Origem: Revista O Cristão – Sonhos e Visões
Sonhos e Visões vindos de Deus
Deus falou ao homem de muitas maneiras (Hb 1:1-2), e Ele não está limitado em Sua capacidade de falar aos homens. Isso é particularmente evidente quando Ele fala por meio de sonhos e visões, quando as pessoas que recebem a comunicação estão dormindo ou em um transe sem autoconsciência. Surge a questão do porquê Deus recorre a esse modo de comunicação. Qual é o propósito d’Ele em falar dessa maneira? Em sonhos e visões, Deus, por Seu Espírito, está Se comunicando com o espírito dos homens, que muitas vezes não têm conhecimento do seu significado. Além disso, os indivíduos muitas vezes ficam com medo e espantados, ou consternados. As palavras de Eliú a Jó, no capítulo 33, dão uma lista de razões pelas quais Deus fala em sonhos e visões. Jó naquele momento estava sob a disciplina de Deus. Durante a provação, Jó se justificou a ponto de culpar a Deus. Por isso Eliú disse a Jó: “Eis que nisso não tens razão; eu te respondo; porque maior é Deus do que o homem. Por que razão contendes com Ele, sendo que não responde acerca de todos os Seus feitos? Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama. Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução” (Jó 33:12-16).
Deus é maior do que o homem
As comunicações por meio de sonhos e visões não permitem ao homem exercer poder ou influência sobre Deus. Tampouco podem os homens contender ou responder a Ele. Os homens estão reduzidos ao modo de escuta. Além disso, os sonhos podem ser facilmente esquecidos ou precisam de interpretação para serem entendidos. José disse ao copeiro: “Não são de Deus as interpretações?”. Assim, Eliú interpelou Jó sobre lutar contra Deus e enfatizou que Deus não devia a Jó nenhuma resposta sobre o que estava fazendo com ele. Mais tarde, sabemos que tudo ficou claro, mas naquele momento Deus Se recusou a Se comunicar com Jó nos termos que Jó desejava.
Deus fala uma e duas vezes
Na realidade, Deus já havia Se comunicado com Jó por sonho, mesmo antes de Eliú lhe dizer: “Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso” (Jó 33:14). No capítulo 4, Deus falou a Jó por meio de Elifaz, que lhe disse: “Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o homem mais puro do que o seu Criador?” (Jó 4:17). Naquele momento parece que Jó desacreditou essa observação como irrelevante, pois ele respondeu: “Então me espantas com sonhos, e com visões me assombras” (Jó 7:14). Embora a mensagem de Elifaz também estivesse misturada com acusações mal aplicadas, a substância das palavras era muito apropriada. “Ouvi uma voz que dizia: Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o homem mais puro do que o seu Criador?” (Jó 4:16‑17). Essa visão de Deus que Elifaz recitou era direcionada precisamente ao problema de Jó, mas ele não a levou a sério. Quando Deus falou, ele não percebeu.
Então, em Jó 20, temos outra referência a sonhos. Dessa vez, foi Zofar que lembrou a Jó que a exaltação dos ímpios é breve. “Ainda que a sua altivez suba até ao céu, e a sua cabeça chegue até às nuvens. Contudo, como o seu próprio esterco, perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está? Como um sonho voará, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite” (Jó 20:6-8). Um dos propósitos dos sonhos e visões é impedir o homem de prosseguir em tal caminho de vaidade. Podemos muito bem admirar o quanto Deus não mede esforços para comunicar Sua mente, fazer advertências ou revelar Seus caminhos às Suas criaturas. Mas Jó precisava de mais do que sonhos para mudar seu pensamento. O entendimento vem de estar na presença de Deus. O primeiro caso de sonhos foi uma palavra para Jó sobre suas ações ou obras; o segundo foi uma palavra a respeito de sua pessoa, a vaidade do homem sem Deus.
Para esconder do homem a soberba
Outro propósito de Deus ao falar aos homens por meio de sonhos e visões tem a ver com o orgulho (ou soberba). Deus não precisa de nossa contribuição e não permitirá que o homem leve o crédito pelo que Ele faz. Então Eliú continua: “para apartar o homem do seu desígnio e esconder do homem a soberba” (Jó 33:17 – ARC). Jó estava defendendo sua própria justiça como uma posição diante de Deus, e, ao seguirmos esse caminho, facilmente nos orgulhamos de nossas realizações. Deus odeia o orgulho e não o permitirá em Sua presença.
Nos últimos anos, houve um aumento na publicação de livros que falam de pessoas não Cristãs tendo sonhos e visões que as levam a confiar no Senhor Jesus. Podemos ser muito gratos por Deus usar esses meios para atrair almas para conhecer o Senhor como Salvador. Mas devemos lembrar que, quando Deus opera por esses meios, não é para exaltarmos a experiência dessas pessoas. Antes, é um exemplo de quão longe Deus vai para alcançar pessoas que, de outra forma, não ouviriam o evangelho. Deus desvia “sua alma da cova e sua vida de passar pela espada” (v. 18). “Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares para declarar ao homem a sua retidão, então terá misericórdia dele, e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à cova; já achei resgate” (Jó 33:23-24).
Moisés, Miriã e Arão
Em Números 12, temos outro caso de Deus falando sobre como Ele usa sonhos e visões para confirmar Sua Palavra. Neste caso, quando Miriã e Arão falaram contra Moisés, o Senhor os reuniu e interveio em favor de Moisés. Ele disse a Miriã e Arão: “Ouvi agora as Minhas palavras; se entre vós houver profeta, Eu, o SENHOR, em visão a ele Me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o Meu servo Moisés que é fiel em toda a Minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o Meu servo, contra Moisés?” (Nm 12:6-8). Aqui vemos a grande diferença nas formas como o Senhor falaria com eles. Com Miriã e Arão, Deus Se revelaria em sonhos ou visão para confirmar que eles tinham uma mensagem d’Ele. Isso provaria que Ele havia dado a mensagem. Mas com Moisés a comunicação era muito diferente. Nenhuma confirmação de sonhos era necessária para Moisés; Ele falava “boca a boca… claramente e não por enigmas” (v. 8). Moisés recebeu muitas mensagens da boca de Deus. Quão superior é essa forma de comunicação! Há lugar para cada uma delas. Com relação a sonhos e visões, Deus é capaz de atravessar nossa distância d’Ele e revelar Sua Palavra. Mas com Moisés havia entendimento, e a respeito dele é registrado: “Fez conhecidos os Seus caminhos a Moisés, e os Seus feitos aos filhos de Israel” (Sl 103:7).
As visões de João e Paulo
Um comentário adicional parece digno de consideração sobre a razão pela qual Deus fez revelações proféticas por meio de visões no Novo Testamento, em vez de falar literalmente sobre o assunto. Paulo escreveu sobre essa questão aos coríntios, dizendo que, embora tenha visto coisas indizíveis, ele não deveria se gabar dessas revelações, mas sim se gloriar n’Aquele que foi revelado – o Senhor Jesus Cristo. Deus escolheu propositadamente fazer revelações proféticas por meio de sonhos e visões. As revelações de Deus podem ir além da nossa compreensão intelectual de coisas que podem ser explicadas pela fala literal. Elas são melhor comunicadas em linguagem figurativa ou simbólica. Assim é no livro de João, o Apocalipse (ou Revelação) de Jesus Cristo. Entendemos esse conceito na escrita de poesia. A linguagem figurativa pode comunicar muito mais para aqueles que conhecem e entendem os termos usados entre si. Os membros da família que vivem juntos são capazes de se comunicar em uma linguagem que outros não entendem. O Apocalipse é escrito nesse formato para que aqueles que conhecem o Senhor tirem muito mais proveito dele do que qualquer tentativa de descrever as coisas celestiais em termos literais. Os meios e maneiras da revelação de Deus são excelentes. Que cada um de nós aprenda a apreciar e a entender Sua revelação.