Origem: Revista O Cristão – Pastores
O Senhor Nosso Pastor
Salmo 23; João 10:14
O Senhor Se fez e Se faz conhecido a nós de muitas maneiras, todas preciosas para nossa alma, suprindo nossas necessidades temporais e espirituais. Primeiramente Ele Se fez conhecido a nós como nosso Salvador. O conhecimento de Seu amor por nós, que O levou a morrer por nossos pecados na cruz, nos deu muito gozo e nos levou a amá-Lo. Aqueles que creem n’Ele podem ter certeza de ter a vida eterna, de ter o perdão dos pecados, de ser completos e aceitos n’Ele, e podem ter certeza de estar com Cristo para sempre em glória (Jo 10:27-29; Ef 1:6-7).
Esse é um assunto resolvido e é agora, e sempre será, o nosso tema de louvor. Além disso, é abençoado conhecê-Lo e desfrutar d’Ele como nosso Pastor, nos suprindo de Sua plenitude em todas as nossas necessidades e vindo ao nosso encontro em todos os nossos variados estados de alma. Há pelo menos duas coisas notáveis sobre o Senhor como nosso Pastor, e Seus caminhos conosco, “ovelhas da Sua mão”: primeiro, o cuidado amoroso do Pastor por Suas ovelhas; segundo, a presença do Pastor que está com Suas ovelhas em todas as circunstâncias de toda a sua jornada por este mundo até Sua casa com Ele.
O cuidado amoroso do Pastor
Perfeito, gracioso e completo é o cuidado do Pastor. Todos nós somos amados por Ele com um amor eterno, e Ele nos chama de “Minhas ovelhas”; ninguém além d’Ele pode nos chamar assim, e Ele não Se esquece da menor nem da mais fraca. Na verdade, as mais fracas são os objetos especiais de Seu cuidado, pois Ele as reúne com Seu braço, as carrega em Seu seio e gentilmente as conduz (Is 40:11; Jo 10:27, Jo 4:10; Rm 8:28-30). Que confiança n’Ele nos dá ouvir de Seus próprios lábios que Ele conhece nosso nome e vai à nossa frente, enfrentando todos os perigos e todas as provações ao longo do caminho antes de chegarmos a esses perigos e provações.
Ele “chama pelo nome às ovelhas… vai adiante delas” (Jo 10:3-4). Muitas armadilhas que foram colocadas pelo inimigo de nossa alma para nos prender, Ele viu e as afastou de nós. Seu olhar atento detecta muitas armadilhas, e cuidadosamente Ele nos conduz em segurança por entre elas. Em muitos desvios que nos teriam tirado do caminho, Ele nos tem conduzido e nos levou em segurança ao longo do reto e estreito caminho. Tal é o cuidado amoroso e fiel do nosso Pastor por nós.
Com tal Pastor, nada nos faltará. Ele cuida de Suas ovelhas; Ele não as entrega para um mercenário. Nós somos o Seu rebanho, e não o rebanho de qualquer homem. “Deitar-me faz em verdes pastos”. Esses pastos não são um recinto construído sobre as opiniões e doutrinas do homem, pois nem o intelecto e a mente natural, nem a busca de prazeres e passatempos mundanos são verdes pastos.
O Senhor nosso Pastor nos faz deitar onde podemos nos alimentar de Seu amor, Sua graça, Sua bondade e Sua glória, sim, daquilo “que d’Ele se achava em todas as Escrituras”, e que o Espírito Santo Se deleita em nos mostrar, porque somos amados por Ele. É importante prestar atenção às exortações, inspiradas pelo Espírito Santo, dos apóstolos Pedro e Paulo: “desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que, por ele, vades crescendo” (1 Pe 2:2). “Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4:15-16).
Guia mansamente a águas tranquilas
O lugar onde o Pastor guia Seu rebanho é “mansamente à águas tranquilas”. O Senhor não quer que sejamos infelizes e inquietos; Ele quer que desfrutemos de Sua paz em todas as circunstâncias. Ele disse “Deixo-vos a paz… Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14:27). Nestes tempos perigosos, o quanto precisamos dessa palavra. Que tranquilidade de espírito e que contentamento de mente isso dá para nos apoiarmos confiantemente em Seu amor e cuidado! Nada pode nos separar do Seu amor. E se, por causa das tristezas e da aspereza da jornada no deserto ou por causa do rápido progresso da infidelidade e do mundanismo, nosso espírito caiu em tristeza e ficamos desanimados, vamos nos animar; Ele é suficiente para fazer o coração se regozijar. Ele é o Todo-Poderoso, amoroso, gracioso e terno Pastor. Sua glória não foi nem um pouco maculada. Ele é o Resplendor da Glória Eterna.
“Ele restaura minha alma” (Sl 23:3 – JND), ou melhor, o significado é: “Ele revigora” ou revive “minha alma”; é como um bom tônico para uma pessoa cuja saúde está debilitada; ele a revigora. O Senhor pode fazer isso quando ficamos desanimados, pois Ele revigorou os dois discípulos a caminho de Emaús e restaurou a alma deles. Primeiro, Ele fez isso, tirando tudo o que estava no coração deles e, em seguida, em Seu amor, removendo a desconfiança e eliminando o desânimo deles, ministrando a Palavra e confortando-os, fazendo com que lhes ardesse dentro o coração, enquanto Ele lhes falava no caminho (Lc 24).
Temos outro exemplo disso quando Paulo foi preso na fortaleza e, na quietude da noite, o Senhor aproximou-Se dele e disse: “Paulo, tem ânimo! Porque, como de Mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma” (At 23:11).
Ocupar-nos com nossas circunstâncias não nos revigorará, porque elas são variáveis; nem podemos nos voltar para nós mesmos: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum”; e o coração, o Senhor nos disse, é “enganoso… mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr 17:9). Embora todas as coisas, tanto os fundamentos da Terra e “os céus… perecerão” e “como uma veste, envelhecerão”, o Senhor nosso Pastor é o Deus eterno e imutável.
A segunda coisa que notamos é:
A presença do Pastor
“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam” (Sl 23:4). Teme-se que muitos crentes não cheguem a esse vale, no qual a presença consciente do Senhor é percebida e desfrutada, até à morte, mas deveríamos perceber, e se continuarmos em comunhão diária com Ele, descobriremos que este mundo é o vale da sombra da morte. Nada pode afetar a nossa posição em Cristo; mesmo o nosso estado de alma nunca pode afetar a nossa posição. Mas devemos viver de acordo com a nossa posição. Que sejamos mais parecidos com Cristo e com menos mentalidade terrenal. Muitas vezes, é somente quando um santo tem que deixar a Terra que o mundo é abandonado. É um privilégio glorioso, bem como uma responsabilidade abençoada, como santos de Deus, nos considerar mortos com Cristo, como somos aos olhos de Deus; isso nos separaria completamente do mundo, como se estivéssemos mortos para ele. Então ele seria para nós o vale da sombra da morte. Mas teremos Sua presença conosco e poderemos dizer: “Não temerei mal algum”. Essa é a expressão confiante de quem percebe a presença sustentadora do Pastor.
Estamos aos olhos de Deus mortos e ressuscitados com Cristo, como se tivéssemos saído deste mundo completamente, e somos deixados para viver aqui na Terra como um povo celestial esperando para ser levado para o céu onde Cristo está. Este mundo é como uma estalagem para o crente, para permanecer como um peregrino e um estrangeiro por um breve tempo, ao término do qual o Pastor o levará para Sua casa, que é a nossa morada eterna. Enquanto isso, temos Sua presença conosco, pois Ele nunca nos deixará nem nos abandonará. Não precisamos temer, pois “a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida”.