Origem: Revista O Cristão – Ezequias

Senaqueribe e o Senhor

O relato da vida de Ezequias em 2 Reis começa com sua revolta contra Senaqueribe e a humilhação do rei por causa de sua falta de confiança, seguida pela invasão de Judá. Isso ocorre porque o relato aqui nos apresenta as carreiras dos reis colocados sob responsabilidade. A disciplina de Deus para com Ezequias nesta ocasião mostra-lhe que somente a confiança no Senhor é capaz de sustentá-lo. Em seguida, encontramos o ataque de Senaqueribe contra Jerusalém, onde a absoluta confiança de Ezequias no Senhor é colocada à prova e sai vitoriosa.

No relato em Crônicas, encontramos os reis e o povo vistos de acordo com os conselhos de Deus e Sua soberania na execução de Seus propósitos, apesar do fracasso do homem. Judá nada mais é do que um pequeno remanescente insignificante, confinado a Jerusalém; a história do ataque de Senaqueribe contra Jerusalém é mais breve aqui do que nos outros dois relatos.

Em Isaías, temos a história de Ezequias do ponto de vista profético. Somente três fatos são apresentados em detalhes ali: O ataque de Senaqueribe e a grave enfermidade de Ezequias, seguida pela visita dos embaixadores, que estabelece a ascensão e queda profética da Babilônia em relação a Judá. Nesse relato, Ezequias é, em alguns aspectos, um tipo do Messias, mas em muitos outros aspectos, um tipo do remanescente piedoso dos judeus.

As coisas que permaneceram 

Após as ameaças do assírio contra ele, Ezequias subiu à casa do Senhor pela primeira vez. Como parecia, pouco foi deixado para este pobre rei; todo o Judá foi saqueado e o exército assírio estava sitiando a única cidade que ainda permanecia em pé. Eles tinham algum recurso, esse fraco “remanescente que sobrou” (2 Rs 19:4)? Sim, de fato! Eles ainda tinham o templo de Jeová; Sua cidade amada; o monte Sião e o profeta, o portador da Palavra de Deus! A carne poderia estar desanimada, mas, em meio a esse desastre indescritível, a fé possuía tudo o que lhe dava uma garantia firme. Ouve a voz do profeta e fecha os ouvidos à voz blasfemadora dos servos do inimigo. Ela se integra em torno do rei ungido do Senhor.

Não que essa confiança excluísse o reconhecimento do extremo perigo que pressionava o coração: Eles vestem pano de saco e rasgam suas vestes em sinal de aflição, de humilhação e de luto. Mas o perigo leva Ezequias e seu povo para a casa de Deus para receber conselhos, força e consolação. “Este dia é dia de angústia, e de vituperação, e de blasfêmia; porque os filhos chegaram ao parto, e não há força para os ter” (2 Rs 19:3). Nestes tempos, assim como em nossos dias, nossa parte é a profunda humilhação. Como o pequeno remanescente em Judá, temos que sentir reprovação e expressá-la por meio de nossas lágrimas, sobre o estado em que se encontra a Cristandade. Mas uma coisa é suficiente ao remanescente aflito e que também deve ser suficiente para nós: O Senhor está lá e é Ele, não nós mesmos, que foi desafiado.

APalavra do Senhor 

“E Isaías lhes disse: Assim direis a vosso senhor: Assim diz o Senhor: Não temas as palavras que ouviste, com as quais os servos do rei da Assíria Me blasfemaram. Eis que meterei nele um espírito e ele ouvirá um ruído e voltará para a sua terra; à espada o farei cair na sua terra” (2 Rs 19:6-7). A palavra do Senhor é cumprida literalmente. A notícia de que Tiraca, rei da Etiópia, que havia dominado o Egito, avançava contra ele, quando seu próprio objetivo era precisamente a conquista do Egito, fez com que ele partisse subitamente para encontrá-lo.

Mas antes de sua partida, Senaqueribe envia uma mensagem escrita a Ezequias. Ele já havia enviado seus porta-vozes com a seguinte mensagem ao povo: “Não vos engane Ezequias […] nem tampouco vos faça Ezequias confiar no SENHOR” (2 Rs 18:29-30). Agora ele diz a Ezequias: “Não te engane o teu Deus, em Quem confias” (2 Rs 19:10), comparando-o aos falsos deuses que ele, o assírio, havia destruído. Foi uma “reprovação” direta contra o “Deus vivo”. A raiva que encheu o monarca assírio, impedido em seu projeto e ferido em seu orgulho, agora se mostra em seu verdadeiro caráter. É o Deus de Israel a Quem ele se opõe.

O Nome do Senhor 

Ezequias sobe à casa do Senhor pela segunda vez. Não é mais uma questão de humilhação como da primeira vez, mas de um ataque direto ao nome do Senhor a Quem Ezequias honra. Deus deve levar em consideração essa carta. O rei coloca a causa de Deus nas próprias mãos de Deus, mas ele sabe que, para honrar Seu nome, o Senhor salvará Seu povo humilhado. “Agora, pois, ó SENHOR, nosso Deus, sê servido de nos livrar da sua mão; e, assim, saberão todos os reinos da Terra que só Tu és o SENHOR Deus” (2 Rs 19:19).

Então Isaías faz com que o rei conheça a palavra do Senhor pronunciada contra o assírio. Ezequias carrega em seu coração os interesses de Deus, e Deus justifica o caráter e a honra de Seus amados, culpados, mas humilhados, quando estes justificam Sua honra e caráter pessoal. O assírio tinha sido a vara da ira de Deus, mas ele se orgulhava de seu sucesso e não temia erguer-se contra Deus. Disse o Senhor: “Porque a tua fúria contra Mim e a tua arrogância subiram aos Meus ouvidos, porei a Minha argola no teu nariz e o Meu freio nos teus lábios, e te farei voltar pelo caminho por onde vieste” (2 Rs 19:28 – JND).

O assírio não deveria entrar na cidade nem atirar flechas nela, nem lançar tranqueira alguma contra ela; no entanto, o exército inimigo a estava cercando naquele exato momento. Mas Deus interveio por causa de Seu nome e por causa de Davi Seu servo, a quem Ele não revogaria Sua aliança nem Suas promessas (2 Rs 19:32-34).

Julgamento do inimigo 

Na mesma noite dessa profecia, o acampamento dos assírios foi ferido. De manhã, eram todos corpos mortos. “Os que são ousados de coração foram despojados; dormiram o seu sono, e nenhum dos homens de força achou as próprias mãos. À Tua repreensão, ó Deus de Jacó, carros e cavalos são lançados num sono profundo […] quando Deus Se levantou para julgar, para livrar a todos os mansos da Terra” (Sl 76:5-6, 9). Será assim também que o assírio do tempo do fim – o rei do norte, encontrará seu julgamento: “Mas os rumores do Oriente e do Norte o espantarão; e sairá com grande furor, para destruir e extirpar a muitos. E armará as tendas do seu palácio entre o mar grande e o monte santo e glorioso; mas virá ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (Dn 11:44-45). Ele mesmo, o chefe de seu exército, sofre a sentença pronunciada contra ele pelo profeta (2 Rs 19:37). Seus filhos o feriram com a espada quando ele se prostrou na casa de Nisroque, seu deus. Ele havia dito a Ezequias: “O Senhor não o livrará”, mas seu deus Nisroque era incapaz de livrá-lo quando ele se prostrava diante dele.

Progresso 

Em tudo isso seguimos o progresso do homem de Deus e a recompensa que sua confiança no Senhor recebe. No começo, ele se rebela contra o assírio quando, talvez, sem conhecimento de seu próprio coração, ele poderia ter confundido confiança em si mesmo com ter confiança somente em Deus. Então ele perde sua confiança diante do inimigo, mas Deus usa a disciplina para tirar dele toda a sua confiança própria. Neste julgamento, Ezequias, humilhado pelo estado de seu povo, não buscando apoio dentro de seu próprio coração, entrega tudo a Deus. Sua confiança aumenta na medida em que a prova cresce. Ele já não pensa em si mesmo nem em seu povo, exceto para julgá-los; ele busca apenas a glória do Senhor, ligando a salvação de Israel a essa glória. Deus responde a ele mostrando-lhe que Jerusalém, o filho de Davi, e o amado remanescente, ocupam com exclusividade os Seus pensamentos. Ele liberta Seu povo por meio do julgamento, respondendo à humilde oração que “pelo resto que ainda fica” dirige-se a Ele pela boca do profeta (2 Rs 19:4 – AIBB).

H. L. Rossier (adaptado)

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