Origem: Revista O Cristão – Sofrimentos

Sofrendo Como Cristão

Já lemos em outro lugar nesta edição que o sofrimento é a porção prometida dos Cristãos neste mundo. Sua cidadania e esperanças são celestiais e, enquanto estão aqui embaixo, ele sofre porque segue um Cristo rejeitado.

Existem diferentes tipos de sofrimento pelos quais o crente pode ser chamado a passar. O crente sofre porque faz parte de uma criação que geme e ainda está sob o pecado. Como tal, ele experimenta doenças mentais e físicas, e todas as enfermidades degenerativas que eventualmente levam à morte, se o Senhor não vier antes. Da mesma forma, o crente às vezes sofre sob o governo de Deus, que pode permitir circunstâncias difíceis, doenças físicas e outras provações destinadas a falar com ele sobre algo em sua vida. Não é meu objetivo falar sobre nenhum deles neste artigo.

No entanto, o crente também pode sofrer porque ele pertence a Cristo, e eu sugeriria que há pelo menos três maneiras, pelas quais o crente sofre, relacionadas à sua associação com um Cristo rejeitado.

Por causa da justiça 

Primeiro de tudo, o crente hoje sofre “por causa da justiça”. O Senhor Jesus disse: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5:10). Mais tarde, Pedro nos diz: “se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados” (1 Pe 3:14). Vivemos em um mundo injusto e, uma vez que rejeitou o Senhor Jesus, a Escritura chama Satanás de deus e príncipe deste mundo. Como resultado, a justiça sofre na era atual e o pecado é desenfreado. Do Senhor Jesus foi dito profeticamente: “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade” (Hb 1:9). Como o crente tem nova vida em Cristo, ele também ama a justiça e sofre quando vê a injustiça ao seu redor.

À medida que a vinda do Senhor se aproxima, o mal é cada vez mais descontrolado. É tentador tentar acertar as coisas, mas não é hora de fazermos isso. Este é o dia da graça de Deus e, embora devamos ser testemunhas vivas a este mundo, não devemos agir em julgamento ou tratar com o mal. Quando Cristo voltar em julgamento, nós voltaremos com Ele, e então será a hora de julgar a injustiça.

Nosso lugar é, antes, ser seguidores daquilo que é bom (1 Pe 3:13) e estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). Devemos mostrar justiça em nossa vida, enquanto esperamos o dia em que Deus “com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou” (At 17:31).

Sofrendo por Cristo 

Segundo, o crente também sofre por Cristo. Isso é algo mais profundo do que sofrer por causa da justiça, pois envolve não apenas um ódio ao mal, mas também um amor por Cristo. Posso odiar a injustiça sem referência direta a Cristo, mas o sofrimento por Cristo traz Ele mesmo à cena. Paulo pôde dizer: “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer n’Ele, como também padecer por Ele” (Fp 1:29). Mais tarde, Paulo poderia lembrar a Timóteo que “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3:12). Quando Paulo (então Saulo de Tarso) no princípio de sua conversão, o Senhor disse a Ananias a respeito dele: “Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo Meu nome” (At 9:16). Quantos queridos crentes desde então sofreram por Cristo, seja na perda de seus bens, em prisão, em danos corporais ou até na morte.

É o nome de Cristo que traz a reprovação, pois este mundo O expulsou e não querem Seus seguidores. O mundo gosta dos resultados do Cristianismo, e mesmo um mundo injusto aprecia a justiça em outro. Mas se o nome de Cristo é trazido, imediatamente há reprovação, pois Ele não é desejado.

Embora nos prometam esse tipo de sofrimento, pode ser muito difícil de suportar e, como resultado, alguns queridos crentes fizeram concessões para evitá-lo. Às vezes, as concessões tomam a forma da negação real de Cristo, como aconteceu com Pedro na época da crucificação do Senhor. Em outros momentos, pode assumir a forma de caminhar com o mundo até certo ponto, envolver-se em programas que tentam melhorar o mundo e, talvez, estar conectado a um sistema religioso que também esteja envolvido nessas atividades. Certamente precisamos da graça para sermos fiéis ao nosso Senhor e Salvador, que nos amou e morreu por nós. A cruz de Cristo nos separou para sempre deste mundo, e carregar Sua cruz também me separa da religião mundana. O verdadeiro Cristianismo faz tudo de Cristo e nada do homem, e o mundo não quer isso.

Sofrendo com Cristo 

Existe um tipo final de sofrimento para o crente, o de sofrer com Cristo. Isso é uma coisa mais profunda do que mesmo sofrer por Cristo. “Se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm 8:17). Uma expressão semelhante ocorre em 2 Timóteo 2:12: “Se sofrermos, também com Ele reinaremos”. Em Filipenses 3:10, Paulo fala da “comunicação [comunhão – KJV] de Suas aflições”. Muitas vezes, esse tipo de sofrimento é invisível, mas talvez seja o mais precioso, pois somos identificados com Ele e Sua causa neste mundo. Envolve ver a condição deste mundo como Cristo a via, e a sentir como Ele a sentiu, quando viu os resultados do pecado. Tudo isso não foi apenas por causa de Sua santidade, mas também por causa de Seu amor. Quando o amor divino está operando em nossa alma, também sentiremos, em certa medida, o tipo de tristeza que Ele sentiu e continua a sentir. Nosso bendito Mestre pôde chorar na sepultura de Lázaro quando viu a tristeza e o sofrimento que o pecado havia trazido. Ele poderia chorar por Jerusalém quando eles recusaram todas as propostas de Deus em graça. No mesmo espírito, Paulo podia chorar sobre aqueles que andavam como “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3:18).

Em nossos dias, o sofrimento com Cristo pode assumir muitas formas. Não apenas vemos e sentimos a condição deste mundo como Cristo sente, mas também vemos e sentimos a condição da Igreja como Ele sente. Quando a Palavra de Deus é deixada de lado, quando a verdade de Deus é abandonada, quando há indiferença em Suas reivindicações, quando há pouca evidência de amor por Cristo, então sofremos, se somos fiéis a Cristo. Sentimos e sofremos com outros crentes que talvez estejam em circunstâncias difíceis, mesmo que as circunstâncias sejam o resultado do governo de Deus. Paulo poderia dizer aos coríntios: “Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu me não abrase?” (2 Co 11:29). No entanto, esse sofrimento era em grande parte invisível. É ter o coração de um pai para com seus filhos, como Paulo poderia fazer alusão em 1 Coríntios 4:15: “Não teríeis, contudo, muitos pais”.

A glória vindoura 

Todo sofrimento, seja por causa da justiça, por Cristo ou com Cristo, encontrará sua resposta na glória vindoura. Em qualquer medida em que tivermos compartilhado de Sua rejeição, compartilharemos de Sua glória em um dia vindouro. Mais do que isso, essas experiências de sofrimento aqui embaixo nos permitem conhecer a Cristo de uma maneira que nunca poderemos aprender na glória. Lá em cima, não haverá nada que cause tristeza; é somente aqui que podemos ter o privilégio de sofrer por e com nosso bendito Mestre. No entanto, as memórias de passar por isso com Ele e ter tido comunhão com Seus sofrimentos permanecerão por toda a eternidade. Talvez o “maná escondido” (Ap 2:17) se refira a isso – o desfrutar de Cristo lá em cima em tudo o que Ele foi para nós durante a jornada no deserto, enquanto que a “pedra branca” é sua recompensa por compartilhar de Seus sofrimentos. Temos um tempo tão curto para compartilhar esses sofrimentos. “Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20).

W. J. Prost

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