Origem: Revista O Cristão – Tristeza e Alegria

Semeando com Lágrimas, Ceifando com Alegria

No Salmo 126:5-6, temos expressados alguns pensamentos muito preciosos, mas devemos entender a semeadura e a ceifa para obter o benefício deles. Aqui estão os versículos:

“Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos.” (Sl 126:5-6)

Nos tempos em que os agricultores cuidavam de sua própria semente em vez de comprá-la a granel dos negociantes de sementes, eles usavam parte da safra do ano como mantimento, e uma parte era reservada como semente para semear para a safra do próximo ano. No modo de cultivo mediterrâneo, na terra de Israel, eles estavam acostumados a verões quentes e secos e invernos amenos, porém úmidos. Eles geralmente semeavam o trigo no outono (o que chamamos de “trigo de inverno”). Ele brotava um pouco no outono, mas ficava dormente durante todo o inverno. Na primavera, ele voltava a ficar verde, e uma ceifa normalmente era o resultado.

Mas, às vezes, as coisas davam errado. Um mau tempo poderia vir e estragar o novo crescimento, ou chuvas mais fortes do que o normal poderiam afogá-lo. Ou poderia não haver chuva alguma, e então o trigo não crescia. Várias doenças de plantas também podem afetar o crescimento do trigo, da cevada e de outros grãos. Qualquer uma dessas coisas poderia resultar em uma safra muito pobre, ou talvez nenhuma safra.

A única solução era pegar alguns dos grãos que tinham sido reservados para mantimento e semear uma segunda vez no ano seguinte. O agricultor bem podia chorar enquanto fazia isso, pois já o trigo que ele havia semeado anteriormente fora perdido. Seria este segundo lote perdido também? Era certamente uma “preciosa semente” que ele estava semeando. Era difícil aventurar-se e semear novamente, com a incerteza de que também esta safra poderia fracassar. Mas o Senhor dá a garantia de que ele certamente, “voltará […] com alegria, trazendo consigo os seus molhos”.

A segunda ceifa não fracassa 

Sem dúvida, essa ilustração tem sua principal aplicação a Israel num dia vindouro. Deus semeou uma primeira safra com Israel, e ela fracassou, porque o homem natural não pode fazer nada aceitável a Deus. Todos os Seus esforços com eles fracassaram em produzir qualquer safra útil. No final, Ele teve que dizer: “Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? E como, esperando Eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?” (Is 5:4).

Mas então Cristo veio, e em muitas lágrimas Ele semeou novamente. O plural é usado no versículo 5, mas o singular no versículo 6, pois é Cristo quem está em vista. Por um tempo Ele está deixando Israel de lado hoje e trazendo a Igreja para a bênção. São os molhos que Ele traz consigo quando toma Israel novamente e os introduz na bênção do milênio aqui na Terra. A segunda ceifa não fracassa, porque está baseada em Cristo e Sua obra, e não no homem natural!

Expectativas que fracassam 

Há uma bela e encorajadora aplicação para nós também, em nossa vida Cristã. Podemos ter tido aspirações e desejos quando éramos jovens, e talvez fossem desejos corretos diante do Senhor também. No entanto, ao longo dos anos, nossa semeadura pode não ter produzido uma boa ceifa, ou pode parecer que não há quase ceifa nenhuma. As coisas podem não ter dado muito certo para nossas famílias, ou nossa carreira pode ter sido uma decepção para nós. Talvez nossa vida de assembleia não tenha sido o que esperávamos, e a bênção coletiva que esperávamos simplesmente não se materializou.

Acredito que o Senhor nos encoraja a “semear novamente”, talvez com lágrimas. Não, não podemos voltar no tempo e ter nossa família ou nossa carreira novamente, mas podemos nos colocar de joelhos e orar. O Senhor é gracioso, e talvez o primeiro “fracasso de ceifa” tenha sido permitido para que, como será o caso de Israel num dia vindouro, tudo seja manifestamente por graça. Sabemos que tudo de bom em nossa vida se deve à graça de Deus e que não podemos receber nenhum crédito por nenhuma bênção em nossa vida, em nossa família ou na assembleia. Se tudo corresse bem da primeira vez, poderíamos ficar inclinados a fazer isso. Quando semeamos em lágrimas pela segunda vez, talvez com temor e tremor, Ele tem prazer em abençoar “muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos” (Ef 3:20). Em um dia vindouro, o Senhor virá novamente, trazendo-nos com Ele como os molhos. Ele quer que também nós, mesmo nesta vida, voltemos, trazendo conosco os nossos molhos, depois de semearmos pela segunda vez.

Anos sem frutos 

Deixe-me encerrar com uma história real do passado, quando o comunismo se espalhou pela Europa Oriental. Um Cristão devoto pregou o evangelho por muitos anos durante aquele período difícil. Muitos crentes queridos sofreram muito, especialmente aqueles que pregavam publicamente, mas esse homem nunca foi preso. Ele pregou fielmente por toda a vida e, por fim, se foi para estar com o Senhor. Ele tinha seis filhos, e, embora respeitassem o pai, nenhum deles jamais foi salvo. Era uma terrível dor para aquele homem fiel que, embora muitos outros aceitassem a Cristo por causa de sua pregação, nenhum de seus meninos estivesse interessado. Ele morreu sem ver sequer um deles vir a conhecer o Senhor como Salvador.

No funeral, outro Cristão fiel pregou um bom evangelho, e o homem que me contou essa história, um dos filhos do homem que morreu, de repente se viu condenado. Ele sentiu que precisava ser salvo. Contudo, no seu simples entendimento naquele instante, ele pensou que precisava se ajoelhar para aceitar a Cristo como Seu Salvador. Ele pensava: “Como posso fazer isso?” Então, lembrou-se de que era costume o caixão permanecer aberto até pouco antes de ser colocado na cova. Assim, os filhos (ou sobrinhos, ou netos) da pessoa falecida ficam de joelhos e efetivamente parafusam a tampa do caixão. Ele pensou, “É nesse momento que serei salvo”, e aceitou a Cristo, bem ali no cemitério, enquanto fechava o caixão do pai.

Mais tarde, depois de a família ter tomado um lanche em casa, ele e seus irmãos tiveram que se retirar para um quarto nos fundos para tratar de negócios relacionados à propriedade do pai. O irmão que me contou a história sentiu que precisava contar aos irmãos o que havia feito; então, enquanto se sentavam juntos, revelou para eles: “Hoje fui salvo enquanto parafusava a tampa do caixão do pai”. Outro irmão, do outro lado da sala, olhou para ele e seus olhos se arregalaram. “Você também?”, disse ele. “Eu fui salvo hoje também.” Então falou outro irmão, dizendo: “Eu também fui salvo, ao lado do túmulo do pai”. Cada um do grupo falou, e descobriu-se que todos os seis haviam sido salvos naquele dia. Todos estão vivendo bem para o Senhor agora. Não hesitemos em semear novamente, pois Aquele que assim faz “voltará, sem dúvida, com alegria”.

W. J. Prost

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