Origem: Revista O Cristão – Sofrimentos

Tsunami – a Questão do Sofrimento

Romanos 8:22 

O recente tsunami que devastou o sul da Ásia, em 26 de dezembro de 2004, mais uma vez concentrou a atenção do mundo no sofrimento humano. O terrível evento foi tão repentino quanto devastador, deixando o mundo em estado de choque. Em vista de tudo isso, os meios de comunicação se sentiram compelidos a levar as várias visões das principais religiões do mundo quanto ao significado de tudo isso e por que Deus permite que tais coisas aconteçam. A questão do sofrimento neste mundo e as razões pelas quais Deus permite isso têm sido objeto de controvérsia por milhares de anos. Jó, como indivíduo, lutou com essa questão em seus dias, e os homens discutiram sobre o assunto muitas vezes ao longo dos séculos.

É natural querer respostas a estas perguntas, pois este mundo tem sido um lugar de incalculável sofrimento desde que o pecado entrou nele. A Escritura nos diz que “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5:12). Os verdadeiros Cristãos, pelo menos, aceitam isso, mas quando tal terrível devastação ocorre como aconteceu na Tailândia, Indonésia, Sri Lanka, Índia e outros lugares, talvez questões sejam levantadas até nas mentes dos crentes. Milhares de pessoas, particularmente crianças pequenas, morreram, enquanto outras que sobreviveram perderam tudo o que tinham neste mundo, incluindo suas casas, possessões, sustento e família.

O cético 

O cético raciocina que, se Deus fosse todo-poderoso e todo amoroso, Ele interviria para parar esse sofrimento, e se Ele não é, então Ele não é verdadeiramente Deus. Ele então prossegue, em seu raciocínio equivocado, para negar que existe um Deus, ou pelo menos para levantar uma questão sobre Sua existência. De fato, um artigo sobre o recente tsunami em uma publicação bem conhecida concluiu com a observação de que “inumeráveis vozes clamam a Deus. O milagre, se houver, pode ser que muitos ainda creem”.

Infelizmente, mesmo aqueles que tomam o lugar de líderes no mundo Cristão às vezes fazem comentários muito perturbadores. David Hart, supostamente um teólogo ortodoxo, descreveu a conversa sobre os conselhos inescrutáveis de Deus como “odiosa” e a sugestão de que tais desastres servem aos bons propósitos de Deus como “blasfêmia”.

Como em toda questão de natureza moral e espiritual, somente a Palavra de Deus pode nos dar uma resposta, e creio que temos respostas definitivas na Bíblia para as questões que surgem quando coisas como fomes, terremotos e inundações caem sobre o mundo. Toda a nossa curiosidade pode não ser satisfeita, mas Deus nos dá tudo o que precisamos saber para reagir de maneira correta e honrar Suas reivindicações sobre nós.

O propósito de Deus 

A Escritura nos dá pelo menos três razões pelas quais o sofrimento está neste mundo, e para sabermos a primeira razão devemos nos voltar para Efésios 1:9-10: “descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo, de… congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na Terra”. Deus teve em Seus conselhos, em uma eternidade passada, a exaltação e a glória de Seu amado Filho, e todos os Seus caminhos como Homem neste mundo são dirigidos a esse supremo fim.

Embora certamente Deus não tenha prazer no sofrimento que o pecado produziu, permanece o fato de que Ele foi mais glorificado e, em última instância, o homem foi mais abençoado do que se o pecado nunca tivesse entrado no mundo. O mal é permitido para a maior manifestação da glória de Deus e para o conforto eterno de Seu povo. Em Seus caminhos que são “inescrutáveis” Deus pode permitir que o mal tenha seu resultado completo, pois permite a manifestação completa de Seu amor e, por fim, Seu pleno triunfo sobre o mal. Se o mal ascender a alturas aparentemente impossíveis, devemos lembrar que “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5:20). Se não houvesse necessidade de salvação, o Senhor Jesus Cristo nunca teria tido a glória que é agora d’Ele tendo em vista a redenção, e Deus não teria sido glorificado quanto à questão do pecado, como Ele agora tem sido em virtude da obra de Cristo realizada na cruz. Por causa da humilhação que o Senhor Jesus sofreu, Filipenses 2:9 nos diz: “Pelo que também Deus O exaltou soberanamente e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome”. Sua exaltação é diretamente proporcional ao sofrimento, como um hino tão bem coloca: “Completo o gozo, como feroz a ira”.

O coração de Deus 

Juntamente com esta razão para o sofrimento está a segunda razão, a saber, que o homem aprendeu o coração de Deus por meio do sofrimento de um modo que ele nunca poderia ter conhecido, se o pecado não tivesse entrado neste mundo. Se o homem tivesse vivido para sempre no Jardim do Éden, ele poderia ter tido o prazer da presença de Deus em feliz comunhão, mas ele nunca teria conhecido as profundezas do amor no coração de Deus. Se não houvesse pecado e sofrimento resultante, o homem nunca teria experimentado o conforto de Deus no sofrimento.

O ápice de tudo isso é encontrado na encarnação e sofrimento do Senhor Jesus. “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que, pela morte, aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2:14-15). Aquele que estava acima de tudo, voluntariamente veio a este mundo de pecado e quando Ele experimentou exteriormente todo o sofrimento que o pecado produziu, Ele morreu na cruz do Calvário para que Ele seja Aquele que “tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).

Para o homem natural cuja mente é delimitada pelo tempo, o sofrimento neste mundo às vezes parece insuportável. Mas “um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pe 3:8). Nos conselhos de Deus, o sofrimento do homem, que é por alguns milhares de anos, é como alguns dias, mas a bênção que flui da cruz durará por toda a eternidade. O homem foi feito para a eternidade, não apenas para o tempo, e Deus quer que tenhamos uma visão eterna das coisas.

As advertências de Deus 

Finalmente, Deus usa o sofrimento neste mundo para advertir os homens do julgamento vindouro e trazê-los para Si mesmo em arrependimento. Isso é revelado em Lucas 13:1-5, onde alguns disseram ao Senhor Jesus dos galileus, “cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios”. Ao responder-lhes, o Senhor também Se referiu a dezoito pessoas sobre as quais a torre de Siloé, evidentemente, havia caído, matando-as. Em ambos os casos, Sua observação foi: “se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis”. Foi um aviso para preservá-los do julgamento vindouro.

Em relação ao recente tsunami que devastou o sul da Ásia, somos lembrados de uma mensagem semelhante em Amós 5:8: “Procurai o que chama as águas do mar e as derrama sobre a Terra; O Senhor é o Seu nome”. Enquanto os homens podem raciocinar sobre as causas naturais de tais desastres, devemos lembrar que não existem causas secundárias com Deus e que Ele permite tais coisas para advertir os homens.

Alguns podem perguntar por que Deus escolhe fazer de alguns um exemplo, quando o mundo inteiro merece o julgamento de Deus. A mídia noticiou mais de uma vez que os danos do tsunami na maioria dos casos ocorriam em áreas de pobreza desesperada, onde os afetados eram menos preparados para lidar com isso. Mas Deus é soberano, e certamente é Sua prerrogativa julgar alguns para que muitos outros possam temer e se voltar para Ele.

Embora não queiramos destacar nenhuma parte do mundo como sendo mais culpada diante de Deus, ainda assim é perceptível que muitas das áreas atingidas pelo tsunami foram lugares onde os Cristãos são perseguidos e onde a pregação do evangelho é pelo menos fortemente desestimulada, se não expressamente proibida, pelos governos. Desde aquele evento terrível, a destruição generalizada nestes países abriu o caminho para muitas organizações Cristãs e crentes individuais para mostrar o amor de Deus em áreas de onde eles teriam sido anteriormente proibidos. Não só eles foram capazes de trazer ajuda material, mas também a maravilhosa notícia da graça de Deus. Somente a eternidade revelará a bênção que resultou disso.

As reações e consequências 

Surge então a questão quanto àqueles que não se arrependem. E se o homem rejeitar a voz de Deus em tudo isso? Mais uma vez, a mídia noticiou as duas reações comuns daqueles que enfrentam problemas sem Deus – seja esmagador sofrimento ou amarga ira. Outros, particularmente adeptos de falsas religiões como o hinduísmo e o budismo, continuam a viver com medo de fantasmas, enquanto oferecem sacrifícios e realizam rituais, supostamente para por para descansar os espíritos errantes dos mortos. É triste dizer que há muitos que não ouvirão a voz do Senhor falando com eles nessas tragédias e que continuarão a rejeitar o evangelho. O governo da Índia rejeitou a ajuda internacional, e não há dúvida de que pelo menos parte da razão para isso é o medo de espalhar o evangelho por trabalhadores Cristãos estrangeiros.

Paulo comenta sobre esse tipo de tristeza em 2 Coríntios 7:10, quando ele diz: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte”. Quando o homem aceita o sofrimento neste mundo vindo das mãos de Deus e depois olha para Ele por esta razão, ele reconhece a suprema autoridade e poder de Deus. Ele admite sua dependência de Deus e sua responsabilidade para com Ele. Então seu coração está aberto para ver sua verdadeira condição aos olhos de Deus. O resultado é o arrependimento para a salvação, e, portanto, não devemos nos arrepender da tristeza, pois é ela que traz o homem para a presença de Deus, com benção resultante. Por outro lado, a tristeza experimentada sem referência a Deus opera a morte, e este é o triste resultado para aqueles que não trazem Deus em seus pensamentos.

Que nós, que conhecemos o Senhor, possamos ver essas calamidades presentes à luz da Palavra de Deus, por um lado, vendo-as como a voz de Deus para este mundo, mas, por outro lado, vendo que tudo está caminhando para o dia em que Deus vai “congregar em Cristo todas as coisas” (Ef 1:10). O julgamento é necessário para a reivindicação pública do caráter santo de Deus, mas o estado eterno de bênção será para a satisfação eterna de Seu coração.

W. J. Prost

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