claro que isso não vinha de Deus, porque o próprio Deus disse a Samuel, a respeito de Israel: “Não te tem rejeitado a ti; antes, a Mim Me tem rejeitado, para Eu não reinar sobre eles” (1 Sm 8:7). Entretanto, Deus foi gracioso, e Se agradou em dar a eles sinais para ajudar a Saul, mesmo que ele não fosse um homem de fé. Se tivesse havido um ouvido para ouvir, se tivesse havido uma medida de percepção espiritual, haveria sinais especiais colocados em seu caminho. Em primeiro lugar, dois homens anunciaram que as jumentas que Saul e seus servos estavam buscando tinham sido recuperadas, e isso próximo ao sepulcro de Raquel (1 Sm 10:2). Este deveria ter sido um ponto de interesse especial para Saul, pois era o lugar onde a fundação de sua família havia sido colocada. Mas Saul não tinha olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, segundo Deus.

O testemunho de Deus 

Novamente três homens (1 Sm 10:3-4) foram ao encontro dele na planície de Tabor – homens que estavam a caminho para Deus em Betel. Eles estavam indo para o lugar, não apenas do sepulcro de Raquel, mas de encontro com o Deus de Betel. Um homem estava carregando três filhos e assim por diante; estes o saudaram e lhe deram pães. Não deveria Saul ter percebido uma prova de que Deus estava trabalhando em Israel e que Deus não havia esquecido a famosa cena em que Ele havia prometido a realização de Seu propósito para seu pai Jacó? Um remanescente estava ali, um amplo testemunho, não apenas de dois, mas de três homens. Havia um testemunho mais do que adequado para a realidade de que a fé em Israel ainda existia.

Junto com isso, sem dúvida, o estado de Israel, aterrorizado pelos senhores filisteus, era verdadeiramente deplorável, mas o que era isso se a fé estivesse ali? As circunstâncias nunca devem assustar o crente! A questão então era se Deus era o Deus de Israel e se o Seu povo tinha fé n’Ele. Contudo, aqui encontramos três homens subindo a Deus em Betel, bem conscientes da triste condição – a condição prática – de Israel neste momento. E ainda temos mais: “Então, virás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando ali na cidade, encontrarás um rancho de profetas que descem do alto e trazem diante de si saltérios, e tambores, e flautas, e harpas; e profetizarão” (1 Sm 10:5). Que encorajamento para quem pode ouvir de acordo com Deus! O pior dos tempos para a fé só nos chama mais perto para entoarmos cânticos a Ele. Não faltou o testemunho de gozo e louvor nesses profetas, embora Deus ainda esperasse que Seu povo honestamente reconhecessem as circunstâncias. Não há nada de bom em nos cegarmos à nossa condição atual, seja da Igreja agora ou de Israel naquela época. É sempre correto, sábio e humilde admitir a verdade.

Experiência Cristã 

Assim é com nossa alma e em todas as nossas experiências Cristãs. Existem muitos crentes que não querem pensar em tudo o que ele foi antes de ser salvo. Muitas pessoas, quando convertidas a Deus, num primeiro momento tentam olhar apenas para o que é brilhante, alegre e encorajador. Seus olhos rapidamente descobrem todas as passagens reconfortantes da Palavra de Deus. E passa por cima do que prova e sonda o coração. É tudo perfeitamente inteligível, mas será que é algo realmente sábio? Este não é o modo em que o Espírito de Deus trabalha para moldar o santo. Não que não haja conforto abundante em toda a Palavra de Deus, do princípio ao fim, mas estejam certo, meus irmãos, que a melhor sabedoria é aquela quando a graça nos fortalece para ver a verdade, e toda a verdade, seja sobre Deus ou sobre o homem, sobre a Igreja ou a nossa própria alma. Por isso é que muitas pessoas descartam a visão completa do que ele é quando levado a Deus, mas depois tem que repetir a lição outro dia sob circunstâncias mais dolorosas. É muito melhor enfrentar exatamente o ponto de partida daquilo que somos, assim como o que Deus é em Sua natureza e conselhos. Caso contrário, quando estivermos seguindo o Senhor depois de alguns anos, talvez precisemos ser quebrantados por alguma infidelidade grave, e isso principalmente devido à insensatez de se recusar a ver a realidade completa do que éramos desde o início.

O caráter de Deus 

É evidente que o caráter de Deus, como representado por nós, é muito mais afetado por termos de passar por um processo talvez doloroso e humilhante alguns anos depois de começar nosso curso, do que por sabermos o que somos quando o fluxo total da graça divina confirma nossas almas quando aprendemos do Senhor Jesus. Somente assim podemos nos permitir avaliar corretamente tudo o que somos naturalmente.

Isso também foi expressamente um sinal para Saul. O primeiro sinal era pessoal, conectado como estava ao sepulcro de Raquel – um lugar de morte para a mãe, mas onde Benjamim nasceu, o chefe da própria tribo de Saul e figura do Messias em Suas poderosas vitórias para Seu povo na Terra. Benjamin não era José, aquele filho de Jacó que foi separado de seus irmãos e exaltado em outra esfera; antes, Benjamim era o filho da mão direita de seu pai, que representa o Senhor Jesus quando Ele Se levanta para derrubar todos os adversários em Seu reino. Essa foi a bênção especial que foi dada quando o Espírito de Deus, por Jacó, pronunciou a bênção de Benjamim. O segundo sinal deveria ter mostrado a realidade para a fé de um testemunho mais que suficiente de que, assim como três homens subindo a Betel, Deus não poderia falhar, qualquer que fosse o estado de Israel.

O Espírito de Deus 

Mas então seguiu o sinal daquele estado atual de Israel. As promessas ligadas à Betel estavam longe de serem cumpridas. Se Saul ouviu falar do “outeiro de Deus”, ele também ouviu sobre “a guarnição dos filisteus”. Certamente então, quando Israel desejou um rei, a condição real de Israel era tão baixa quanto poderia ser. Se tivesse havido fé para confiar nesses sinais, recebendo-os de Deus, certamente haveria uma oportunidade abençoada para o trabalho e o triunfo de Deus, que nunca deixa de responder à fé viva, mas era exatamente isso que Saul não tinha. Não houve falta de amostras de justiça na carne. Saul parecia a princípio ser o mais amável de todos. Em tudo isso havia a promessa natural mais brilhante para o rei do homem, mas havia mais do que isso. Havia outro privilégio e maior também, pode-se notar: Deus até se aprove em revesti-lo com o poder do Espírito de Deus, embora apenas externamente. “E o Espírito do SENHOR se apoderará de ti, e profetizarás com eles e te mudarás em outro homem” (1 Sm 10:6). Isso não nos mostra que Deus estava dando toda ajuda possível e todas as vantagens concebíveis para o rei do homem entrando nessa nova fase do Seu povo? Esta é a lição inquestionável desses dois capítulos, mas no final descobrimos que Saul foi um fracasso sombrio. Apesar de todas as vantagens possíveis, o homem natural não pode andar por fé. O trono deve esperar por Davi, o homem segundo o próprio coração de Deus, que é uma figura de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de Quem todas as promessas de Deus serão cumpridas.

W. Kelly (adaptado)

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