Origem: Revista O Cristão – Temor e Ousadia
Temor e Ousadia – Agradável a Deus
Em outro artigo desta edição, falamos dos tipos errados de temor e ousadia à luz da Palavra de Deus. Mas a Escritura também fala de ambos no bom sentido. Encorajamentos positivos!
Temor
Muitas vezes, na Palavra de Deus, lemos sobre o “Temor do Senhor”. A frase ocorre particularmente no Livro dos Provérbios, em conexão com uma caminhada de acordo com os princípios divinos. O que, então, é o temor do Senhor – um medo que é correto para a criatura humana? O temor do Senhor é o reconhecimento, em primeiro lugar, de que o homem é uma criatura e que Deus é seu Criador. É o reconhecimento do supremo poder e autoridade de Deus sobre nós e que somos, em última instância, responsáveis perante Ele. Para o crente, o temor do Senhor é reconhecer nossa dependência do Senhor e temer dar um passo sem orientação divina. É também reconhecer que, mesmo na vida do crente, existe um governo de Deus e que Ele não nos deixará escapar se temos práticas erradas.
É o temor do Senhor que preserva o homem de Satanás e, finalmente, de si mesmo, “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr 17:9). O temor do Senhor nos traz para a presença de Deus, onde buscamos por Sua sabedoria e Seu conhecimento e não confiamos em nós mesmos. É um temor que não causa pavor ou terror no nosso coração, mas ao invés disso nos traz um respeito saudável que é próprio para a criatura diante do seu Criador. É a apreciação que nossas ações aqui nesta vida têm não somente consequências no presente mas também nas eternas.
Aqueles em Autoridade
Junto com o temor do Senhor está o temor devido àqueles que estão em posição de autoridade sobre nós, pois a Escritura nos diz que eles foram ordenados por Deus. Assim nos é dito: “dai a cada um o que deveis… a quem temor, temor” (Rm 13:7). Além disso, os servos são instruídos: “obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor” (Ef 6:5). É um temor que reconhece a autoridade e que a submissão a essa autoridade é submissão ao próprio Senhor, sob Quem a autoridade é exercida.
Pecado
Segundo, há um medo que está ligado ao temor do Senhor, mas ligeiramente diferente, a saber, o medo (aversão) ao pecado (não de ser tentado a pecar). Quando conhecemos o Senhor e estamos cientes de Suas reivindicações, temos um temor apropriado ao pecado. Nosso bendito Senhor Jesus não tinha a natureza pecaminosa, mas experimentou esse temor em absoluta perfeição, pois está registrado que Ele, “oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que O podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia” (Hb 5:7). Nós pisamos em solo santo aqui, pois nosso Senhor Jesus no Jardim do Getsêmani passou por toda a agonia da cruz com Seu Pai. Seu temor não era do que o homem poderia fazer, mas sim o de ser feito pecado por nós e ir à morte por causa disso. Como resultado de Sua vitória por nós na cruz, nós, como crentes, não precisamos mais temer a morte, mas devemos temer sermos levados ao pecado mais do que qualquer outra coisa, por causa do preço que foi necessário para tirá-lo.
Circunstâncias
Finalmente, há um temor de nós mesmos, quando somos levados a circunstâncias avassaladoras. Vimos isto em Josafá, quando ele viu a grande multidão de moabitas, amonitas e edomitas vindo para lutar contra ele (2 Cr 20). Isso não era realmente “o medo do homem” que “traz uma armadilha”, mas sim uma oportuna preocupação de que seu próprio poder não era igual ao daqueles inimigos naquele momento. Mas a resposta dada a ele é encontrada no mesmo capítulo, pois lemos: “parai, estai em pé e vede a salvação do SENHOR… porque o SENHOR será convosco” (2 Cr 20:17).
Quer seja nas situações sérias da vida, como a que Josafá enfrentou naquela época, ou talvez algo de muito menor importância, precisamos continuamente entender “que não é do homem o seu caminho, nem do homem que caminha, o dirigir os seus passos” (Jr 10:23). Satanás é mais forte que nós. Além disso, podemos ter medo quando nos deparamos com circunstâncias muito adversas e não temos forças para enfrentá-las. Um temor apropriado em tais casos nos leva ao Senhor, e então nossa confiança estará n’Ele e não em nós mesmos.
Ousadia
Há momentos em nossa vida como crentes, quando ousadia ou confiança é uma boa coisa e quando é correta diante de Deus. m importante versículo que imediatamente vem à mente é encontrado em Hebreus 10:19-20: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário (Santo dos Santos – ARA), pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela Sua carne”. Uma coisa é ter respeito adequado a Deus como criaturas, mas não O honramos quando hesitamos quando Ele nos trouxe para a bênção por meio da obra de Seu Filho. É uma falsa humildade fingir que não somos dignos de nos aproximar d’Ele, quando a obra de Cristo na cruz nos abriu o caminho.
Agora que o caminho para a presença de Deus está aberto para nós, Deus é honrado quando O consideramos em Sua Palavra e nos apresentamos para desfrutar do que Ele providenciou para nós. Quando José disse a seus irmãos: “Peço-vos, chegai-vos a mim” (Gn 45:4), não teria trazido honra para José se seus irmãos tivessem rejeitado isso. Da mesma forma, Deus diz: “se ele [o homem] recuar, a Minha alma não tem prazer nele” (Hb 10:38). Deus aprecia a ousadia em aceitar e desfrutar o que Ele forneceu graciosamente para nós a um grande custo. Fazer o contrário não é humildade, mas sim incredulidade.
Pregação da Palavra
Outro tipo de ousadia é o que deve ser encontrado naqueles que pregam a Palavra de Deus. Nos primeiros dias da Igreja, quando os principais dos sacerdotes viram “a ousadia de Pedro e João… se maravilharam” (At 4:13). Da mesma forma, Paulo poderia pedir por orações que “com toda a ousadia… será Cristo engrandecido no meu corpo” (Fp 1:20 – ARA). Em Efésios 6:19, ele novamente deseja a oração “para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança”.
Não devemos nos envergonhar do evangelho de Cristo, mas, antes, falar aberta e ousadamente, pois é o único meio pelo qual os homens podem ser salvos. Com a reprovação que está conectada com o nome de Cristo neste mundo, nós, como crentes, podemos ser tentados a tomar um caminho fácil e a não pregar o evangelho ou, talvez, a “adoçá-lo” para que ele não traga uma forte rejeição pelo mundo. Ao longo dos séculos, Satanás fez um bom trabalho ao trazer o Cristianismo para o nível do mundo, eliminando assim muito do “escândalo da cruz” (Gl 5:11). Mas, em fidelidade ao Senhor, devemos apresentar a Palavra de Deus com clareza e verdade, para que a trombeta não dê “sonido incerto” (1 Co 14:8).
Discernimento
Há também uma ousadia ou confiança que podemos ter, quando andamos com o Senhor, quanto ao discernimento de Sua mente. Vangloriar-se disso e dizer aos outros que estamos certos de que temos a mente do Senhor não vem de Deus, pois estamos dizendo aos outros que estamos vivendo tão perto do Senhor que não poderíamos não entender a Sua mente sobre determinado assunto. Mas em nós mesmos, podemos e devemos ter essa confiança que vem de uma caminhada próxima ao Senhor e a consequente percepção de Sua vontade. Assim Paulo, tendo a convicção em sua própria alma que ele tinha a mente do Senhor, pôde dizer aos filipenses: “E, tendo esta confiança, sei que ficarei e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé” (Fp 1:25). João pôde dizer: “E esta é a confiança que temos n’Ele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve” (1 Jo 5:14). Foi uma ousadia que nasceu de constante comunhão com o Senhor e de ter uma percepção de Sua vontade.
Confiança no Senhor a respeito de nossos irmãos
Finalmente, há uma confiança que devemos ter em nossos irmãos que exibiram fidelidade e dedicação ao Senhor durante sua vida. Sabemos, é claro, que qualquer um de nós pode falhar, pois todos somos propensos a um ataque de Satanás. Mas devemos ter confiança naqueles que andam com o Senhor e cuja vida demonstra uma constância que é o resultado dessa caminhada.
Assim, Paulo pôde dizer aos tessalonicenses: “E confiamos de vós no Senhor que não só fazeis como fareis o que vos mandamos” (2 Ts 3:4). Da mesma forma, ele pôde dirigir-se ao seu bom amigo Filemom com um pedido, dizendo: “Escrevi-te confiado na tua obediência, sabendo que ainda farás mais do que digo” (Fm 21). Às vezes, nossa confiança pode estar equivocada, e até mesmo os melhores e mais fiéis de nossos irmãos podem falhar às vezes, mas nos é dito que devemos confiar neles, confiando no Senhor para que eles não nos desapontem.
Assim, vemos que existe um temor que é correto em seu devido lugar, assim como com a ousadia e confiança. Grande parte do problema no mundo de hoje é por causa do medo fora de lugar e da ousadia fora de lugar, pois o homem frequentemente avança quando deve temer, e teme quando Deus Se deleita em lhe dar ousadia. Somente na presença do Senhor e em uma caminhada com Ele podemos manter o temor e a ousadia em seus devidos lugares em nossa vida Cristã.
