Origem: Revista O Cristão – Além da Morte

A Sepultura, o Paraíso, o Hades e a Geena

As palavras em nosso título são usadas nas Escrituras, mas às vezes são mal compreendidas ou o significado não é totalmente apreciado. Além disso, algumas delas são ocasionalmente traduzidas erroneamente na versão King James, e talvez em outras traduções também. É importante ter um entendimento claro dessas palavras, a fim de entender o que Deus diz sobre o que está além da morte.

A sepultura 

No Velho Testamento, a palavra hebraica ‘qeber’ significa uma sepultura e está sempre conectada a uma localidade definida. A palavra grega correspondente no Novo Testamento é ‘mnemeion’, também significando uma sepultura ou sepulcro. Ambas as palavras são traduzidas de várias formas, como sepultura, sepulcro, túmulo e cemitério e estão conectadas ao corpo, nunca à alma ou ao espírito. Ambas as palavras costumam ter um lugar geográfico específico conectado a elas, e na KJV são traduzidas corretamente, tanto no Velho quanto no Novo Testamento.

Sheol e Hades 

No Velho Testamento, a palavra hebraica ‘Sheol’ ocorre muitas vezes. Entendida adequadamente, ela transmite o pensamento de uma alma sem um corpo, e é claramente uma condição, não uma localidade. A palavra grega do Novo Testamento é ‘Hades’, também descreve a condição de uma alma sem um corpo. É aqui que ocorre uma dificuldade, no entanto, pois no Velho Testamento, a palavra Sheol é traduzida “inferno” trinta e uma vezes, e é traduzida trinta e quatro vezes como “sepultura”. Ambas as traduções podem causar confusão, pois inferno, como a Escritura usa a palavra, não é uma condição, mas um lugar. Da mesma forma, uma sepultura é um lugar para um corpo, não a condição de uma alma fora do corpo.

Da mesma forma, no Novo Testamento, a palavra ‘Hades’ é traduzida ‘inferno’ dez vezes e, uma vez traduzida, ‘sepultura’. Mais uma vez, isso gera confusão, pois nem o inferno nem a sepultura transmitem adequadamente o pensamento de uma alma sem um corpo. A sepultura refere-se apenas ao corpo, enquanto a palavra ‘inferno’ é a tradução adequada da palavra ‘Geena’. Falaremos mais sobre isso mais tarde.

Assim, todos os que morreram, sejam crentes ou não, e se morreram nos tempos do Velho ou do Novo Testamento, pode-se dizer apropriadamente que estão em Sheol ou em Hades, quando está se falando da alma desses. No Velho Testamento, antes que a luz do evangelho chegasse, o que acontecia entre a morte e a ressurreição não foi revelado. Mesmo o santo mais piedoso de Deus no Velho Testamento não sabia com certeza para onde estava indo depois da morte. Ele podia confiar em Deus, mas ele não sabia o que iria acontecer. Isso explica expressões em livros como Salmos, Eclesiastes e Jó, que podem levar um leitor casual a supor que todos, sejam eles crentes ou não, vão para um lugar. Por exemplo, lemos em Eclesiastes 3:20: “Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó”. Mais uma vez, Jó poderia dizer: “Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então onde está ele” (Jó 14:10).

Em certo sentido, todos os que morrem estão em uma condição, na medida em que todos estão em um estado fora do corpo, isto é, na condição de alma sem corpo. No entanto, sabemos que Deus “trouxe à luz a vida e a incorrupção [incorruptibilidade – JND], pelo evangelho” (2 Tm 1:10), e agora sabemos o que acontece entre a morte e a ressurreição. Diz-se simplesmente que o incrédulo está em Hades, mas é revelado como uma condição de tormento, pois lemos sobre o homem rico em Lucas 16 que “no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu” (Lc 16:23). No entanto, o crente nunca é mencionado nesses termos, e isso nos leva a outra palavra.

Paraíso 

Embora usada a própria palavra grega, essa é de origem persa e foi usada para descrever os jardins murados especiais mantidos pelos reis persas para seu prazer. Foi usado na tradução da Bíblia da Septuaginta para se referir ao jardim do Éden, e transmitia à mente oriental tudo o que era rico e bonito. Nosso Senhor usou essa palavra para o ladrão que estava morrendo para descrever seu destino e o Seu próprio após a morte. Paulo identifica a palavra com o terceiro céu em 2 Coríntios 12, e está conectada com a árvore da vida em Apocalipse 2:7. É sempre usado em conexão com os crentes e com o lugar de gozo e bênção para o qual eles passam depois de terem deixado este mundo. Nesse sentido, o paraíso pode ser localizado, enquanto os termos Sheol e Hades não podem; eles simplesmente expressam a condição das almas no mundo invisível.

No Novo Testamento, nunca se diz que o crente que morre está em Hades, nem se diz que ele está no paraíso ou no céu, embora tudo isso seja verdadeiro. Porém, a Escritura sempre fala da alma e do espírito do crente como estando “com Cristo”. Embora as palavras paraíso e céu transmitam, de fato, o pensamento de beleza e descanso, mas para o crente a ênfase está na Pessoa de Cristo, não no lugar. Como o escritor do hino coloca,

Não contemplarei a glória,
Mas o Rei da graça.

Embora estar com Cristo, mesmo no estado fora do corpo, seja algo maravilhoso, ainda assim a plenitude de gozo e bênção deve esperar até que o Senhor venha. Naquele momento, a alma e o espírito do crente serão reunidos com seu corpo, e o corpo será transformado “conforme o Seu corpo glorioso” (Fp 3:21). Então o crente não estará apenas com Cristo, mas será totalmente como Ele, tendo não apenas uma natureza, mas também um corpo adequado àquele lugar celestial. Ser completamente como Cristo e passar a eternidade com Ele são a esperança apropriada de todo crente.

Geena 

Finalmente, devemos dizer algo sobre a horrível palavra Geena (TB). Embora usada apenas no Novo Testamento, essa palavra tem sua origem nos tempos do Velho Testamento. É traduzida como inferno ou inferno de fogo e sempre tem o pensamento de um lugar definido, não de uma condição. Em contraste com Hades, que é um estado temporário, Geena é um destino eterno. Poderíamos dizer que Hades é como a condição de um prisioneiro aguardando seu dia no tribunal, enquanto a Geena é como a prisão em que ele é colocado após condenação.

A Geena era o vale de Hinom, no lado sul de Jerusalém, onde o lixo era queimado e os abutres pairavam. Nos tempos dos reis ímpios de Judá, sacrifícios idólatras eram realizados ali, incluindo até o sacrifício de crianças. Não foi até o reinado de Josias que tais práticas abomináveis foram abolidas.

O horror do local ganhou para ele o nome “Ge-hinnom” (Vale de Hinnom), que resultou na palavra grega Geena, usada por nosso Senhor para Se referir ao inferno. Não se diz que tenha sido criado, mas “preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25:41). É neste lugar terrível que os iníquos serão lançados, corpo e alma, por toda a eternidade.

No grande trono branco, lemos que “morte e o inferno [Hades – TB] deram os mortos que neles havia” (Ap 20:13). A morte entrega o corpo, enquanto o Hades entrega a alma; eles estão reunidos para enfrentar o Senhor Jesus no trono do julgamento. Depois, lemos que “a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo” (Ap 20:14 – TB). Que fim terrível para aqueles que recusam a graça de Deus!

W. J. Prost

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