Origem: Revista O Cristão – Sal
Temperado com Sal
“A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal” (Cl 4:6). Essas são determinações claras da Escritura – encontradas em conexão imediata com algumas das mais elevadas doutrinas da inspiração. E notaremos que onde o peso completo dessas claras determinações não for permitido sobre a consciência, as verdades superiores não serão desfrutadas. Não posso gozar nem caminhar digno da minha “alta vocação”, se me entregar a conversas tolas e brincadeiras (Ef 5:4)[4].
[4] N. do T.: “Chocarrices” (Ef 5:4) é a tradução da palavra grega morologia que significa divertir alguém com gracejos, expondo outros a desprezo – “o bobo da corte”. Efésios 5:4 também menciona “parvoíces” (eutrapelia) que significa brincadeiras vulgares e obscenas. ↑
Eu admito plenamente a necessidade de evitar cuidadosamente toda a falsa aparência de santidade ou restrição carnal. A falsa santidade da natureza é certamente tão ruim quanto sua leviandade, se não pior. Mas por que exibir uma ou outra? O evangelho nos dá algo muito melhor. Em vez de falsa aparência de santidade, o evangelho nos dá verdadeira santidade; em vez de leviandade, nos dá santa alegria. Não há necessidade de falsificar nada, pois se estou me alimentando de Cristo, tudo é realidade, sem nenhum esforço. No momento em que há esforço, tudo é completa fraqueza. Se eu digo que tenho que falar sobre Cristo, torna-se uma terrível escravidão, e eu exibo minha própria fraqueza e loucura. Por outro lado, se a minha alma está em comunhão, tudo é natural e fácil, pois “da abundância do coração, disso fala a boca”. Diz-se que um certo pequeno inseto sempre exibe a cor da folha da qual ele se alimenta. Assim é exatamente com o Cristão. É muito fácil dizer do que ele está se alimentando.
Nossa conversa habitual
Mas alguns podem dizer que “não podemos estar sempre falando de Cristo”. Eu respondo que, na proporção em que somos guiados por um Espírito não entristecido, todos os nossos pensamentos e palavras estarão ocupados a respeito de Cristo. Se somos filhos de Deus, estaremos ocupados com Ele por toda a eternidade. Por que não agora? Estamos agora tão completamente separados do mundo como estaremos então, mas nem sempre o percebemos, porque não andamos no Espírito.
É bem verdade que, ao entrar na questão do hábito de conversação de um Cristão, está-se entrando num terreno inferior, porém, esse é um terreno necessário. Seria muito mais feliz continuar no terreno superior, mas falhamos nisto, e é uma misericórdia que a Escritura e o Espírito de Deus venham ao nosso encontro no nosso fracasso. A Escritura nos diz que estamos assentados em lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 2:6); também nos diz para não roubar. Pode-se dizer que é terreno inferior falar com os homens celestiais sobre roubo, mas é necessário. O Espírito de Deus sabia que não era suficiente nos dizer que estamos assentados nos lugares celestiais; Ele também nos diz como nos conduzir na Terra, e nossa experiência da primeira declaração será evidenciada por nossa exibição aqui da segunda. A minha caminhada aqui prova o quanto eu penetro na minha posição lá.
Portanto, posso encontrar na caminhada do Cristão um terreno muito legítimo para lidar com ele sobre a condição real de sua alma diante de Deus. Se sua caminhada é baixa, carnal e mundana, deve ser evidente que ele não está percebendo sua posição alta e santa como um membro do corpo de Cristo e um templo de Deus.
Portanto, a todos os que são propensos a entrar em hábitos de conversa leviana, eu diria carinhosa, mas solenemente: Olhem bem para o estado geral de sua saúde espiritual. Sintomas ruins se manifestam – certas evidências de uma doença que se desenvolve dentro deles mesmos pode ter, maior ou menor grau de dano das próprias fontes de vitalidade. Cuidado com o progresso dessa doença. Vá imediatamente ao Grande Médico e participe do Seu precioso bálsamo. Toda sua constituição espiritual pode estar desequilibrada, e nada pode restaurar seu vigor, exceto as virtudes curativas do que Ele tem para lhe dar.
A beleza de Cristo
Uma nova visão da excelência, preciosidade e beleza de Cristo é a única coisa que levanta a alma de uma baixa condição. Toda a nossa esterilidade surge do fato de termos deixado Cristo escapar. Não é que Ele nos tenha deixado escapar. Não; bendito seja o Seu nome, isso não pode ser. Mas praticamente, nós O deixamos escapar, e nosso vigor tornou-se tão baixo que às vezes é difícil reconhecer qualquer coisa do Cristão em nós, a não ser o mero nome.
Não chegamos onde deveríamos chegar em nossa carreira. Não entramos, como deveríamos, no significado do “cálice e batismo” de Cristo; falhamos em buscar comunhão com Ele em Seus sofrimentos, morte e ressurreição. Temos buscado o resultado dessas coisas, como feitas n’Ele, mas não entramos experimentalmente nelas, e por isso, há nosso declínio melancólico do qual nada pode nos recuperar, a não ser entrar mais na plenitude de Cristo.