Origem: Revista O Cristão – Sonhos e Visões

O Sonho do Rei

Nabucodonosor foi dormir certa noite na Babilônia com o poder e a majestade de seu império em sua mente, imaginando qual seria o desenvolvimento dele. Deus graciosamente respondeu aos seus pensamentos pagãos, mostrando-lhe em visão o imperialismo gentio como um todo e sua destruição final pelo poder superior do Reino de Deus (Dn 2). A intenção disso era agir em sua consciência para que ele fosse abençoado, mas tal efeito não foi produzido naquele momento. A bênção veio depois (Dn 4).

Salomão foi dormir em Gibeão com pensamentos muito diferentes exercitando sua mente. Ele havia se tornado a pessoa mais exaltada da Terra, líder do povo escolhido de Deus, agora triunfante sobre todos os inimigos. Ele sentiu a seriedade de sua posição e as grandes responsabilidades a ela associadas (talvez ele ainda fosse um adolescente), e seu coração se voltou para Deus. Felizes teriam sido as nações ao longo dos séculos se os governantes de todos os lugares tivessem se sentido como Salomão naquela noite em Gibeão (1 Rs 3:5-15).

Pede-Me o que queres que Eu te dê

“Apareceu o SENHOR a Salomão de noite em sonhos; e disse-lhe Deus: Pede-Me o que queres que Eu te dê”. Sonhos não são a maneira mais íntima de Deus Se comunicar com os homens, como Ele mesmo disse a Arão e Miriã em Números 12:6-8; mas parece certo que Salomão nunca conheceu a Deus como Davi, seu pai, O conhecia. Ele não tinha a profunda experiência espiritual de Davi, nunca tendo sofrido como ele sofreu. Os anos de aflição de Davi lhe deram um conhecimento de Deus do qual todos nós nos beneficiamos até hoje como leitores de seus Salmos. Davi poderia ter dito como um poeta disse depois:

“Águas profundas cruzaram o caminho da vida,
A cerca de espinhos era pontiaguda/cortante.”

Tal linguagem seria estranha a Salomão. No que se refere ao Templo, embora negada a honra de construí-lo, foi a Davi que Jeová deu todas as instruções necessárias, que ele passou a Salomão (1 Cr 28:1-12). Também é notável que Davi seja mencionado na lista de homens de fé de Deus (Hb 11:32), e Salomão não.

O espírito de uma criança

Foi depois de um dia agitado em Gibeão, quando mil ofertas queimadas foram oferecidas sobre o altar, que “apareceu o SENHOR a Salomão de noite em sonhos; e disse-lhe Deus: Pede-Me o que queres que Eu te dê”. A resposta do jovem rei deleitou o coração de Deus. Primeiro, ele reconheceu a benevolência de Deus em lhe dar um filho para assentar-se em seu trono. Em seguida, ele confessou sua própria insuficiência para as pesadas responsabilidades que agora estavam sobre ele. O povo de Jeová era um povo grande, que se distinguia como Seus escolhidos. Guiá-los e direcioná-los corretamente em sua relação única com Deus estava além do seu poder. “Sou apenas um menino pequeno; não sei como sair, nem como entrar”. O espírito de criança – humilde, que confia e ensinável – convém a todos nós. O Senhor Jesus estabelece isso em Mateus 18. Os versículos finais do capítulo 17 nos dão um maravilhoso cenário para essa instrução. Pedro se portou como um tolo com os cobradores de impostos em Cafarnaum, mas o Senhor aproveitou a ocasião para declarar a exaltada posição em que Pedro e todos os outros crentes se encontram em relacionamento com Ele por meio da graça. Somos filhos do Soberano do universo em associação com o Primogênito! (Hb 2:10)

O crente em Jesus é, portanto, uma pessoa muito digna, segundo a graça. Observe a sequência. “Naquela mesma hora chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: Quem é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando um menino, o pós no meio deles, E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Portanto, temos que nos tornar bem pequenos para podermos entrar na bênção. O próximo versículo nos ensina a continuar pequenos. “Aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus” (ARA). Mateus 17:24-27 nos mostra a dignidade da graça; Mateus 18 segue apropriadamente, instruindo-nos a nos manter pequenos e insignificantes em nossa própria estima. Até o rei Saul, no começo, era pequeno aos seus próprios olhos (1 Sm 15:17); exaltação e poder despertaram seu orgulho e teimosia inerentes, para sua ruína. Um rei que veio posteriormente, Uzias, andou bem até que, “havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína” (2 Cr 26:16 – ARA).

Importância própria

A importância própria era a praga do grupo apostólico. Mesmo na última ceia, “houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior” (Lc 22:24). A vinda do Espírito Santo no Pentecostes para assumir o comando da assembleia para Cristo deveria ter tornado isso impossível na nova ordem, mas a carne está sempre inquieta. A clara determinação do apóstolo Paulo em Romanos 12:3 foi pouco ouvida: “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”. A vastidão das imensidões divinas que ele ministrou fez com que Paulo se sentisse pessoalmente muito pequeno – “menor do que o mínimo de todos os santos” (Ef 3:8 – TB). Em 1 Coríntios 14:20 encontramos um apelo verdadeiramente impressionante: “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento”. Ele não desejava que seus leitores fossem infantis, mas sim que fossem como crianças. “Eu, porém, entre vós sou como Aquele que serve”, disse o Senhor aos Seus seguidores presunçosos (Lc 22:27). Ele não lavou os pés deles naquela mesma noite? (Jo 13)

Buscai primeiro o reino de Deus

Salomão sentiu que era apenas “um menino”; portanto, ele aproveitou a oportunidade de ouro divinamente dada para pedir “um coração entendido para julgar a Teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este Teu tão grande povo?” Sua fala agradou muito a Jeová. Ele poderia ter pedido vida longa ou riquezas, ou a vida de seus inimigos; em vez disso, ele pediu um coração entendido para que pudesse governar bem o povo de Deus. Nosso bendito Senhor disse certa vez: “buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Com base nesse princípio Jeová tratou com Salomão. “Eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias” (1 Rs 3:12-13). Isso parecia tornar segura a bênção de Israel; mas Deus continuou dizendo: “se andares nos Meus caminhos, guardando os Meus estatutos”. Com o sacerdócio estando em um lugar secundário desde a ruína de Eli e seus filhos, tudo dependia da fidelidade do rei. O “se” para Salomão em 1 Reis 3:14 era tão fatal quanto o “se” para Israel em Êxodo 19:5, pois nunca se pode confiar na pobre carne, e o fracasso de Salomão foi verdadeiramente catastrófico. Bendito seja Deus que tudo o que foi perdido pela infidelidade dos homens será retomado pelo Senhor Jesus – o fiel Segundo Homem de Deus – conforme o princípio da graça e com base na redenção. Isso torna certas para sempre todas as coisas.

Perguntemos ao nosso próprio coração que resposta daríamos se Deus nos dissesse: “Pede-Me o que queres que Eu te dê”. Seria certamente um momento de prova e o ponto de virada de nossa vida. Eliseu teve um momento de prova em 1 Reis 19:19-21 e respondeu bem a isso. Ele deixou sua fazenda e imediatamente compartilhou o caminho do profeta perseguido. Mateus foi provado de forma semelhante, e abandonou uma vocação lucrativa, e seguiu o rejeitado Jesus (Mt 9:9). O que desejamos mais do que qualquer coisa que a Terra pode dar? Será que é “conhecê-Lo, e à virtude da Sua ressurreição, e à comunicação [comunhão – JND] de Suas aflições, sendo feito conforme à Sua morte”? (Fp 3:10)

W. W. Fereday

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