Origem: Revista O Cristão – Tesouros

Seus Tesouros – Celestiais e Terrenais

Na Palavra de Deus, encontramos duas expressões que se referem ao povo de Deus como tesouros. No Velho Testamento, encontramos a frase “propriedade [tesouro – KJV] peculiar” mencionada duas vezes, em referência a Israel (Êx 19:5; Sl 135:4). Não há dúvida de que Israel é o tesouro ao qual essas Escrituras se referem, pois a expressão no Salmo 135 diz: “Porque o SENHOR escolheu para si a Jacó e a Israel, para seu tesouro peculiar”. Israel também é chamado de “Seu próprio povo [peculiar] (Dt 14:2; 26:18). Nos dois casos, a palavra “peculiar” tem o sentido daquilo que é de valor especial para quem o possui. No Novo Testamento, encontramos a expressão “tesouro escondido num campo” (Mt 13:44), e fica claro pelo contexto que o Senhor Jesus está se referindo à Igreja. A palavra “peculiar” também é aplicada à Igreja em Tito 2:14 (KJV), indicando novamente algo que tem um valor especial. É importante entender a diferença entre esses dois tesouros, pois eles não são os mesmos, mas também não competem entre si.

No caso de Israel, é claro que eles foram escolhidos para serem o tesouro peculiar de Deus, mas na linguagem de Êxodo 19:5 encontramos essas palavras adicionais: “Porque toda a Terra é minha”. Israel foi escolhido como o tesouro de Deus na Terra e foi por meio deles que Deus reivindicou a Terra. Quando as nações foram formadas no princípio, está registrado que “quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações […] pôs os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel” (Dt 32:8). Em um dia vindouro, quando Israel for restaurado nas bênçãos do milênio, Deus mais uma vez reivindicará este mundo por meio deles.

“Eu darei” 

E sob que condições eles eram Seu tesouro? Alguém colocou muito bem:

Quanto à Sua “aliança”, era de uma graça sem igual. Não era proposta nenhuma condição – não foram feitas exigências. Sua palavra a Abraão foi: “EU DAREI”. A terra de Canaã não era para ser comprada pelos feitos do homem, mas para ser dada pela graça de Deus. Evidentemente, Ele não havia prometido a terra de Canaã à semente de Abraão com base em qualquer coisa que Ele previsse neles, pois isso teria destruído totalmente a verdadeira natureza de uma promessa. Teria tornado isso um pacto, e não uma promessa, mas “pela promessa, a deu gratuitamente a Abraão”, e não por meio de um pacto – veja Gálatas 3.

Portanto, no começo de Êxodo 19, o povo é lembrado da graça com a qual Jeová até então havia lidado com eles, e são assegurados do que ainda seriam no futuro, desde que continuassem a manter a “aliança” da liberdade e da graça absoluta. [Vós] sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos”. Como eles poderiam ser isso? Será que seriam “uma propriedade [tesouro – KJV] peculiar” quando assolados pelas maldições de uma lei violada – uma lei que eles haviam violado antes de recebê-la? Certamente que não. Como então eles seriam esse “tesouro peculiar”? Permanecendo na posição em que Jeová os considerava quando obrigou o avarento profeta [Balaão] a exclamar: “Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! Que boas as tuas moradas, ó Israel! Como ribeiros se estendem, como jardins ao pé dos rios; como árvores de sândalo o SENHOR as plantou, como cedros junto às águas. De seus baldes manarão águas, e a sua semente estará em muitas águas; e o seu rei se exalçará mais do que Agague, e o seu reino será levantado. Deus o tirou do Egito; as suas forças são como as do unicórnio” (Nm 24:5-8).

Por que a lei foi proposta? 

Mas por que, pode-se perguntar, a lei foi dada a Israel, quando eles não tinham forças para cumpri-la? Deus viu que seria bom e saudável que o homem conhecesse a verdade sobre si mesmo e a natureza e extensão das reivindicações de Deus sobre ele, e, para esse fim, Ele deu a lei. Era o padrão perfeito do que Deus exigia do homem, do que o homem deveria ser, e a proibição daquilo a que o homem era fortemente inclinado. Os dez mandamentos, em sua maior parte, são como uma proibição da vontade humana. “Não farás” … “não farás” é a voz severa e proibitiva da lei moral.

O papel da lei era detectar e registrar as ações do homem e evidenciar seu caráter de transgressor. “Logo, para que é a lei?” diz o apóstolo Paulo, “Foi ordenada por causa das transgressões”. Desde a queda até o momento em que a lei foi dada no Sinai, o homem foi deixado para provar o que é sua natureza decaída sem as restrições da lei: após esse período, vemos o que ele se torna quando sujeito a uma autoridade que proíbe e se opõe aos desejos da carne e da mente. Sem lei, os homens eram bárbaros; sob a lei, são infratores da lei; e quando Cristo veio, cheio de graça e verdade, a Ele rejeitaram e crucificaram.

C. H. Mackintosh (adaptado)

Otesouro peculiar de Deus 

Israel era o tesouro peculiar de Deus na Terra, escolhido por graça soberana. É verdade que, quando se submeteram voluntariamente à lei, perderam a bênção nesse terreno, nessa condição. Mas Deus não será frustrado em Seus propósitos, nem deixará de cumprir Sua promessa a Abraão. No dia vindouro, predito na linguagem do Salmo 135, Deus trará Seu tesouro peculiar, Israel, em bênção, mas no mesmo terreno em que Ele fez a promessa a Abraão – Sua graça soberana. A obra consumada de Cristo na cruz já forneceu os meios pelos quais Deus pode fazer isso, e, no dia milenar, Ele exibirá Seu tesouro peculiar nesta Terra.

O tesouro escondido no campo 

Mas onde tudo isso deixa o “tesouro escondido num campo”? É bonito ver como Deus, embora não se esquecendo de Seu tesouro terrenal, também pôde encontrar um tesouro celestial, escondido no mesmo mundo que Seu tesouro terrenal. Somente Seus olhos podiam vê-lo, mas para tê-lo, Ele comprou todo o campo. Nesse sentido, o tesouro no campo ainda está oculto, pois, embora esteja no mundo, não é do mundo. Não será visto em sua verdadeira glória e beleza até que seja exibido no esplendor celestial, quando a cidade santa descer do céu, proveniente de Deus (Ap 21:9-27). Somente então esse tesouro será totalmente exibido, mas tal exibição não será na Terra. Hoje, enquanto Cristo é rejeitado, esse tesouro ainda está oculto no campo e não é reconhecido pelo mundo. Mas naquele dia, será exibido acima da Terra e para que toda a Terra o veja. Tem caráter celestial, não terrenal, e, portanto, seu lugar está nos céus, e todas as suas bênçãos estão nos lugares celestiais.

Mas por causa desse tesouro, Deus comprou todo o campo – o mundo – por meio da obra de Cristo na cruz. O mundo era Seu por direito de criação, mas Satanás usurpou esse direito, e, por causa da rejeição de Cristo, a Escritura agora o chama de deus e príncipe deste mundo. Mas está chegando o dia em que Cristo tomará Seu lugar de direito e reivindicará a herança que é Sua de maneira dupla – pelo direito de criação e pelo direito de redenção.

Assim, vemos que Deus não é inconsistente em ter dois tesouros, pois um é terrenal e o outro é celestial. Na Terra, a bênção foi ordenada “desde a fundação do mundo” (Mt 25:34), enquanto a companhia celestial foi escolhida para a bênção “antes da fundação do mundo” (Ef 1:4). Ambos são Seus tesouros, mas a Igreja é Sua joia – a noiva de Seu amado Filho. Ela terá o primeiro lugar e estará mais próxima do coração de Cristo, pois habitará com Ele onde Ele habita. Mas Deus não esquecerá de Seu povo terrenal; eles serão o Seu tesouro peculiar no dia milenar.

W. J. Prost

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