Origem: Revista O Cristão – As Sete Festas
A Festa e o Sábado
O sangue espargido nas ombreiras das casas dos israelitas no Egito não era para livrá-los da escravidão ou do poder de Faraó. Antes, mostrou a eles o que era necessário para protegê-los do julgamento de Deus, em seu relacionamento com Ele. Se eles entrassem em julgamento, não haveria esperança para eles tanto quanto não havia para os egípcios, pois todos eram pecadores, mas Deus disse: “Vendo Eu sangue, passarei por cima de vós”.
O sangue era a provisão de Deus para abrigá-los, fazendo “expiação pela alma”. Foi a Sua maneira ordenada de livrá-los do julgamento que caiu sobre os egípcios. Ele queria que eles sentissem nas profundezas de sua alma que sua libertação se devia inteiramente à Sua intervenção direta em favor deles.
A lembrança necessária
Para manter no coração deles a constante lembrança disso, Deus ordenou para eles uma festa solene, a ser realizada de ano em ano, no primeiro mês – a páscoa no décimo quarto dia –, seguida imediatamente pela festa dos pães asmos, que durava sete dias. O significado do pão asmo nos é dado em 1 Coríntios, e o consideraremos. Mas, por enquanto, vejamos outra característica desta festa, uma das três ocasiões especiais em que todos os homens em Israel foram ordenados a comparecer diante de Deus (Dt 16:16). Ela começava e terminava com uma “santa convocação”, ou reunião do povo, nos dias da qual foi ordenado que “nenhuma espécie de trabalho” (TB) deveria ser feita (Êx 12:16; Lv 23:5-8). Agora, o pensamento divino neste descanso surge mais claramente em conexão com o sábado instituído imediatamente após (Êx 16) e nos leva de volta à sua origem depois que o trabalho da criação foi concluído (compare Êxodo 20:8-11).
Descanso e comunhão
Deve haver descanso de coração para que a comunhão possa existir. Isso é verdade mesmo em circunstâncias e relacionamentos terrenais. Quanto mais, quando se trata de ter que dar conta a um Deus justo e santo e de se aproximar d’Ele! O Senhor diz: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mt 11:28). Vamos, então, considerar o lugar que o “descanso” deveria ter nas ordenanças estabelecidas por Deus para Seu povo redimido e reunir as instruções contidas nesses dias de “santa convocação”, quando todo o povo devia se apresentar diante de Deus e quando toda obra servil era absolutamente proibida.
Descanso completo caracterizava aqueles dias. Sua importância moral é demonstrada logo após os filhos de Israel haverem deixado a terra do Egito. O povo murmurou contra Moisés, reclamando que ele os havia levado ao deserto para matar de fome toda a assembleia. “Então, disse o SENHOR a Moisés: Eis que vos farei chover pão dos céus, e o povo sairá e colherá cada dia a porção para cada dia, para que Eu veja se anda em Minha lei ou não. E acontecerá, ao sexto dia, que prepararão o que colherem; e será o dobro do que colhem cada dia” (Êx 16:4-5). No sexto dia, o Senhor explicou-lhes essa dupla provisão, dizendo: “Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o; e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar ponde em guarda para vós até amanhã… Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá… Assim, repousou o povo no sétimo dia” (Êx 16:23, 26, 30). Descobrimos então que o “maná”, o alimento celestial com o qual Deus supria Seu povo para atender suas necessidades diárias era subordinado ao “descanso” que Ele ordenou para eles e que superava todas as outras considerações. O Senhor diz: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado” (Mc 2:27).
O lugar de proeminência do sábado
“Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis Meus sábados, porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o SENHOR, que vos santifica”. Ezequiel dá um pensamento semelhante: “E os tirei da terra do Egito e os levei ao deserto… E também lhes dei os Meus sábados, para que servissem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu sou o SENHOR que os santifica” (Ez 20:10-12).
Isso nos mostra por que o sábado ocupou um lugar de proeminência nas instituições dos filhos de Israel e porque um dos dez mandamentos é especialmente dedicado à observância deste dia. Em outros lugares é adicionado: “Qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá” (Êx 31:15). O sábado era um sinal perpétuo entre Deus e os filhos de Israel, e o descanso deveria ser inviolável.
O sábado era a lembrança contínua da obra realizada pelo Criador, e nisto temos a explicação de seu caráter moral e de sua perfeição. Deus viu tudo o que havia criado, e tudo era muito bom. Ele terminou o seu trabalho e descansou no sétimo dia. O sábado de Deus é, portanto, a expressão de Sua completa satisfação com uma cena perfeita, onde não falta nada que possa acrescentar felicidade às criaturas a quem Ele concede o gozo de tudo isso em comunhão Consigo mesmo.
O pecado, porém, entrou no mundo, arruinou tudo e impediu o homem de desfrutar o descanso da criação. No entanto, o descanso permanece no pensamento e no propósito de Deus, pois Deus o estabeleceu, e chegará o dia em que o homem também o desfrutará com Ele. Deus nos mostrou, entretanto, pelos Seus caminhos com os filhos de Israel, que o único fundamento possível pelo qual o homem poderia entrar em Seu descanso em justiça e santidade é o da redenção realizada. A fé se apodera dessa verdade e desfruta de antemão o que será realizado em glória. A redenção e suas consequências, de acordo com os propósitos de Deus, devem ser mantidas constantemente diante da alma, e isso Deus fez por Israel, primeiro em conexão com a páscoa, e depois de maneira mais direta pela instituição do sábado.
O pão asmo
Mas não devemos esquecer o pão asmo, e 1 Coríntios 5 nos dá uma explicação completa dele. Está escrito: “Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”. “Por isso celebremos a festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade” (TB).
O “pão asmo” é então, antes de tudo, uma expressão do que os crentes são diante de Deus em virtude da obra de Cristo, cujo sangue purifica de todo pecado. É dito: “[Vós] estais sem fermento”. Essa é a posição divina do crente, o resultado da morte de Cristo, mas então a conduta deve corresponder em todos os aspectos a essa posição perfeita. “Por isso celebremos a festa… com os asmos da sinceridade e da verdade”, ou seja, andemos diante de Deus em santidade – de uma maneira digna d’Ele. Portanto, tudo o que não está de acordo com a verdade de Deus deve ser “tirado”, pois os israelitas, sob pena de morte, deveriam tirar todo o fermento de suas casas. Deus requer uma caminhada perfeitamente santa.
Santidade
Essa verdade está claramente estabelecida na história dos israelitas, pois a lei foi resumida da seguinte forma: “Santos sereis, porque Eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo” (Lv 19:2). Essa passagem é citada e aplicada aos Cristãos – veja 1 Pedro 1:16. A fé aceita essa relação estabelecida com Deus, como vemos no cântico dos israelitas após sua libertação do Egito, do outro lado do Mar Vermelho. Eles dizem: “Ó SENHOR, quem é como Tu…?… Tu, com a Tua beneficência, guiaste este povo, que salvaste; com a Tua força o levaste à habitação da Tua santidade” (Êx 15:11, 13).
A salvação vem somente de Deus. Ele nos conduz, pela obra de Cristo, a um íntimo relacionamento com Ele mesmo, dando-nos livre acesso à Sua própria presença pelo sangue de Cristo. Por Seu amor, Ele remove todo medo, sendo esse amor tornado conhecido com base na justiça, e Ele nos dá uma boa consciência pela certeza de que todos os nossos pecados foram perdoados por causa do sacrifício que Cristo ofereceu. Cristo entrou no próprio céu, tendo obtido a “eterna redenção” para nós, e é lá que o crente desfrutará plena e eternamente aquele descanso sabático que resta para o povo de Deus (Hb 9:12; 4:9). Será uma cena de perfeição absoluta e perfeita felicidade, onde o próprio Deus estará satisfeito em todos os aspectos e levará Seu povo a participar de Seu próprio gozo em comunhão com Ele mesmo. Uma das operações do Espírito Santo é fazer com que entremos pela fé agora mesmo no desfrute dessas coisas, para que nosso coração transborde de gozo e que tenhamos força e coragem para andar em santidade com Deus.
