Origem: Revista O Cristão – Um Caminho Solitário
A Solidão do Peregrino Idoso
Em sua longa experiência de vida, você certamente terá observado que uma das coisas mais angustiantes na velhice é a solidão.
Um ministro do evangelho nos Estados Unidos, que conduz um artigo de jornal intitulado “Vida Diária”, que atinge milhões de pessoas, recebe, no decorrer de seu trabalho, montanhas de cartas sobre os problemas práticos da vida. Das milhares de cartas, ele descobriu que “O inimigo privado número um” na vida humana é o Medo, “Número Dois” é a Preocupação e “Número Três”, Solidão. O último desses três perturbadores da paz do coração é aquele do qual nos tornamos cada vez mais conscientes à medida que os anos passam rapidamente sobre nossas cabeças, pois um a um de nossos entes queridos partem de nós, até que finalmente nos encontramos sozinhos. No caso de um casamento idealmente feliz, a perda de qualquer um dos parceiros pode causar grande tristeza; sempre no coração do que ficou, há o clamor pelo “toque da mão que já não está mais ali e pelo som da voz que foi silenciada”.
Nosso Pai celestial não está esquecido de nossa necessidade de companhia durante os dias de nossos anos na Terra, e Ele fez uma provisão graciosa para isso. Devemos agora, portanto, examinar esta provisão, e ao fazê-lo, descobriremos que, mesmo que nossas amizades humanas estejam sujeitas a adversidades do tempo, o companheirismo Divino é independente delas – De modo que, enquanto aquelas podem ser destruídas a qualquer momento, esta permanece até que os dias de peregrinação acabem.
As promessas de Deus
A primeira promessa notável que Deus estaria com Seu povo, é aquela que foi dada a Jacó em Gênesis 28:13-16. “E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores”. Essa promessa, adaptada às circunstâncias, foi repetida a Moisés (Êx 3:12) e a Josué (Js 1:5).
Se levarmos adiante, a promessa de Deus dada a Moisés em Êxodo 33:14 (ARA) – “a Minha presença irá contigo e Eu te darei descanso” – como uma espécie de lema, descobriremos que ela pode ser aplicada a todas as formas de sofrimento que possamos encontrar em nosso caminho para a cidade celestial. Assim, “a Minha presença irá contigo e Eu te darei descanso” – em meio ao conflito (Êx 33:14); A coragem, na hora do perigo (Is 41:10); companheirismo, em tempos de tristeza (Is 43:2); confiança, enquanto trilhamos o vale da sombra da morte (Sl 23:4).
Passando para o Novo Testamento, observamos que, embora o Evangelho de Mateus comece com o anúncio da vinda do Salvador (Mt 1:21), ele termina com a garantia da presença perpétua do Salvador que veio: “Eis que Eu estou convosco todos os dias” (Mt 28:20). Todos os dias – nos dias de inverno, quando o gozo foge; em dias sem Sol, quando as nuvens voltam repetidas vezes após a chuva; em dias de doença e dor; em dias de tentação e perplexidade, tanto quanto nos dias em que o coração está tão cheio de gozo quanto os bosques na primavera estão cheios de música. Nunca chega aquele dia em que o Senhor Jesus não esteja ao lado de Seus santos. Aqueles que nos amam e amigos podem estar distantes, mas Ele caminha com eles por meio do fogo; Ele atravessa com eles os rios; Ele fica ao lado deles quando se deparam cara a cara com o leão. Nunca ficaremos sozinhos. Pode-se afirmar com toda certeza, que Ele nunca nos dirá “adeus” (Hb 13:5).
Passado, presente e futuro
Existem três grandes nomes bíblicos, cujos significados espirituais revelam o que Deus pode ser para o Seu povo, durante os dias de sua peregrinação. Essas palavras abrangem, não apenas a necessidade especial que temos meditado, mas também, todos os problemas e dificuldades que possamos encontrar enquanto viajamos para a Terra do Descanso. O primeiro é “Ebenézer”, que significa: “Até aqui nos ajudou o SENHOR” (1 Sm 7:12). O segundo é “Emanuel”, que significa “Deus conosco” (Mt 1:23). A terceira é “Jeová-Jiré”, que significa “O SENHOR proverá” (Gn 22:14).
- “Ebenézer” – com todas as lembranças felizes que traz consigo – é a única palavra que explica adequadamente o passado.
- “Emanuel” – com toda a riqueza de companheirismo que indica – é a única palavra que pode dar garantias para o presente.
- “Jeová-Jiré” – com toda a provisão sem limites que implica – é a única palavra que pode transmitir confiança ao enfrentarmos o futuro.
Dois exemplos
E agora deixe-me dar duas ilustrações de como essas coisas funcionam na experiência real. Uma delas é da Bíblia e a outra vem da história da Igreja.
José, que estava destinado a ocupar um lugar único no desenvolvimento dos propósitos de Deus na Terra, foi inescrupulosamente tirado de sua terra, e, acabou por ser vendido como escravo a Potifar, um oficial da guarda egípcia (Gn 39:1). Mas lemos que, nessas circunstâncias terríveis, o Senhor estava com Seu jovem servo e que ele era um homem próspero (Gn 39:2). Mais tarde, ele foi acusado de uma ofensa grave da qual ele era inocente, e foi lançado na prisão (Gn 39:19-20). Mas novamente, afirma-se que, mesmo ali, Deus estava com esse homem nobre: “O SENHOR, porém, estava com José, e estendeu sobre ele a Sua benignidade, e deu-lhe graça aos olhos do carcereiro mor” (Gn 39:21-23). Se estamos vivendo em comunhão sem nuvens, com Deus “paredes de pedra não fazem uma prisão, nem barras de ferro uma gaiola”. José provou que Seu amigo divino estava realmente com ele na cova e na masmorra, como foi quando, mais tarde, pelo exercício da sabedoria divinamente concedida, salvou o império egípcio da aniquilação.
João Crisóstomo foi o pregador mais eloquente da sua época. Por causa de sua lealdade a Deus e à verdade, ele foi banido pelo imperador e por ele levado ao exílio. Escrevendo a um amigo, da sua casa no deserto, esse eminente servo de Cristo disse: “Você lamentou meu banimento, mas desde que eu soube que a minha pátria estava no céu, tenho considerado toda a Terra como um lugar de exílio. Constantinopla, da qual fui expulso, está tão distante do Paraíso quanto o deserto para o qual eles me enviaram”. Para o homem que pôde usar tal linguagem, Deus era o Socorro sempre presente, o Amigo que nunca falhava.
Amados filhos do Rei, lembremo-nos sempre, conforme nossos amigos vão partindo de nós, de que o Deus que viveu no tempo de José e no tempo de João Crisóstomo é exatamente o Mesmo hoje. Ele permanece (Hb 1:2); Ele habita, e “o deserto e o lugar solitário” podem até mesmo se tornar o lugar de “júbilo, e romperá em cânticos” (Is 35:1-2).
Vamos concluir com a mensagem que veio para nós de Isaías 46:4: “E até à velhice Eu serei o Mesmo e ainda até às cãs Eu vos trarei: Eu o fiz, e Eu vos levarei, e Eu vos trarei e vos guardarei”.
