Origem: Revista O Cristão – As Sete Festas
As Festas de Jeová
Em Levítico 23 a Escritura traz diante de nós todo o esboço dos tratamentos de Deus com Seu povo na Terra. Veremos, no entanto, que, embora as festas tivessem uma aplicação primária a Israel, Deus também estava olhando adiante, muito além da condição existente de Seu antigo povo. As festas serviam ao propósito de reunir Israel em torno d’Ele mesmo, mas também antecipam aquilo que tem um caráter superior – o Cristianismo. Deus também remove o véu da era vindoura, quando Ele estabelecerá o reino em glória. Veremos o propósito de Deus em Cristo de reunir os Seus ao Seu redor, e seremos capazes de traçar Seus tratamentos, não apenas para a Terra, mas também para o céu. Deus já conquistou a vitória moralmente em Cristo, e logo Ele a provará diante de todos os olhos.
O sábado
O sábado é mencionado primeiro, introduzido de maneira peculiar. No início do capítulo, onde as festas são apresentadas de maneira geral, o sábado é nomeado em particular; em seguida, no versículo 4, há um novo começo que exclui o sábado. Por quê? Porque o sábado tem um caráter completamente peculiar em si mesmo. Todas as outras festas eram celebradas apenas uma vez por ano, porém o sábado era celebrado toda semana. Existe, portanto, uma linha distinta de demarcação, e, assim, o segundo começo é justificado. Mas o sábado ainda tem o caráter de uma festa, pois era de toda importância que seu duplo testemunho estivesse habitualmente diante do povo de Deus – o testemunho de Sua obra na criação e o testemunho do grande descanso de Deus o qual Seu povo desfrutará no final.
O restante da glória será introduzido após a vinda de Cristo, pois “Resta, então, um sabatismo [a observância do sábado] para o povo de Deus” (Hb 4:9 – JND). Está chegando o dia em que toda a criação se regozijará, quando os céus e a Terra e todos neles se unirão. Este será o descanso de Deus, e, quando ele chegar, o sábado será novamente o sinal distintivo de Deus, que Ele verá sendo observado e honrado por toda a Terra.
A páscoa
Aqui encontramos Deus estabelecendo o fundamento de todas as bênçãos. Deus interveio para libertar Seu povo da escravidão, mas, se Deus os liberta, Ele deve libertá-los com justiça. Naquela noite, Ele percorreu a terra para vingar o pecado, mas uma coisa detinha Sua mão, a saber, o sangue do cordeiro morto. Onde quer que este não estivesse nas ombreiras e na verga das portas, reinava a morte. Jeová declarou por esse sangue nas ombreiras das portas que apenas a morte de um substituto adequado poderia deter o julgamento.
O julgamento de Deus caindo sobre o Cordeiro explica o que é o pecado e o que ele exige. A aspersão do sangue nas portas corresponde à aplicação do sangue de Cristo pelo crente, por meio da fé, a si mesmo. O julgamento de Deus caiu sobre Seu Filho, porque Ele é Seu Cordeiro, que foi capaz de suportá-lo. O sangue do Cordeiro é o testemunho do julgamento de Deus, mas na mais rica graça, porque caiu sobre Seu Filho. Então 1 Coríntios 5:7 nos diz: “Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”.
A festa dos pães asmos
A páscoa era seguida imediatamente pela festa dos pães asmos, sendo uma no décimo quarto e outra no décimo quinto do mesmo mês. Como a festa dos pães asmos no Novo Testamento é tratada como começando com a morte do cordeiro pascal, a resposta imediata do Cristão ao sangue de Cristo é andar em santidade. De agora em diante, Deus não o deixará reivindicar um único dia sequer para si mesmo. Imediatamente ele é chamado pela graça de Deus a reconhecer sua responsabilidade de tirar todo o fermento. Sabemos por 1 Coríntios 5:7 que o fermento é símbolo da corrupção. “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que façamos festa”. Que festa? A dos pães asmos.
Isso difere da páscoa, pois um dia era guardado para a páscoa e sete dias para a festa dos pães asmos. Sete dias era um ciclo completo de tempo em conexão com o povo de Deus – um período completo para os homens na Terra. Celebrar a festa dos “pães asmos” é figura de se alimentar de Cristo em Sua pureza, pois o pão asmo era a comida deles durante todos os sete dias. Isso envolvia a manutenção da santidade pessoal. Nenhum fermento poderia ser encontrado na casa deles. Portanto, nosso andar e maneiras devem estar sob o senso de responsabilidade, como separados para o Senhor.
O fermento deveria ser banido tanto da casa quanto do indivíduo, e isso talvez fale de pureza eclesiástica. O Senhor nos chama para tomarmos cuidado em não permitir fermento em nenhum lugar. Deus quer que O agrademos em todos os relacionamentos, tanto no que é coletivo como também em nossa caminhada individual. Se a festa deveria começar no primeiro dia após a páscoa, ela deveria continuar pelos sete dias completos. Guardar esta festa é sempre nosso chamado enquanto estamos aqui.
O molho movido
O molho movido é apresentado como algo completamente separado da páscoa e da festa dos pães asmos que a acompanha. Mas, na verdade, o molho movido era movido no primeiro dia da semana que se seguia à páscoa. Assim, o Senhor foi crucificado na sexta-feira, permaneceu no túmulo no sábado ou último dia da semana, e ressuscitou no primeiro dia [ou domingo]. Ele ressuscitou dos mortos no mesmo dia em que o molho era movido diante de Jeová. O Ressuscitado havia deixado a sepultura e destruído o poder dela para os crentes, e assim a figura do molho movido inicia uma nova ordem de coisas, distinta de todas as anteriores.
No molho movido, temos prefigurado Cristo ressuscitado pelo poder de Deus e para a glória de Deus. É certo que isso é figura da ressurreição de Cristo, e somente a Sua, pois vemos que não havia oferta pelo pecado relacionada a ela. Aqui nós temos as duas grandes ofertas de cheiro suave: o holocausto e a oferta de manjares, ambas falando de Cristo em Sua perfeição.
Os pães movidos ou festa das semanas
Apenas esta festa é delimitada por sete sábados intercalados. É a festa das semanas, mas o número cinquenta deu o nome a esta festa, que é, portanto, chamada de pentecostes. O que, então, se cumpriu quando o dia de pentecostes chegou plenamente? O Pai cumpriu Sua promessa, no dom do Espírito Santo. Eles foram instruídos naquele dia a oferecer uma nova oferta de manjares, pois a Igreja era algo novo. Naquele dia, começou aqui embaixo algo tão novo que era inteiramente sem precedentes.
Em Levítico 23:17, lemos sobre dois pães movidos. Quando Deus fala de um testemunho, Seu modo regular é de pelo menos dois. Cristo ressuscitou, o molho movido, mas agora a assembleia, assim como os dois pães movidos, é dada como um testemunho do poder de Sua ressurreição. A companhia Cristã é testemunha da graça de Deus em Cristo ressuscitado dos mortos.
Além disso, os pães movidos deviam ser de flor de farinha assados com fermento. A flor de farinha fala da pureza de Cristo, porém o fermento fala do pecado. Aqui temos duas coisas aparentemente incompatíveis misturadas no que tipifica os Cristãos – flor de farinha e fermento. No entanto, a triste experiência concorda com isso, pois o crente tem duas naturezas. Não que exista a menor desculpa para se render ao pecado, mas o pecado está ali, exposto pelo fermento, não atuando, mas assado no pão.
A festa das semanas, portanto, é uma distinta figura da graça e dos caminhos de Deus com relação ao chamado Cristão. Aquilo que a festa simboliza foi cumprido naquele mesmo dia em que Deus enviou o Espírito Santo e começou a reunir Seus filhos dispersos em um.
A festa das trombetas
Aqui nos encontramos no sétimo mês – o último mês em que Jeová instituiu uma festa. Aqui, ele conclui o círculo de Seus caminhos na Terra e para com Israel. Deus está inaugurando um novo testemunho – um “memorial, com sonidos de trombetas” (ARA). A trombeta é claramente uma convocação de Deus em alta voz para as pessoas na Terra. Aqui não é apenas um toque de trombeta, mas um “memorial” com sonido de trombeta. É a convocação de Seu antigo povo na Terra. Milhares de anos se passaram desde que estiveram diante d’Ele como Seu povo, mas eles ainda retornarão à sua terra. Assim, Deus os desperta, e a festa das trombetas é Deus retomando Israel.
Podemos nos regozijar na futura reunião de Israel. A figueira é a sua figura, e “quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão” (Mt 24:32). Eles tiveram seu longo inverno, e logo o Sol da justiça surgirá com a cura em Suas asas para eles.
O dia da expiação
Em seguida, chegamos à mais solene de todas as festas, o grande dia da expiação. Nesse dia da expiação, Israel será submetido à propiciação de Cristo. No décimo dia do sétimo mês, Israel dirá justamente: Somos o povo mais culpado do mundo, pois desprezamos e matamos nosso Messias. “E afligireis a vossa alma, e oferecereis oferta queimada ao SENHOR” (Lv 23:27). José foi rejeitado por seus irmãos e exaltado ao lugar mais alto do Egito, e quando o verdadeiro José Se apresentar a Israel, certamente eles afligirão suas almas como os irmãos de José fizeram.
Mas isso não é tudo. No versículo 28, lemos: “E, naquele mesmo dia, nenhuma obra fareis, porque é o Dia da Expiação, para fazer expiação por vós perante o SENHOR, vosso Deus”. Israel, dentre todos os outros, vangloriava-se de suas obras, mas o dia da expiação excluirá tudo, exceto Cristo, de modo que a aversão deles a si mesmos será tão completa quanto o abandono de suas próprias obras.
Esses são os dois efeitos da graça: de um lado, a aflição da alma na confissão de seus pecados e, do outro, nenhuma mistura de algo de si com a obra de Cristo. Isso é repetido no versículo 32: “sábado de descanso vos será; então, afligireis a vossa alma”. As duas realidades morais, nenhuma obra do homem e verdadeira aflição da alma, marcam o dia da expiação de Israel.
A festa dos tabernáculos
Aqui vemos sete dias mencionados novamente. Assim como houve sete dias de sofrimento em graça, na festa dos pães asmos, agora há sete dias de glória. Esta será a festa dos tabernáculos para Israel na Terra. “Porém, aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido a novidade da terra, celebrareis a festa do SENHOR, por sete dias” (v. 39). Era quando eles tinham colhido a produção da terra, quando a colheita já havia passado e a vindima terminado. A colheita é aquele caráter de julgamento em que o Senhor discrimina o bom do mau, enquanto a vindima é o lugar em que Ele pisoteará implacavelmente a perversa religião. Ambas já terão passado quando a festa dos tabernáculos for celebrada, no dia milenar.
Aprendemos algo além no versículo 39: “Celebrareis a festa do SENHOR, por sete dias; ao dia primeiro, haverá descanso, e, ao dia oitavo, haverá descanso”. Haverá, então, um completo período de glória na Terra, assim como agora estamos passando por um completo período de graça. Mas a festa dos tabernáculos se distingue de todas as outras – ela tem um oitavo dia. Os sete dias representam a glória para a Terra, mas o oitavo dia abre a glória celestial e eterna! Ele tem um começo, mas nunca terá um fim! O oitavo dia é o elo com os lugares celestiais e faz alusão à glória superior da ressurreição, não a de Cristo agora, mas daqueles que são Seus reinando com Ele.
