Origem: Revista O Cristão – Tesouros

Tesouros Escondidos

Há algo que nos atrai nos atos de esconder e encontrar tesouros; muitos são cativados por esse fascínio. Esse conceito não é desconhecido por Deus, tanto que Ele escondeu tesouros para nós encontrarmos. “A glória de Deus é encobrir o negócio, mas a glória dos reis é tudo investigar” (Pv 25:2). “Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me” (Mt 19:21).

Nos dias de Jeremias, quando o reino de Judá se encontrava em estado de decadência, havia dez homens que usaram tesouros escondidos em seus campos para preservar a vida deles da morte por aqueles que eram gananciosos de poder e riquezas. Esses dez tinham tesouros escondidos em seus campos – talvez para mantê-los longe da ameaça iminente de Nabucodonosor. Seja como for, quando Ismael matou Gedalias e esteve a ponto de matar também esses dez por se submeterem aos babilônios, eles disseram: “Não nos mates a nós; porque temos no campo tesouros escondidos, trigo, e cevada, e azeite, e mel. E ele, por isso, os deixou e não os matou, como a seus irmãos” (Jr 41:8). Esses homens foram prudentes em fazer provisão visando o julgamento de Judá que tinha sido pronunciado por Jeremias. Eles aceitaram o fato de que naquele momento Deus não levantaria um rei que os libertaria de Nabucodonosor, o rei gentio. Eles ocultaram suas riquezas do julgamento iminente de Deus sobre a nação de Israel, pois Deus tomaria o governo da terra de Israel e o daria aos gentios. É improvável que suspeitassem que alguns de sua própria nação os cobiçassem com avidez, mas, mesmo assim, os tesouros levaram à preservação da vida deles.

O reino dos céus 

Voltando agora ao tempo em que o Senhor Jesus veio restabelecer o reino em Israel, descobrimos como Ele foi rejeitado pelo Seu próprio povo. Isso O levou a revelar outra parte do reino de Deus. Em Mateus encontramos 10 parábolas que falam das semelhanças do “reino dos céus”. Elas nos dão uma visão de como o Senhor, enquanto está no céu, está formando um reino durante o tempo presente. Esse reino é distinto do que foi prometido a Israel no Velho Testamento, que sabemos que será estabelecido quando o Senhor vier para reinar em justiça. Os primeiros discípulos não entenderam isso até depois que o Senhor retornou ao céu.

A seguinte citação de William Kelly explica como os primeiros discípulos entenderam a transição de sua esperança do reino terrenal para o celestial:

“A esperança de Israel era o reino em poder quando o Messias reinaria, e todas as classes de pessoas estavam familiarizadas com isso. Assim, com o Messias na Pessoa de Jesus, finalmente e realmente na Terra, o aparecimento do reino de Deus foi visto da maneira mais próxima possível. Para corrigir esse erro, o Senhor contou a parábola das “libras” (Lc 19:11). No entanto, o quão profundamente gravado esse pensamento estava no coração dos judeus é evidenciado pela pergunta que Lhe foi dirigida pelos discípulos em seus últimos momentos com Ele na Terra (At 1:6-9). José de Arimateia, que sepultou o Senhor, aguardava o reino de Deus, e os dois discípulos em sua jornada a Emaús confiaram ao estranho (como pensavam!) as acalentadas esperanças de seus corações, agora arremessadas ao chão por Sua morte (Lc 23:51; Lc 24:21). Sua resposta confirmou que suas esperanças estavam corretas e reviveu as antecipações das futuras bênçãos da nação. “Porventura não importa que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória?” Sua morte, então, por mais estarrecedora e objeto de tropeço que fosse para Seus discípulos, não impediria o cumprimento das profecias registradas na Escritura, pois, como ensinou Paulo à multidão reunida na sinagoga de Antioquia, na Pisídia, as misericórdias de Davi seriam asseguradas por meio do Rei que reinasse em ressurreição (At 13:34).

Tudo isso, no entanto, ainda é futuro, embora o reino exista na Terra agora. O que então caracterizaria a época em que essa condição anômala de coisas deveria durar – o reino existente sem que o poder do rei estivesse em todos os lugares realmente confessado? Os profetas não nos dizem nada sobre isso, portanto o Senhor deu essas parábolas, chamadas de as semelhanças do reino, para explicar essa época – são elas que suprem o elo que faltava nessa corrente. Encontradas em Mateus 13, 18, 20, 22 e 25, elas aparecem somente depois que Sua rejeição pela nação foi inequivocamente declarada. “Por isso”, disse o Senhor, “todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”. “Coisas velhas”, porque ele pode falar do que os profetas previram; “novas”, porque ele pode ensinar o que o Senhor revelou”.

W. Kelly (adaptado)

Os parágrafos a seguir relatam como o reino dos céus envolve “tesouros escondidos” que podem ser encontrados, e como eles se aplicam a nós. É iminente o tempo em que o Senhor fará a transição da formação de Seu reino celestial para a formação do Seu reino terrenal. Devemos ser servos fiéis e prudentes, aguardando a Sua vinda, ou seja, discernindo o tempo (Veja Mateus 24:45-51).

O joio e o trigo(Mateus 13:24-30, 36-43) 

A primeira semelhança do reino dos céus diz respeito à semeadura e colheita do trigo no campo. O semeador semeia a boa semente, mas o inimigo semeia joio. O objetivo do inimigo é atrapalhar e destruir, mas Deus permite que o joio esconda o verdadeiro tesouro – o trigo. Há um processo de separação no final dos tempos que reunirá o trigo no celeiro e queimará o joio. O trigo representa os filhos do reino, enquanto o joio diz respeito aos falsos professos. O Senhor enfatiza a importância de entender essa parábola em Marcos 4:13 quando diz: “Não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas?” É necessário entender esta primeira das dez parábolas para viver e trabalhar de maneira inteligente. A parábola revela como Deus está reunindo um povo na Terra para o céu. Quando o Senhor vier e os santos forem arrebatados com Ele, o trigo será recolhido no celeiro e depois “os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça” (v. 43).

A semente de mostarda e o fermento(Mateus 13:31-33) 

As próximas duas parábolas apresentam como o reino dos céus se desenvolve nas mãos dos homens. A semente de mostarda, que é a menor das sementes, se torna uma grande árvore para os pássaros do ar. O objetivo e a utilidade do pé de mostarda não é tornar-se uma grande árvore, mas os homens transformaram a Cristandade em um grande sistema na Terra. A verdadeira grandeza do céu está escondida daqueles que fazem da Cristandade um sistema humano de vida terrena.

A mulher que esconde o fermento nas três medidas de farinha corrompe toda a massa até que se torne inútil. Isso mostra os males internos da Cristandade. Eles estão ocultos, mas corrompem todo o testemunho público. Mas, da atual ruína da Cristandade, o Senhor reunirá um povo purificado em Sua vinda.

O tesouro escondido no campo e a pérola(Mateus 13:44-46) 

A próxima parábola revela o que Deus vê escondido no campo. Ele ama e valoriza Seus santos. Eles são o tesouro que Ele vê, e, para obtê-lo sem que outros o saibam, Ele compra todo o campo (o mundo). Assim, em João 17:9, o Senhor ora por eles: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que Me deste, porque são Teus”.

A parábola da pérola que foi descoberta mostra como o valor da pérola era especialmente conhecido pelo comerciante, o que o motivou a vender tudo para obtê-la. Assim, “Cristo amou a Igreja e a Si mesmo se entregou por ela” (Ef 5:25).

As últimas parábolas 

Enquanto as primeiras parábolas tratam mais das coisas ocultas do reino dos céus, as últimas parábolas trazem diante de nós o que pode ser visto. Elas também falam do processo de separação no final da dispensação do reino dos céus. O que é de grande valor é separado do que é inútil. A rede lançada ao mar reúne peixes de todos os tipos, tanto bons quanto ruins. Portanto, a pregação do evangelho reúne meros professos da fé Cristã, bem como crentes verdadeiros. São os anjos que separam os bons dos maus no fim dos tempos.

A parábola do servo perdoado (Mt 18:23-35) é uma ilustração do uso e abuso daqueles que encontram perdão no reino dos céus. A parábola do chefe de família que contrata trabalhadores (Mt 20:1-16) tem a ver com a diferença entre obter coisas pelas “obras”, em contraste com receber a graça de Deus. No reino dos céus, tudo é por graça. A parábola do banquete de casamento do filho do rei (Mt 22:14) ilustra como, depois da nação de Israel ter rejeitado o convite de Deus, Ele enviou um convite incondicional a todos. Ele teria o céu cheio. A última parábola, das dez virgens (Mt 25:1-13), é uma descrição de como haverá uma separação entre os verdadeiros crentes e os meros professos quando o Senhor vier. Somente aqueles que têm óleo em suas lâmpadas irão para o casamento; os falsos professos serão deixados para juízo.

Descobrimos, então, que, como os dez homens em Judá esconderam tesouros em seus campos, o que preservou a vida deles, assim o Senhor tem um tesouro escondido no “reino dos céus”. Nós somos esse tesouro para Ele; quando “ouvimos e entendemos”, Ele se torna nosso Tesouro. As parábolas revelam o que está para acontecer quando o Senhor vier. Que Ele nos ajude a tomar posse de nossa verdadeira porção com Ele como participantes de Seu reino celestial. “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6:21).

D. C. Buchanan

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