Origem: Revista O Cristão – Serviço

O Espírito de Serviço

O serviço de Deus neste mundo sempre foi acompanhado de dificuldade e oposição. Nos tempos do Velho Testamento, os servos enviados à vinha do Senhor voltaram todos decepcionados, espancados ou apedrejados; alguns nunca voltaram, mas foram mortos por aqueles de quem eles buscavam frutos para Jeová. No serviço do Novo Testamento, aquele que foi usado principalmente para levar o evangelho da glória de Deus primeiro ao Judeu e depois ao gentio teve que sentir não apenas a cruel oposição do mundo em geral – o açoite, as pedras e as prisões – mas teve que lamentar, no final de sua jornada, o abandono e a negligência da maior parte daqueles que haviam recebido a verdade por meio dele.

Haveria o suficiente para deter até mesmo um homem ativo e zeloso em tal caminho. Lembro-me bem das palavras de um velho servo do Senhor para alguém que estava desanimado pela ingratidão daqueles que ele havia tentado servir: “O Cristianismo não é demonstrado buscando algo na Terra, nem mesmo a gratidão dos Cristãos, mas trazendo para a Terra o poder de outra esfera”.

Servir por amor 

O espírito de serviço no Cristianismo é o amor, e um amor que está disposto a se gastar e a ser gasto pelos outros, sem recompensa, mas até mesmo pronto a amar os coríntios ainda mais, quanto menos eles o amavam (2 Co 12:15).

Deve ter sido muito difícil continuar este serviço aos coríntios. De fato, há um prazer em trabalhar para os outros que demonstram um pouco de gratidão e interesse em retribuição ao serviço, mas o que deve ter sido para o coração do dedicado apóstolo receber nada além de desagrado e ingratidão daqueles por quem ele havia tanto sofrido e trabalhado arduamente? Se em coisas naturais é mais doloroso ter um filho ingrato do que sentir a picada da serpente, quanto mais nas coisas espirituais, onde o cuidado e o serviço ativos, fruto do verdadeiro afeto Cristão, são desprezados? O motivo e a razão para continuar a servir os ingratos são encontrados no próprio amor, e não em seus objetos. Este é exatamente o caráter do amor, a natureza divina; não há nada de egoísta nele, e se o olho for simples, o servo mais dotado ficará bastante contente em ser mal compreendido e mal recompensado ao realizar o serviço para a Igreja de Deus.

Devemos notar a maneira abnegada com que o apóstolo atendia às necessidades dos mais fracos; sendo livre de todos, ele se fez servo de todos, para que pudesse ganhar mais. “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1 Co 9:22). O espírito de serviço em Paulo era evidentemente o espírito de amor; havia aquele verdadeiro “procurar o bem” dos outros, mesmo à custa própria, e a perseverança nisso que é peculiar ao amor. Em 1 Coríntios 13, o amor é enfatizado pelo apóstolo. Os dons são encontrados no capítulo 12, o uso deles no capítulo 14, e o capítulo 13 vem entre eles como sendo a preparação para o seu uso.

O serviço de Jesus 

Mas temos uma impressão muito mais gloriosa e comovente do amor do que aquela que foi vista em Paulo; temos o amor perfeito de Deus manifestado no serviço do próprio Jesus. Seu serviço foi caracterizado por uma perseverança abnegada em um caminho de condescendência que podia descer aos objetos mais fracos e onde nada além da ingratidão do homem era encontrado. Isso é amor divino. Nunca entenderemos plenamente o que foi aquele amor, que pôde descer da glória suprema para o lugar do Homem dependente, que aprendeu a obediência pelas coisas que Ele sofreu, para ser capaz de ajudar e servir os cansados. Mas é uma coisa feliz para nós que tenhamos o próprio Senhor como o padrão e modelo de serviço.

“Eu, porém, entre vós sou como Aquele que serve”, Ele disse, em um momento em que todos os sofrimentos da cruz estavam diante d’Ele e quando havia pouca resposta daqueles que eram os objetos de Seu cuidado. Se realmente desejamos cumprir nossa missão, devemos estar perto d’Aquele cuja bendita vida aqui na Terra foi gasta em serviço perfeito a Deus e ao homem, que nunca buscou nada para Si mesmo, mas sempre o bem dos outros.

Se nossos recursos estão no próprio Senhor, não importa qual seja nosso dom ou serviço, nós o realizaremos com um coração feliz n’Ele e sustentado por Ele até o fim. Naquele dia, “os Seus servos O servirão. E verão o Seu rosto, e nas suas testas estará o Seu nome” (Ap. 22:3-4).

E. L. Bevir, adaptado

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