Origem: Revista O Cristão – Jardins
O Sepulcro do Jardim
Muito tem sido escrito sobre o jardim do Getsêmani, onde nosso Senhor Jesus passou pela agonia da cruz com Seu Pai. É significativo que é apenas o evangelho de João que chama o monte das Oliveiras e o Getsêmani de jardim, e é apenas em João que a palavra “jardim” é usada em conexão com o sepulcro novo onde nosso Senhor foi sepultado. João registra que “havia um horto [jardim – ARA] naquele lugar onde fora crucificado” (Jo 19:41 ARA). Esse não era o jardim do Getsêmani, pois nosso Senhor quase certamente foi crucificado do lado de fora do portão de Damasco, no lado norte de Jerusalém, enquanto o jardim do Getsêmani ficava do outro lado do vale do Cedrom, a leste de Jerusalém. Muitas conjecturas foram oferecidas quanto ao lugar exato onde nosso Senhor foi crucificado, mas é impossível hoje ter certeza absoluta do local da crucificação ou do sepulcro de José de Arimateia. No entanto, sabemos pela Escritura que o jardim ao qual João se refere estava perto do lugar onde Jesus foi crucificado e que continha um novo sepulcro, de propriedade de José de Arimateia.
Embora não seja nosso desejo especular, é razoável supor que o jardim ao redor do sepulcro também era de propriedade particular de José, pois a Escritura observa que ele era um homem rico. Ele também era um conselheiro, um membro do Sinédrio Judaico, mas alguém que não havia concordado com o plano deles de matar o Senhor Jesus. O jardim provavelmente era seu próprio lugar para descanso e relaxamento, e o lugar onde ele já havia providenciado seu próprio enterro. Uma irmã piedosa em Cristo, há mais de 150 anos, talvez com um toque de imaginação, descreveu o sepultamento do Senhor desta forma:
“Lá as oliveiras cresciam e as palmeiras balançavam, e lá naquele jardim havia um sepulcro escavado na rocha sólida. Vi, no decorrer do tempo, alguns homens e mulheres que, com olhos marejados de lágrimas, um toque carinhoso e uma pressa silenciosa, colocaram um Corpo para descansar – um Corpo envolto em vestes mortuárias brancas como a neve…
“Mas aquele funeral, feito em tanto segredo, com tanta pressa… aquele funeral foi o mais grandioso que já houve na Terra. A criação perdeu seu fôlego em silente reverência; os anjos pasmaram, enquanto o Criador era colocado, por aquele punhado de Suas trêmulas criaturas, naquele sepulcro rochoso” (JJJ, Clay and Stone, págs. 86-87).
Sepulcro de José
Embora o sepulcro de José seja mencionado no registro de todos os quatro evangelhos, já observamos que apenas no de João é mencionado que o sepulcro estava em um jardim. Além disso, é o único evangelho em que o Getsêmani é especificamente referido como um jardim. É significativo que, embora João use a palavra “jardim” em conexão com o Getsêmani, ele não registra a agonia e a oração do Senhor Jesus, embora tenha sido o único dos quatro escritores dos evangelhos que estava presente lá.
Ao falar do motivo dessa última omissão, trilhamos terra santa, mas com reverência eu sugeriria que tudo isso está de acordo com a maneira como João apresenta o Senhor Jesus; Ele O apresenta como o eterno Filho de Deus. Como o Filho de Deus, Ele era superior a todas as Suas circunstâncias e, portanto, os únicos incidentes registrados no Getsêmani são as demonstrações de Seu poder. Primeiro, havia a referência a Si mesmo como o “Eu sou”, o que fez com que Seus pretensos capturadores recuassem e caíssem por terra. Em segundo lugar, houve uma demonstração de Seu poder em graça: Ele curou a orelha de Malco, que Pedro havia cortado.
Novamente falando com reverência, Deus não Se esqueceu do que era devido ao Seu Filho amado como Homem – Aquele que sempre fez Sua vontade. Ele primeiro forneceu um jardim no monte das Oliveiras, e agora Ele fornece um jardim para Seu amado Filho na morte. Uma vez que a obra da redenção estava completa, Deus nunca mais permitiu que mãos perversas tocassem a Pessoa de Seu Filho novamente. O último ato que o homem foi autorizado a fazer foi o soldado perfurar o lado do Senhor Jesus. Depois disso, apenas aqueles que tinham fé tocaram em Seu corpo.
O sepultamento de um homem rico
Em Isaías 53:9, lemos: “E os homens designaram Sua sepultura com os ímpios, mas Ele esteve com o rico em Sua morte” (JND). Deus havia ordenado que Seu Filho tivesse o sepultamento de um homem rico e em um jardim, que fala de paz e descanso. Ainda hoje os homens muitas vezes tentam tornar os cemitérios o mais bonitos possível, com árvores, grama e flores, e aqueles cujos entes queridos descansam lá, muitas vezes colocam flores e outros ornamentos em lápides. Deus também honraria Seu Filho, mesmo que o homem O tivesse crucificado.
No entanto, mesmo que o homem possa embelezar um cemitério, ele continua sendo um lugar de sepulcros e morte. Mas com nosso Senhor Jesus, aquele sepulcro em que Ele foi colocado logo estaria vazio, pois Ele havia dito claramente que ressuscitaria. Assim também os que morreram, tendo depositado sua confiança n’Ele.
As especiarias
Há algo muito especial a notar também sobre as especiarias que Nicodemos trouxe para embalsamar o Senhor. Está registrado em João 19:39 que Nicodemos levou “quase cem libras de um composto de mirra e aloés”. Juntos, José de Arimateia e Nicodemos sepultaram nosso bendito Senhor, um fornecendo o sepulcro novo e o outro as especiarias.
Mirra
Mas em Salmo 45:8 lemos que, “Todas as Tuas vestes cheiram a mirra, a aloés e a cássia, desde os palácios de marfim de onde Te alegram”. A mirra é obtida de uma pequena árvore espinhosa, mas é necessário “ferir” continuamente a árvore cortando profundamente a casca para que a seiva “sangre”. Em seguida, forma uma resina gomosa e perfumada que tem sido considerada muito valiosa ao longo da história do mundo. Fala de fragrância por meio do sofrimento – aquilo que ascendeu a Deus na perfeita obediência de Seu amado Filho. Tem o caráter do cheiro suave do holocausto.
Aloés
Aloés também é extraído da madeira de uma árvore. Tem a característica incomum de ser de sabor amargo, mas produzindo uma agradável fragrância. Isso nos fala da oferta pelo pecado, pois o sofrimento pelo pecado produziu a mais agradável fragrância. O resultado de toda essa amargura e sofrimento foi resolver toda a questão do pecado diante de um Deus santo e fornecer um caminho para a remoção do pecado, não apenas daqueles que creem, mas por fim, de todo o universo.
Cássia
Finalmente, as vestes do Senhor foram permeadas com cássia, uma especiaria que é extraída dos galhos e casca da árvore de canela. Embora tenha um aroma forte e agradável, também foi bem reconhecida por milhares de anos como tendo propriedades medicinais e curativas. Eu sugeriria que ela fala de cura e conforto. Alguns podem perguntar: Por que então não estava presente nas especiarias trazidas por Nicodemos? A resposta é linda. Sem a ressurreição, não poderia haver salvação, cura e conforto. Preciosa como foi Sua obra na cruz, não teria sido suficiente para tirar o pecado, se Ele tivesse permanecido no sepulcro. É na ressurreição que temos a cássia, talvez mais bem descrita em João 20:17: “Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus”. A cássia não é especificamente nomeada, mas o resultado é claro. Somos levados ao favor e ao relacionamento, não apenas com Deus, mas com Deus como nosso Pai. Nunca havia existido esse relacionamento antes, pois enquanto Deus sempre foi, em certo sentido, “um só Deus e Pai de todos” (Ef 4:6), ainda assim Ele nunca havia sido conhecido pelo homem como Pai, no sentido íntimo desse relacionamento. Esse é, de fato, um relacionamento do qual fluem a cura e o conforto.
Aquele sepulcro está vazio agora, pois, como Ele havia dito, nosso bendito Senhor ressuscitou triunfante dentre os mortos e depois ascendeu ao Pai. Em breve, todos os redimidos se juntarão a Ele ali, para sempre, para celebrar Sua vitória sobre a morte e o sepulcro.