Origem: Revista O Cristão – Tesouros
Tesouro em Vasos de Barro
Quando nos voltamos para 2 Coríntios 4, encontramos três coisas em conexão com “este ministério”. Elas estão no sétimo versículo. Ali lemos que “temos esse tesouro”, que está em “vasos de barro”, e há o que é chamado de “a excelência do poder”, ou, mais precisamente: “a supremacia [superioridade – JND] do poder”. Essas são três coisas maravilhosas que devemos ter diante de nossos pensamentos.
“Esse tesouro”, o que é isso? Não é tanto a estimativa que meu coração forma de Cristo quanto o valor que Deus encontrou n’Ele. Certamente, o Senhor Jesus Cristo deve ser um Tesouro para o Seu povo, mas aqui o Tesouro, que claramente é Cristo, é apresentado mais no sentido de como é visto por Deus. Cristo é Seu Tesouro. Como esse tesouro foi posto no vaso? Lemos: “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Co 4:6). Não é que eu tenha tomado posse, por mim mesmo, do tesouro; trata-se da graça soberana de Deus, tanto em Seus propósitos quanto em Suas ações. No princípio, “Disse Deus: Haja luz. E houve luz” (Gn 1:3). Assim aconteceu também espiritualmente em nosso coração: Deus, em Sua maneira soberana de lidar com as coisas, que ordenou que das trevas a luz brilhasse, é o Deus que brilhou em nosso coração. É o próprio Deus que brilha no coração de um homem, em todo o Seu poder abençoador e iluminador, pois é a “iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Co 4:6).
Uma luz do céu
Vemos isso em Saulo de Tarso, no caminho para Damasco, um perseguidor com nada além de ódio por Cristo. Ele de repente viu “uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol”, e o Salvador em glória foi revelado em sua alma. Ele é, portanto, o exemplo vivo da maneira como esse tesouro bendito é depositado na alma de um homem. Toda a glória de Deus é assim expressa.
Não podemos entender nada sobre a glória de Deus a menos que a vejamos na face de Jesus Cristo, e é na presença dessa glória que nossa consciência é tratada. Se realmente vemos toda a glória de Deus resplandecendo na face de Jesus Cristo, não podemos deixar de ser desafiados nas profundezas de nossa consciência. Então somos convencidos, e a primeira expressão de nosso coração na presença dessa glória deve ser: “Eu me abomino”. E, no entanto, isso leva à confiança, pois a glória vista na face de Jesus Cristo é a glória de Deus na redenção.
Osvasos de barro
Em seguida, lemos que “temos, porém, esse tesouro em vasos de barro”. Nas coisas naturais, quando o homem tem algo valioso, ele geralmente o envolve em algo que é (pelo menos na aparência) também valioso. O baú é tão bonito quanto a joia, mas Deus não faz assim. Ele pega o Seu tesouro, o mais caro, o mais valioso e precioso para Ele, e o coloca no mais desprezível vaso que você poderia imaginar – um pobre e frágil vaso de barro.
Mas Ele tem um propósito nisso; dá a Ele a oportunidade de fazer duas coisas. Em primeiro lugar, o deleite d’Ele é fazer com que o tesouro seja tudo, e, em segundo lugar, Ele se agrada em revelar a supremacia do poder. Não existe apenas a glória suprema do tesouro, mas o poder supremo com o qual Ele opera no vaso – o vaso quebrado em pedaços. De fato, o vaso não vale nada até que seja quebrado em pedaços, mas por trás desse pobre vaso há um poder supremo. Todo o poder de Deus vai junto com o pobre vaso, no qual Ele coloca esse tesouro. Mas não temos apenas que aceitar os quebrantamentos que Deus traz sobre nós; além disso, devemos guardar a sentença da cruz, a morte de Cristo, que nos deu liberdade da condenação a que estávamos expostos – devemos manter essa morte sobre nós mesmos. Deus quebra o vaso, mas também devemos manter a sentença de morte sobre ele, “para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4:7).
Assim, primeiro temos o vaso de barro, exatamente o que você e eu somos; segundo, um tesouro colocado nele de glória suprema; e terceiro, um poder supremo que está por trás disso. Esse poder está sempre trabalhando em companhia do nada e da fraqueza, além de uma completa negação da carne e do mundo. Caso contrário, não podemos ter poder; não há brilho de Cristo, a menos que o vaso seja inteiramente como argila nas mãos do oleiro.
Oexército de Gideão
A imagem aludida aqui é, sem dúvida, do exército de Gideão. Eles colocaram a luz no cântaro, mas a luz não brilhou até que o cântaro foi quebrado. E sem dúvida o Espírito de Deus alude a esse fato aqui. Você tem o brilho da glória, e você tem o poder supremo que é capaz de brilhar. As duas coisas sempre andam juntas.
Quão pouca afeição existe em nosso coração para entrarmos no propósito de Deus; que, em um mundo que rejeitou Seu Filho, houvesse aqueles que deveriam ser a manifestação d’Aquele que o mundo rejeitou, mas que Deus glorificou. Nosso coração desejam isso? Será que podemos Lhe dizer: Eu tenho apenas um desejo, que eu seja sobre a Terra um vaso em que a exibição da glória do Teu Filho, o Senhor Jesus Cristo, seja encontrada em todas as circunstâncias aqui? Deus se deleita em nos ajudar, e teremos o conforto de estar em comunhão com Seu pensamento. É a mais maravilhosa graça de Sua parte nos levar a tal lugar para que possamos ter uma mente semelhante a d’Ele, e nos capacitar por meio de tal poder supremo.
O poder supremo
Suponha que eu veja alguém se afastando de tudo neste mundo, que não procure nada nele, nem tire nada do mundo. Eu diria: “Que poder supremo é exibido nesse homem!” Se vejo uma criatura pobre e débil deitada em um leito por causa de uma doença, atormentada pela dor, que, em vez de reclamar, demonstra descanso e tranquilidade com a bendita manifestação de Cristo em mansidão e perseverança, digo: “Que poder de superação existe aí!” Não há uma circunstância na vida – seja doença ou saúde, dor ou sua ausência, prosperidade ou perda, provação ou facilidade – para muitas pessoas, não há uma única coisa para quem está satisfeito em ser argila nas mãos do poder supremo. E mais do que isso, é nessas mesmas circunstâncias que Cristo é mais querido para nós, pois somente Ele nos é suficiente para tudo. Além disso, é onde estamos, não onde gostaríamos, que Deus deseja que Seu Filho seja visto em nós.
Esse é o testemunho que realmente falta neste momento. Podemos falar de doutrinas e ter clareza sobre elas, mas talvez haja poucas doutrinas praticadas e pouca graça correspondente vista nos proponentes delas. Oh, pela manifestação da verdade em amor – aquela exibição de Cristo que é capaz de calar quem O rejeita e recomendar-se à consciência dos homens! E, portanto, diz o Espírito Santo: “Assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (v. 2). Os homens seriam forçados a dizer: Embora eu não goste dessas pessoas por serem tão estreitas, ainda assim, ao mesmo tempo, minha consciência é obrigada a dar este testemunho de que eles procuram agradar a Deus. Essa é a manifestação real do poder supremo. Que nosso coração valorize mais do que nunca esse abençoado ministério, caracterizado como é pelas glórias que tivemos diante de nós!