Origem: Revista O Cristão – Deus tem falado?

Traduções para o Inglês Moderno

Ninguém sugeriria que a tradução é uma tarefa fácil. As línguas diferem consideravelmente na estrutura gramatical, vocabulário e expressões idiomáticas. A expressão “perdido na tradução” é frequentemente verdadeira! Já com a Bíblia existem complexidades adicionais. As línguas originais a serem traduzidas são antigas e diferem de suas versões modernas. Além disso, existem essas variações encontradas nos manuscritos originais. Embora na maioria dos casos a escolha de uma tradução deva ser objetiva, há momentos claros em que ela será subjetiva – e de fato deve ser. A crença de alguém (ou a falta dela) afetará a tradução, e quando se trata das Santas Escrituras isso é de grande importância. De fato, tornar a tradução da Bíblia um esforço humano e não espiritual é um erro grave.

Embora um pouco à nossa frente, vamos considerar um exemplo do que temos discutido a partir da Nova Versão Internacional (a NVI). A tradução para Hebreus 1:5 parece ser uma combinação de um desejo excessivamente zeloso de livrar o texto de palavras arcaicas e, na melhor das hipóteses, uma falta de entendimento da eterna filiação de Cristo. O texto em questão é uma citação do Salmo 2 e é traduzido: “Você é meu Filho; hoje eu me tornei seu Pai” (Hb 1:5 – NIV em Inglês). Nem o texto grego nem o hebraico do Salmo 2:7 contém qualquer pensamento de Deus Se tornando um Pai para o Filho. É simplesmente falso e sugere que o Filho não Se tornou Filho, de fato, até o Seu nascimento. Devemos notar, para que não haja confusão, que a segunda parte desse mesmo verso diz: “Eu Lhe serei por Pai, e Ele Me será por Filho” (Hb 1:5). À primeira vista, isso pode parecer contradizer o que acaba de ser dito; Mas não contradiz. Aqui fala do cuidado do Pai pelo Filho em Sua Humanidade – Ele seria para Ele um Pai; mais uma vez, não quer dizer que Ele Se tornaria um Pai para Ele. Incidentalmente, a nota de rodapé da NIV que diz gerada que é correta.

Novos manuscritos 

Conforme o tempo passou, novos manuscritos foram descobertos e ajustes foram feitos no texto grego. Desejo, por um momento, que voltemos nossa atenção para o trabalho de Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort. A partir de 1853, eles trabalharam durante vinte e oito anos para produzir um Novo Testamento em grego que consistia no chamado Texto Crítico – e foi publicado em 1881. Eles não foram nem os primeiros nem os únicos homens que trabalharam nesse sentido. Enquanto o trabalho de Erasmo[1], e como resultado o Textus Receptus[2], pode ter sido indevidamente influenciado pelos textos bizantinos, o trabalho de Westcott e Hort era fortemente tendencioso em relação aos textos Alexandrinos[3] – especialmente o Codex Vaticanus (comumente identificado pela letra B) e o Codex Sinaiticus (identificado pela letra hebraica aleph, א). Enquanto o primeiro foi realizado pelo Vaticano desde o século XV, o último foi descoberto em 1844, e cativou a muitos, incluindo Westcott e Hort. Embora o Codex Sinaiticus seja a Bíblia completa mais antiga (data de 325 d.C.), a idade por si só não determina a superioridade de um texto. De fato, o Codex Sinaiticus contém inúmeras correções marginais.
[1] Teólogo do século XV; preparou uma versão grega do Novo Testamento – a base do Textus Receptus.
[2] O texto grego sobre o qual deriva grande parte da tradução King James.
[3] Alexandria, uma cidade egípcia no Mar Mediterrâneo.

Westcott e Hort 

Quanto aos próprios Westcott e Hort, há muito a nos preocupar quanto à sua fé Cristã. Em uma carta ao Arcebispo da Cantuária, Westcott escreveu, “ninguém agora, eu suponho, considera como válido que os três primeiros capítulos de Gênesis, por exemplo, nos dá uma história literal — nunca consegui entender como alguém pode lê-los com os olhos abertos e pudesse pensar que eles dariam […] — ainda assim eles revelam para nós um evangelho” [5].. Westcott via a história da criação como uma poesia e não como sendo literal. Já quanto a aparição do Senhor, Hort vê como sendo uma figura. Ele escreveu a respeito de 1 Pedro 1:7: “Não há nada nem nessa passagem ou em outras sobre o mesmo assunto, além da linguagem figurativa dos Tessalonicenses, que mostra que a revelação que aqui é dita deve ser limitada apenas a uma mera teofania[4] sobrenatural. Pode ser um processo longo e variante, mesmo que terminando em um clímax. Essencialmente, é simplesmente a remoção dos véus que escondem o Senhor invisível, por qualquer meio que eles sejam retirados”. Uma grande quantidade de material está disponível sobre esses homens; no entanto, ao pesquisar algumas das acusações mais comuns contra eles, é preciso reconhecer que, infelizmente, muitas citações são tiradas do contexto. Isso não significa que eu concordo com eles; suas declarações são geralmente envoltas em um intelectualismo que as torna abertas à interpretação e difíceis de serem representadas com precisão em poucas frases. Darby e Kelly, contemporâneos de Westcott e Hort, usaram uma linguagem muito mais moderada em comparação com os ataques violentos que são feitos agora contra eles. Infelizmente, nada é terrivelmente surpreendente quanto às opiniões expressas nas citações acima. É a expressão triste e sem vida do racionalismo e do liberalismo (eles parecem andar de mãos dadas), da qual o apóstolo Paulo advertiu Timóteo: “tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Tm 3:5). É com uma nota de cautela, portanto, que observamos que a influência desses dois homens sobre a tradução da Bíblia desde seu tempo tem sido considerável. O texto crítico que eles prepararam formou a base de muitas versões modernas do Novo Testamento.[6]
[4] A manifestação de Deus para um homem.
[5] F. J. A. Hort, Vida e Cartas de Hort, vol. II, pg. 69.
[6] F. J. A. Hort, A Primeira Epístola de São Pedro.

De maneira nenhuma eu desejo pintar Westcott e Hort como sendo os únicos responsáveis pelas questionáveis interpretações em nossas traduções modernas. Muitas traduções, incluindo a King James, foram realizadas por um comitê. A Nova Versão Internacional orgulha-se da ampla gama de denominações e nacionalidades envolvidas na tradução: “Anglicana, Assembleias de Deus, Batista, Irmãos, Cristã Reformada, Igreja de Cristo, Evangélica livre, Luterana, Menonita, Metodista, Nazareno, Igreja Presbiteriana, Wesleyana entre outras — contribuiram para salvaguardar a tradução de um viés sectário” [7]. Em vez de salvaguardar a verdade, essa diversidade tem todo o potencial para comprometer a verdade.
[7] Nova Versão Internacional, Prefácio.

Métodos de Tradução 

Antes de deixarmos este assunto sobre as traduções modernas, devemos abordar dois métodos alternativos de tradução. Estes são conhecidos pelos nomes eminentes de equivalência dinâmica e equivalência formal. Elas podem ser entendidas de maneira mais simples como traduções sentido-a-sentido e palavra-por-palavra. Claramente, nenhuma tradução legível é literalmente palavra-por-palavra; no entanto, como acreditamos na inspiração das próprias palavras, uma tradução fiel deve ser a mais próxima possível do literal. A King James, Darby, American Standard, Revised Standard e a English Standard são exemplos daquelas que usam diferentes graus da abordagem palavra-por-palavra. No outro extremo do espectro, no entanto, temos aquelas traduções que apenas tentam transmitir o sentido do texto original, isto é, uma tradução sentido-por-sentido. A Nova Versão Internacional e várias outras traduções modernas usam essa metodologia. Depois, há aquelas traduções que vão ainda mais longe; Estas são as versões parafraseadas. À medida que nos movemos da palavra-por-palavra para sentido-a-sentido e depois para parafraseando, a tradução torna-se cada vez mais subjetiva. Em algum momento, deixa de ser Escritura. Na melhor das hipóteses, pode ser visto como um comentário; no pior, uma corrupção da Palavra de Deus. O leitor é encorajado nos termos mais fortes a ficar longe delas.

Legibilidade versus Exatidão 

Em uma linha relacionada, melhorar a legibilidade através da modernização do inglês é um objetivo declarado de todas as traduções modernas. É verdade que o inglês da King James pode ser difícil para alguns. O uso de tu, ti, teu [thou, thee, thy and thine, em Inglês] com as suas formas verbais relacionadas, e até mesmo o uso do vós [you, ye, em Inglês] é estranho para muitos leitores modernos. Aliás, essas palavras não foram usadas na versão King James para torná-la mais reverente. Elas foram usadas porque o original hebraico e grego usavam esses pronomes e formas verbais. Thou [Tu] é o pronome de segunda pessoa singular na fala familiar, enquanto You [Vós] é a segunda pessoa do plural. Thou [Tu] corresponde aos franceses tu e os espanhóis . As outras formas de thou – thee, thy e thine – seguem o mesmo padrão me, my e mine [meu/minha]. Quando o Senhor Se dirige a Pedro e diz: “When thou art converted, strengthen thy brethren” (Lc 22:32) [“quando te converteres, confirma teus irmãos”] é no singular que Ele está falando. Imediatamente antes disso, porém, o Senhor disse: “eis que Satanás vos pediu” (v. 31) [“Satan hath desired to have you” – KJV); isto é plural; o Senhor estava falando com todos os Seus discípulos e não apenas com Pedro. F. F. Bruce observa que a Versão Padrão Revisada “obscureceu algumas das distinções mais sutis no texto do Novo Testamento que, embora sejam de pouca importância para o leitor geral, têm algum significado para aqueles que estão preocupados com a interpretação mais precisa do texto[8]. Sem dúvida, essa não foi uma referência específica ao abandono das formas arcaicas de segunda pessoa do singular; no entanto, a observação permanece verdadeira. Apesar da referência ao leitor geral, não importa quem somos (e talvez mais ainda, quando não temos conhecimento da língua original), temos todos os motivos para nos preocupar com a exatidão do texto.
[8] F. F. Bruce, A Bíblia em Inglês: Uma História das Traduções, p. 193.

Embora os pronomes não fossem termos de reverência nos dias do Rei James, eles acabaram se tornando isso. Ao modernizar a linguagem das Escrituras, tornou-se mais familiar em estilo, e pode-se acrescentar que isso nada fez para conter a onda de irreverência tão característica dos dias atuais. “Também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação e vituperam as autoridades” (Jd 8).

A tradução de Darby 

É bastante notável que, enquanto a Igreja estabelecida estava trabalhando em uma revisão da King James, encontramos, em silencioso anonimato, John Nelson Darby trabalhando em uma tradução do Novo Testamento. Ela foi publicada pela primeira vez em 1867, com edições revisadas em 1872 e 1884. A Bíblia completa foi publicada postumamente em 1890. Nunca foi a intenção de Darby substituir a King James. Seu desejo era fornecer um recurso ao estudante da Escritura. Em seu prefácio, ele dá sua justificativa para sua tradução. “Eu usei toda a ajuda que pude, mas a tradução, de nenhuma maneira, é emprestada de alguém; é minha própria tradução, mas usei todos os testes para garantir sua exatidão. Creio que a Escritura é a inspirada Palavra de Deus, recebida por meio do Espírito Santo e comunicada em Seu poder, graças a Deus, por meio de homens mortais: o que é divina feito inteiramente humana, como o bendito Senhor a Quem ela revela, embora nunca deixe de ser divina. E este é o seu valor indescritível: completamente e inteiramente divina, “palavras que o Espírito Santo ensina”, mas perfeitamente e divinamente adaptadas ao homem como sendo pelo homem. Meu esforço foi apresentar ao leitor inglês o original o mais próximo possível. Aqueles que fazem uma versão para uso público devem, naturalmente, adaptar seu curso ao público. Tal não foi meu objeto ou pensamento, mas dar ao estudante da Escritura, que não pode ler o original, uma tradução tão próxima quanto possível”[9]. Quanto à Tradução de Darby, F. F. Bruce faz esta observação: “No Novo Testamento, especialmente, ela é baseado em uma sólida avaliação crítica das evidências, e foi consultado pelo grupo que preparou o Novo Testamento Revisto de 1881”[10].
[9] J. N. Darby, Prefácio revisado para a segunda edição do Novo Testamento.
[10] F. F. Bruce, A Bíblia em Inglês: Uma História das Traduções, p. 132.

Testes de fidelidade 

Se, como o prefácio da Versão Padrão Revisada [Revised Standard Version] declara, a versão King James do Novo Testamento foi baseada em um texto grego que foi marcado por erros, contendo os erros acumulados de catorze séculos de cópia manuscrita, como poderíamos nós confiar nela? Em primeiro lugar, uma tradução que permaneceu praticamente a única por 300 anos, para a grande bênção do mundo de fala inglesa, fala por si. Em segundo lugar, a tradução King James não coloca em dúvida nenhuma posição doutrinal – nem o nascimento virginal, a divindade de Cristo, Sua morte, a ressurreição – não, nada! Isso não pode ser dito de algumas revisões modernas. O perigo maior, parece-me, é o uso de uma tradução moderna com suas interpretações duvidosas. Parece como se cada comitê dos tempos modernos tivesse tropeçado num caminho ou noutro na tentativa de se chegar ao grego original ou apresentá-lo no inglês moderno. Isso não quer dizer que toda tradução moderna seja por natureza má ou que não ofereçam benefícios ao estudante da Bíblia. No entanto, elas devem ser usadas com sabedoria e com um entendimento quanto à sua origem e caráter. Eu preferiria confiar na tradução de Darby, pois sei onde o tradutor estava sobre questões de doutrina, do que confiar em um comitê formado por evangélicos, anglicanos, católicos, ortodoxos, unitaristas, judeus – crentes e não crentes.

N. Simon – The Holy Scriptures (adaptado)

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