Origem: Revista O Cristão – Tesouros

O Tesouro e o Coração

Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12:34). O princípio moral aqui estabelecido por nosso Senhor exige nossa profunda e constante atenção, e mais ainda porque a carne sempre engana, e luta contra esse princípio, visando se entregar a um disfarce que o ignora de forma convincente. Mas andamos por fé, não por vista, e com razão.

Onde não há fé, um objeto presente envolve o coração e se torna o tesouro. É o eu de uma forma ou de outra, em que Satanás é o mestre, e não Deus: Qual, então, deve ser o fim para a eternidade? O objeto mais prevalente é o que nosso Senhor chama de “torpe ganância”, pois o dinheiro é o meio mais fácil de se obter ganhos para gratificar as cobiças carnais. Ou pode ser o coração abandonado aos prazeres do pecado por um período. O poder é a ambição de alguns, assim como a fama é de outros. Também pode tomar uma direção religiosa com a mesma prontidão, com um desejo de honra mundana. Desse modo os homens perecem, mesmo onde nenhuma grosseria aparece, mas apenas o mais agradável refinamento.

Somente Cristo livra e preserva de todas essas armadilhas. Ele é dado e enviado por Deus para conquistar o coração por Sua graça inefável, adaptando-Se à nossa culpa, miséria e inutilidade por meio do pecado, para salvar o mais vil do seu mal, reconciliar com Deus, ser tanto vida quanto justiça para aquele que não tinha nenhuma delas, e para associá-lo com o céu. Assim, Ele separa a pessoa do mundo, não apenas em tudo o que é evidentemente mal, mas também em tudo o que afirma ser bom ou melhor, para que não mais vivamos para nós mesmos, mas para Aquele que, por amor de nós, morreu e ressuscitou. E como isso é para a glória do Pai, assim é realizado pelo poder do Espírito que está aqui, enviado agora do céu, desde o Pentecostes, para glorificar Aquele que nunca buscou Sua própria vontade, mas sim a de Deus.

Cristo é o verdadeiro tesouro 

Cristo é, portanto, o verdadeiro tesouro, e para o louvor da glória da graça de Deus, Ele nos fará como Ele diante de Si mesmo, não apenas em natureza, mas em relacionamento, tanto quanto possível. Temos, porém, esse tesouro, por enquanto, em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós mesmos. “Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; por que as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Co 4:16-18).

Portanto, nosso Senhor pede que não acumulemos para nós tesouros na Terra onde a traça e a ferrugem estragam e onde os ladrões cavam e roubam, mas que acumulemos para nós mesmos tesouros no céu onde nem a traça nem a ferrugem estragam e onde os ladrões não cavam nem roubam. “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12:34). O coração segue necessariamente o objeto de sua afeição; Cristo, o Tesouro do Cristão, não era da Terra, mas veio de cima, do céu e acima de tudo. “Aquele que vem de cima é sobre todos” (Jo 3:31).

Onde está o nosso tesouro? 

Portanto, não é apenas o que é o tesouro, mas também para o local onde ele está que o Senhor chama nossa atenção. E dessa verdade do tesouro no céu deriva grande força da ascensão de nosso Senhor para onde Ele estava antes (Jo 6:62), não mais apenas como Filho de Deus, como quando Ele desceu, mas agora também como o Filho do Homem em glória celestial. Esta é a maneira correta e completa pela qual o Cristão O conhece. “Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo, agora, já O não conhecemos desse modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura (criação – TB) é” (2 Co 5:16-17).

O Cristão está unido pelo Espírito a Cristo glorificado, agora que ele repousa na redenção realizada, pois “o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito”. Só podia ser assim nesse momento e nesse lugar. Portanto, tendo morrido com Cristo e ressuscitado juntamente com Ele, somos exortados a procurar as coisas que são de cima, onde Cristo está, sentado à destra de Deus, a fixar nossa mente nas coisas que estão em cima, não nas coisas que estão sobre a Terra, pois morremos e nossa vida está escondida com Cristo em Deus. E esperamos que, quando Cristo, nossa vida, se manifestar, também nós nos manifestaremos com Ele em glória.

Nosso coração 

Podemos notar que em Lucas 12 a conexão dessa verdade é expressa de forma mais ampla (“onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração”), não apenas com o aviso da precariedade de tudo, mas com um tesouro no céu, com a vinda do Senhor como uma esperança presente. “E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier e bater, logo possam abrir-lhe” (Lc 12:36). Essas palavras indicam claramente o chamado para estar constantemente aguardando por Ele.

No total, o objetivo é inconfundível se estivermos andando no Espírito. Agora levamos o título de “celestiais” (1 Co 15:48-49), e esperamos, fundamentados na mais segura autoridade, que isso se concretize até mesmo em nosso corpo em Sua vinda. Enquanto isso, cuidemos viver, servir, andar e adorar de forma consistente com nossa fé e nossa esperança. Nada menos que isso é o Cristianismo do Novo Testamento, agora que conhecemos muitas das coisas que os discípulos não podiam suportar, até que tivessem redenção por meio do Seu sangue e do dom do Espírito. Quando o Espírito veio d’Ele do alto, Ele não deixou de guiá-los a toda a verdade.

W. Kelly (adaptado)

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