Origem: Revista O Cristão – Serviço
Adoração e Serviço
A maioria dos que leem este artigo provavelmente foi ensinada que, embora a adoração e o serviço sejam ambos privilégios muito reais para cada crente, a adoração precisa ter o primeiro lugar e vem antes do serviço. No entanto, talvez seja difícil para nós encontrar uma Escritura específica que prove isso sem sombra de dúvida. Algumas verdades espirituais são expressas de forma sucinta em um ou dois versículos, e uma simples leitura desses versículos resolve a questão. Por outro lado, algumas verdades são tecidas ao longo da Palavra de Deus, tanto por preceito quanto por ilustração. Eu sugeriria que a relação entre adoração e serviço é uma dessas últimas verdades.
Adoração no Velho Testamento
A primeira menção de adoração no Velho Testamento na versão ACF é em Gênesis 22:5: “Eu e o moço iremos até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós”. No entanto, é a mesma palavra hebraica em Gênesis 18:2 e capítulo 19:1, onde é traduzida como “inclinou-se”. Há muitas referências subsequentes à adoração, mas no Velho Testamento a palavra é usada principalmente em um sentido cerimonial. Certamente era aceitável a Deus, se realizada com um verdadeiro coração, mas a verdadeira adoração não era conhecida. Embora alguns indivíduos (como Abraão, Moisés e Davi) sem dúvida tivessem uma apreciação muito mais profunda do Senhor do que muitos outros, o fato é que a adoração no Velho Testamento era em grande parte de acordo com uma forma exterior. Foi somente com a vinda de Cristo que a adoração “em espírito e em verdade” pôde ser introduzida.
No entanto, mesmo no Velho Testamento encontramos a adoração ocupando o primeiro lugar. Na própria lei, os primeiros mandamentos diziam respeito ao que era devido a Deus; e então aquilo que era devido ao homem vinha em seguida. Durante Seu ministério terrenal, o Senhor Jesus resumiu esse mesmo fato, mostrando que o primeiro mandamento dizia respeito ao que era devido a Deus, enquanto o segundo trazia o que era devido ao homem.
Além disso, a lei fez previsão tanto para os sacerdotes quanto para os levitas. Os sacerdotes estavam claramente envolvidos na adoração, pois tinham o privilégio de se aproximar de Deus em nome do povo. Seus deveres são mencionados primeiro, como aqueles que podiam oferecer os sacrifícios. Os levitas, por outro lado, estavam envolvidos no serviço e estavam sob a administração dos sacerdotes. Eles podiam até ajudar a oferecer sacrifícios, mas seus deveres eram de serviço, não como adoradores. Mas todos deviam ser dirigidos por Arão, uma figura de Cristo.
Quando o Senhor os abençoou com uma boa colheita na terra de Canaã, eles deveriam trazer suas primícias ao Senhor, e isso está conectado com a adoração (Dt 26:1-11). Foi somente depois disso que o dízimo foi mencionado, e a importância de dar ao órfão, ao estrangeiro e à viúva. Em tudo isso vemos que o que era devido ao Senhor sempre vinha antes do que era devido ao homem.
Adoração no Novo Testamento
No Novo Testamento, encontramos a verdadeira adoração introduzida, em toda a sua bem-aventurança. Ela não seria caracterizada por despertar as pessoas com emoção, música ou rituais, mas precisava ser “em espírito e em verdade”. Mais uma vez, nos é mostrada a importância prioritária da adoração, sendo seguida pelo serviço como algo natural. Quando Marta “estava sobrecarregada com o muito serviço” (Lc 10:40 – KJV) enquanto Maria “assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a Sua palavra” (v. 39), o Senhor gentilmente repreendeu Marta, dizendo que “Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (v. 42). Mais tarde, quando a mesma Maria ungiu o Senhor em Betânia, antes que Ele fosse para a cruz, o Senhor respondeu àqueles que se opuseram, lembrando-os de que, embora os pobres estivessem sempre com eles e que eles pudessem fazer-lhes o bem sempre que a oportunidade se apresentasse, eles nem sempre teriam a chance de honrá-Lo neste mundo.
Adoração, depois serviço
Essa mesma ordem de adoração e depois serviço é encontrada em todo o Novo Testamento. Em Hebreus 13:15, somos lembrados para que “ofereçamos sempre por Ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome”. Então, no versículo seguinte, nos é dito para não nos esquecer “da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus Se agrada” (Hb 13:16).
Pedro nos diz que agora somos “sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pe 2:5), enquanto mais tarde no mesmo capítulo, ele nos diz que somos “sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes d’Aquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9). Novamente, a ordem é primeiro a adoração e depois o serviço. Outras Escrituras poderiam ser citadas, mas estas são suficientes para mostrar a ordem que a Escritura nos apresenta, em conexão com a adoração e o serviço.
Adoração-Serviço
Outra conexão significativa entre adoração e serviço ocorre em Romanos 12:1, onde o crente é exortado a apresentar seu corpo em “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. A palavra usada aqui para “culto” é usada várias vezes no Novo Testamento. Na maioria das vezes, é traduzida como “servir” ou “serviço”, mas também tem a conotação de adoração e é traduzida dessa forma várias vezes. Por exemplo, quando Paulo diz aos Filipenses que “circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito” (Fp 3:3), a palavra traduzida como “servimos” é a mesma palavra-raiz que aquela traduzida como “culto” em Romanos 12:1. Há um serviço envolvido na adoração, mas também um serviço envolvido no ministrar ao homem, e nossos corpos devem ser usados para ambos, mas novamente, na ordem correta.
Há algumas lições importantes a serem aprendidas com tudo isso. Em primeiro lugar, devemos reconhecer a conexão íntima entre adoração e serviço. Como alguém observou, “Todo serviço deve ser realizado no espírito de adoração”. Um irmão, que já está agora com o Senhor, costumava dizer: “A lembrança do Senhor tem uma semelhança com a pregação do evangelho: Em uma, apresentamos Cristo e todas as Suas glórias a Deus o Pai. Na outra, apresentamos Cristo como Salvador ao pecador”. Embora Deus dê dons para serem usados no serviço, é importante ver que nenhum dom está envolvido na adoração. Da mesma forma, adoração e serviço não estão agora conectados a diferentes grupos de pessoas, como estavam no Velho Testamento; todo crente é tanto um sacerdote quanto um levita nesta presente dispensação.
Comunhão com o Senhor
Alguém pode se propor a servir sem ser um adorador, mas se somos verdadeiramente adoradores, não podemos deixar de ser servos. É aquele que está em verdadeira comunhão com o Senhor que terá não apenas o desejo e a energia para o serviço, mas também a inteligência espiritual para conhecer a mente do Senhor.
Em segundo lugar, e conectado a esta primeira lição, vemos que sem ser um verdadeiro adorador, não se pode ser um servo aceitável. Nosso coração e mente podem se encantar com o serviço, especialmente se outros estão ativamente engajados nele, e podemos supor que podemos elevar nosso estado espiritual nos envolvendo. Raramente isso acontece; muitas vezes resultará ou em buscarmos aliviar nossa consciência com uma atividade frenética após a outra, ou em um espírito de queixa, como aconteceu com Marta, quando ela se sentiu sobrecarregada ao servir. Antes de podermos servir efetivamente, devemos estar em comunhão com o Senhor.
A resposta do amor
Em terceiro lugar, somos lembrados de que a fonte tanto da adoração quanto do serviço é a mesma – a resposta do amor, como resultado do amor de Deus desfrutado na alma. A respeito do ato de Maria de ungi-Lo, o Senhor disse que sua ação seria contada em todo o mundo, onde quer que o evangelho fosse pregado. Ele não queria dizer que Maria deveria ser exaltada, mas sim que sua ação mostrava como o amor de Deus e a apreciação de Cristo – Sua Pessoa e Sua obra, desfrutados na alma – podiam fazer um pecador amá-Lo tanto em retorno. “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19), e a verdadeira adoração e serviço brotam do desfrute de Seu amor e de nossa resposta a esse amor. É verdade que “o amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5:14), seja na adoração ou no serviço. Se nosso coração está verdadeiramente desfrutando Seu amor, haverá uma pronta resposta, em primeiro lugar no “sacrifício de louvor” prestado em conexão com a lembrança do Senhor, e então um desejo de servi-Lo, de qualquer maneira que Ele possa nos dirigir.
