Origem: Revista O Cristão – A Casa do Pai

O Tabernáculo de Deus e a Casa do Pai

Salmo 84

O que corresponde agora para o Cristão os “tabernáculos”, no sentido mais completo do termo, é a casa do Pai. Deus tem Sua habitação por meio do Espírito na Terra, e muitas aplicações instrutivas podem ser feitas deste salmo para isto, mas nunca até que a casa do Pai seja alcançada entraremos na perfeita benção da ocupação eterna do louvor. É então o significado da figura que são os tabernáculos, com o pensamento adicional de relacionamento, revelado apenas no Cristianismo, que deve ser mantido em vista em nossas meditações sobre este belo salmo.

Observe, em primeiro lugar, que o essencial para nós, enquanto passamos pelo deserto, é ter nosso coração na casa do Pai. Esta é, de fato, a chave para o salmo, quando começa com as palavras: “Quão amáveis são os teus tabernáculos” (v. 1)! De fato, é algo imenso para a alma saber que ela não pertence a essa cena, mas sim ao lugar onde Cristo está – na casa do Pai – e, consequentemente, ter o coração já lá. Este, de fato, é o bendito segredo de estar moralmente fora de tudo pelo qual estamos cercados aqui. Ficando aquém dos benefícios que recebemos pela obra de Cristo, e não prosseguindo no gozo em conhecer Aquele por Quem a obra foi realizada, o coração dificilmente se retirará para fora deste mundo. Mas quando seguimos a Cristo para o lugar para onde Ele foi, meditando, deliciando-nos e adorando-O ali, nosso coração constantemente se voltará para Ele como sua porção única e que satisfaz.

Os anseios do coração

Como consequência, desejaremos estar onde Cristo está. Como o salmista prossegue: “A minha alma está anelante e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo” (v. 2). Deus habitou ali, e o salmista ansiava por estar onde Ele estava, não para obter alívio das tristezas do deserto, nem mesmo para entrar nas alegrias e bênçãos que enchiam o lugar, mas simplesmente porque o Deus vivo habitava ali. Então agora a alma que conhece a Cristo mais intimamente deseja estar onde Ele está, para estar com Ele mesmo. Como Paulo, ele deseja partir, se a morte estiver em perspectiva, para estar com Cristo, assegurado que, se ausente do corpo, ele estará presente com o Senhor. E isso está de acordo com a própria mente do Senhor, pois quando prometeu retornar para os Seus, Ele disse que o objetivo era: “para que, onde Eu estiver, estejais vós também”, e novamente, quando está falando ao Pai, “Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo”. Não poderia ser diferente de que, se Cristo possui nosso coração, deveríamos estar com Ele onde Ele está.

As afeições

Ao entrar nisso, a bem-aventurança de morar na casa é imediatamente apreendida (v. 4). É sempre verdade que vivemos em espírito onde estão os objetivos de nosso coração. Assim, habitar pela fé na casa do Pai é inteiramente uma questão de afeição. É assim, como vimos, neste salmo. Primeiro, o coração está nos tabernáculos, então há o desejo de estar onde o Deus vivo está, e depois temos a bem-aventurança de habitar na casa. Alguém pode perguntar: O que é habitar em espírito na casa do Pai? É a mente, a mente do novo homem, os pensamentos, os desejos e as afeições estando continuamente ali, sempre voltando ao lugar onde o Pai está e onde Seu amado Filho está. Observe, além disso, que aqueles que habitam na casa têm apenas uma ocupação, e isso é louvor – incessantes louvores. Quando lemos sobre os cantores no templo: “de dia e de noite, estava a seu cargo ocuparem-se naquela obra” (1 Cr 9:33).

Um poço no deserto

Ter nosso coração na casa do Pai faz deste mundo um deserto e nós próprios peregrinos e forasteiros nele. Mas há bem-aventurança também nisso, se, como certamente será o caso, nossa força está em Deus, e os “caminhos”, os caminhos para a casa que está acima, estão em nosso coração. Pois a alma que já encontrou seu verdadeiro objeto e descanso é uma alma disciplinada; deixou de estar ocupada consigo mesma, depois de muitas provações e experiências cansativas, e aprendeu que não tem força senão em Cristo. É uma alma dependente e, como tal, valoriza os “caminhos” que levam à posse e realização de todas as suas esperanças e desejos. Mas haverá exercícios enquanto trilhar os caminhos; sim, tal alma encontrará a cena pela qual passa sendo o vale de Baca – de choro. O choro deve durar por toda noite moral deste mundo, e até o semeador deve semear em lágrimas. Haverá exercícios inumeráveis mas, por mais dolorosos que sejam, eles se tornarão um poço – uma fonte de vida, pois “Senhor, por estas coisas vivem os homens, E inteiramente nelas está a vida do meu espírito” (Is 38:16 – TB). Além disso, a chuva, a bendita chuva que é fertilizante vindo de Deus, também desce e enche os tanques. Ele abençoará o peregrino que chora por meio das ministrações de Seu Espírito no interior, e de cima Ele dará as bênçãos celestes.

De força em força

Embora a jornada dos peregrinos permaneça no vale de Baca, eles ainda vão de força em força. Isso não significa que eles adquirirão um aumento de força em si mesmos, mas que, a cada passo de seu caminho no deserto, aprenderão cada vez mais plenamente sua própria fraqueza e, junto com isto, que sua força está no Senhor. Uma maior percepção da dependência deve trazer maior força; somente deve ser lembrado sempre que a força nunca está em nós – nunca em nós como um fundo do qual podemos sacar recursos, mas sempre no Senhor, e apenas para ser recebido momento a momento de acordo com a necessidade. Esta é a bendita lição que o Senhor ensinou a Paulo quando Ele lhe disse: “Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9). Apoiado assim pela força divina, todo peregrino “em Sião aparece perante Deus”. Nenhum pode perecer pelo caminho. Cada filho, por qualquer problema que possa estar passando, deverá chegar à casa do Pai.

“Deixe que os cuidados, como um dilúvio selvagem, venham.
E tempestades de tristezas caiam;
Ainda assim a salvo alcançarei meu lar,
Meu Deus, meu céu, meu tudo”.

Sob a eficácia do precioso sangue de Cristo, no desfrute do relacionamento celestial com o Pai, em associação com Cristo, nenhum poder terrenal nem infernal pode impedir que um santo chegue a seu lar eterno.

Oração

Aprendemos também que, como o louvor é a ocupação daqueles que habitam na casa de Deus, também a oração caracterizará o peregrino no deserto. Na verdade, alguém dependente está sempre em oração, mas quando ele ora, ele não apresenta a si mesmo, mas a Cristo, como o único Fundamento eficaz sobre o qual ele pode esperar a resposta para seus clamores. “Olha, ó Deus,” ele diz “escudo nosso, e contempla o rosto do Teu Ungido” (v. 9). Que benção é estar protegido em Cristo, apresentá-Lo como nossa segurança e orar para que Deus olhe para a face gloriosa de Seu Ungido! Sim, é no Amado que somos aceitos e sabemos que isso nos dá ousadia e confiança. Em seguida, o santo orando derrama os deleites de seu próprio coração na contemplação dos átrios do Senhor. “Porque vale mais um dia nos teus átrios do que, em outra parte, mil. Preferiria estar à porta da Casa do meu Deus, a habitar nas tendas da impiedade” (v. 10). A liberdade de olhar para as alegrias da casa do Pai era infinitamente preferível a todos os prazeres que se acham nas moradas dos que são deste mundo. E nada desconecta tanto o coração das coisas presentes, ou então fortalece o caminho do peregrino, como a antecipação da bem-aventurança da casa de nosso Pai.

Graça e Glória

Tudo é baseado em três coisas. Primeira, o que Deus é em Si mesmo. Ele é um Sol e um escudo. Ele é a fonte de vida e luz para o Seu povo. Em Seus raios de glória, concentrados e expostos em Cristo como assentado à destra de Deus, em Cristo glorificado, é a fonte da vida, e em Sua luz vemos a luz. Segunda, Ele dará graça e glória. Ele dará graça para toda a jornada. Jamais poderemos estar em circunstâncias de qualquer tipo – de provação, tristeza ou tentação – nas quais Sua graça não será suficiente. E observe que Ele a dará, e assim, como em Hebreus 4, nós temos apenas que chegar com ousadia ao trono da graça para recebê-la – não precisamos conquistá-la. Como Tiago também diz, Ele dá mais graça – sempre mais, pois é graça sobre graça de sua plenitude inesgotável, como onda fluindo após onda, uma sucedendo a outra, do seio do oceano. Que provisão! Então, também, Ele dará glória no final, e a mesma glória que Ele mesmo recebeu do Pai (Jo 17:22). Por último, em Seu atual governo, Ele não reterá coisa boa alguma dos que andam retamente. Muitas coisas o Senhor é obrigado a reter de nós por causa de nossa condição prática e, portanto, como aprendemos aqui, nossa capacidade de recepção depende de nossa caminhada. Está sempre em Seu coração dar coisas boas para nós e, portanto, precisamos ser exercitados para manter um andar reto, a fim de que não haja impedimento para a recepção de Seus dons de bênção (veja Salmos 81:13-16).

A preciosidade de Cristo

O último versículo é quase uma admirável irrupção de adoração, pois é após a consideração de todos os detalhes da bem-aventurança conectada com os tabernáculos de Jeová e seu efeito sobre a alma que o salmista transborda de admiração na presença de tal graça inefável e fala das emoções de seu coração nesta palavra: “SENHOR dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em Ti põe a sua confiança”. E certamente nós, com mais luz, e ainda maiores bênçãos, de acordo com a mais completa revelação que Deus Se agradou fazer de Si mesmo em Cristo, podemos endossar essa declaração do salmista com nosso caloroso Amém.

Quanto mais você faz de Cristo, mais precioso Ele Se torna para a alma, mais você desfrutará de Sua presença e companhia.

The Christian Friend

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