Origem: Revista O Cristão – Temor e Ousadia
Temor e Ousadia – Uso Indevido
Ouvimos muito sobre temor e ousadia em nossa vida cotidiana, e também há muito dito sobre isso na Escritura. Na Palavra de Deus, às vezes são falados em um sentido positivo, mas em outras ocasiões de maneira negativa. Neste artigo, gostaria de examinar alguns dos tipos errados de temor e ousadia, à luz da Palavra de Deus.
Temor
Antes de mais nada, lemos em Provérbios 29:25 que “O receio do homem lhe arma laços; mas o que confia no Senhor está seguro” (AIBB). Ao longo dos tempos, o medo do homem tem levado muitos a fazer o que está errado ou a evitar fazer o que está certo. No livro de Provérbios, as reivindicações do Senhor estão diante de nós, e a sabedoria de Deus é dada para nos permitir andar “pelo caminho do entendimento” (Pv 9:6). Mas o medo dos homens impediu que muitos fizessem o que sabem ser o correto – o medo da reprovação, o medo da perda material e, talvez, o medo da violência física ou mesmo da morte. Tudo isso é uma armadilha de Satanás, e somente a confiança no Senhor pode superá-la.
Pensamentos errados a respeito de Deus
Segundo, há o medo que resulta de termos pensamentos errados a respeito de Deus. Tanto na parábola dos talentos (Mt 25:14-30) como na parábola das minas (Lc 19:12-27), o servo com um talento ou uma mina negligenciou seu uso e preferiu escondê-lo, e então devolveu ao Mestre. Ambos os servos expressaram medo do Mestre, alegando que Ele pediria mais do que eles poderiam dar e exigiria deles o que era impossível de produzir.
Esse é um tipo comum e muito sério de medo [temor] – um medo que não conhece o coração de Deus. Satanás está por trás disso, assim como ele persuadiu Eva de que Deus não estava dando a eles o melhor, mas estava retendo deles algo de bom. Satanás procura persuadir os incrédulos, e até mesmo os crentes, dizendo que Deus não é um Deus amoroso, mas sim Alguém que faz exigências irracionais. Toda religião falsa retrata seu deus (ou deuses) como sendo exigente e querendo presentes e sacrifícios constantes do homem. Mas em Cristo, Deus Se revelou como um Deus de graça e verdade. Ele encontrou uma maneira de mostrar Seu amor sem comprometer Sua santidade.
É verdade que há um governo na casa de Deus, mas até isso é por causa do Seu amor. Assim como um pai sábio e amoroso ocasionalmente disciplina uma criança, Deus também não permite que Seus filhos andem de maneira errada sem corrigi-los. Mas, novamente, isso é por causa do amor, e como alguém já observou: “Se somos pecadores ou santos, sempre que temos que tratar com Deus, temos que tratar com o amor”.
Medo de culpa
Finalmente, há um tipo de medo um tanto sutil que resulta do que não é julgado em nosso coração. Nós vemos isso em homens como Adão, Jacó e Jó. Quando pecou, Adão se escondeu entre as árvores do jardim porque sua consciência lhe disse que ele havia errado. Da mesma forma, Jacó, quando fugia de Esaú e foi levado à presença de Deus em Betel, ficou com medo e exclamou: “Quão temível é este lugar!” (Gn 28:17). Jó, cujo caráter e caminhada o próprio Senhor elogiou, diria: “Por que o que eu temia me veio” (Jó 3:25). Quando todo o poder de Satanás tirou sua propriedade e até mesmo seus filhos, havia medo em seu coração, embora houvesse submissão. Em todos esses três homens, suas reações refletiram o que não estava julgado no coração deles.
Houve apenas Um que pôde Se submeter perfeitamente à vontade do Pai, até a morte da cruz e ao sofrimento pelo pecado, mas que não mostrou medo. Havia perfeita confiança e perfeito descanso, quando Ele seguiu em frente com a vontade do Pai. Quando Ele esteve diante de Pilatos, está registrado que Pilatos estava com medo, mas não nosso bendito Senhor.
Todos esses três tipos de medo são errados, mas só podem ser superados na presença de Deus. Esses tipos de medo são comuns ao homem natural e são o produto de sua natureza pecaminosa e sua falta de confiança em Deus. Nosso bendito Mestre nunca conheceu esse tipo de medo.
Ousadia
Quinze ou vinte anos atrás, pelo menos na América do Norte, era relativamente comum ver pessoas, geralmente homens jovens, vestindo camisetas com o slogan “No Fear (Sem medo)”. Este é, na verdade, o nome de uma empresa de vestuário, fundada em 1989, que comercializa produtos com essas palavras. A empresa também comercializa uma bebida energética com o mesmo nome. Seus slogans concentram-se em extremos de esportes competitivos, às vezes desprezo pelas normas sociais e até mesmo desprezo pela lei.
A atitude geral implícita no slogan “No Fear” é uma crença em si mesmo, com a confiança de que podemos fazer o que quer que decidirmos fazer, enquanto afirmamos que “o medo é uma mentira”. É a confiança do homem em si mesmo, colocando-se no centro de seus pensamentos e concentrando-se nos limites aos quais ele pode se esforçar. Essa atitude tem alguma semelhança com o pensamento por trás da sigla “yolo” (que traduzida do inglês é “você vive apenas uma vez”), que foi examinado na edição de maio de 2017 desta revista (O Cristão). Naquela época, salientamos que, embora tal atitude talvez definisse o desejo comum de um adolescente de testar os limites do comportamento aceitável, também refletia o problema mais profundo da frustração e da desilusão com o futuro do nosso mundo.
Implícito nessa ousada arrogância está o fato de que não há medo nem mesmo da morte e que é bom levar seu desempenho até o limite, mesmo que isso se torne fatal. Mas somos coercitivamente lembrados na Palavra de Deus de que “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo” (Hb 9:27). Fingir não ter medo é ignorar a advertência bíblica de que: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:31). Também lemos: “Alegra-te, jovem, na tua mocidade… e anda pelos caminhos do teu coração… sabe, porém, que por todas essas coisas te trará Deus a juízo” (Ec 11:9). Expressar falta de qualquer tipo de medo é ignorar o temor do Senhor.
Junto com essa falta de medo está o reconhecimento de que existe um Deus, mas ousando aproximar-se d’Ele de maneira familiar e imprópria para uma criatura. Isso começou há muito tempo com Caim que, quando foi confrontado por causa do homicídio de Abel, ousou mentir para o Senhor, e depois reclamou da punição imposta pelo Senhor. Desde então o homem tem ousado se aproximar de Deus como se estivesse tratando com um igual, e se esquecendo da admoestação da Escritura, “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a Terra; pelo que sejam poucas as tuas palavras” (Ec 5:2).
Confiança própria
Outro tipo errado de ousadia, ou confiança, é aquela que às vezes aflige os verdadeiros crentes, quando avançamos com nossa própria força, ao invés de dependermos do Senhor. Podemos ver isso em Josué e o povo de Israel, quando tentaram avançar contra Ai (Josué 7) sem perguntar antes ao Senhor. O resultado foi que eles foram derrotados, porque havia pecado no arraial, e eles não tinham julgado isso. Da mesma forma, Pedro se vangloriava de sua fidelidade ao Senhor, quando ele não conhecia seu próprio coração, e mais tarde ele O negou com juramentos e maldições. Assim também nós, se procurarmos fazer algo com nossa própria força, descobriremos a verdade das palavras de nosso Senhor: “sem Mim nada podereis fazer” (Jo 15:5).
Assim, vemos que existem tipos de medo e ousadia que são errados, principalmente porque eles não têm relação com o Senhor ou Suas reivindicações. Mas às vezes tanto o medo quanto a ousadia (ou confiança) podem ser corretos, e nós os consideraremos em outro artigo.
